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Ama, Trabalha, Espera, Perdoa!

Paulo, Abigail e os espíritas


Saulo!... Saulo!... por que me persegues?

O amoroso convite à reflexão feito por Jesus a Paulo, merece, da nossa parte, profundo e dedicado estudo. Realmente, por que perseguia ele a Jesus? De que forma as bondosas ações daquele povo do “caminho” transgrediam as normas farisaicas? Era certo que o Mestre não viera destruir a Lei, mas cumpri-la! Seria justo supliciá-los apenas por pensarem de modo diferente, já que mal não faziam a ninguém? A visão de Jesus fez despertar em Paulo, de forma dramática, a necessidade de perceber a si mesmo de forma mais profunda e entender que o zelo ardente com que defendia de forma intransigente a Lei de Moisés mostrava o homem resoluto, fiel e incorruptível, que detestava o pecado, mas, paradoxalmente, o havia desumanizado a ponto de não hesitar em tirar a vida de quem só contribuía para a Vida fazendo o bem. Converter-se ao amor de Jesus fez Paulo sentir no coração que encontrara o caminho que leva verdadeiramente a Deus. Mas embora maravilhoso, era um caminho de lutas desconhecidas, de dúvidas e grandes esforços. Paulo enfrentava a natural dificuldade de quem forja o caminho da verdade e se encontrava desolado. Perseguido pelos fariseus, tratado com desconfiança pelos novos amigos do “caminho”, a quem antes perseguira, busca o lar paterno sedento de paz e acolhimento, mas de lá é expulso por causa da sincera fidelidade a Jesus. E na caverna onde se refugiara para descansar, emancipa-se do corpo cansado para perceber Estêvão e Abigail, que surgem para animá-lo. Maravilhado, ouve a Abigail que o encoraja, dizendo que a luta apenas começava.

Mas que fazer para adquirir a compreensão perfeita dos desígnios do Cristo? - pergunta ele à noiva espiritual. Ama! – responde-lhe ela.

Como cristãos precisamos aprender a buscar o estado de espírito que nos leve a obter a melhor compreensão possível do que queira Jesus de nós. O amor é o alimento do Espírito. Nossa grande dificuldade é nos vermos incapazes de amar nas situações em que reagimos tão mal impressionados com a conduta alheia, se tão incapazes nos sentimos de vibrar amorosamente em benefício daqueles que erram contra nós. Nesse caso, recorramos ao que já aprendemos do Mestre querido, considerando a disposição de jamais ferir quem nos agrida, de jamais pensarmos em represália e jamais nos regozijarmos com o sofrimento de quem erra! E quando recorrermos à prece, desejando sinceramente aprender a amar, seremos iluminados pelo grande amor que vem do Cristo, diretamente para o nosso coração.

Mas como fazer para que a alma alcançasse tão elevada expressão de esforço, com Jesus Cristo? Trabalha! – sorriu-lhe ela com bondade.

Hábito de antigos caminhos religiosos, rico em exterioridades, quando julgávamos suficiente o comparecimento ao local de culto para cumprimento das fórmulas, hoje já temos plenas condições de compreender que sem o trabalho do corpo em benefício do próximo, não há o salário do Espírito. Se já entendemos o amor como o sentimento primordial, que não nos falte vive-lo nas ações. Como seres encarnados, vivemos no plano da ação e se não concretizamos em ações o que aprendemos, é como se para pouco ou nada tenhamos encarnado. É unicamente por meio do trabalho ativo que alcançaremos aquela elevada expressão de esforço, realizando, com Jesus, a parte que nos cabe, na obra da vida.

E que providências adotar contra o desânimo destruidor? – quer entender Paulo. Espera! – responde docemente Abigail

Esperar é aguardar com esperança. A esperança é filha da fé. Se nossos estados de alma doentios se expressam no desânimo, nos de saúde espiritual percebemos que não faz sentido não ter esperança. Se temos noção do nosso glorioso destino e queremos crescer, não tenhamos dúvidas de que só cresceremos se e quando acreditarmos possível. Diferentemente do que muitos podem pensar, a esperança pode ser estimulada, mas não pode ser dada. Ela precisa nascer de iniciativa própria, para fazer acordar algo que dormita em nós: um desconhecido potencial realizador, uma força que suporta os piores e mais difíceis revezes e a autoconfiança imprescindível para sairmos vitoriosos nas realizações programadas para as nossas existências.

Como conciliar as grandiosas lições do Evangelho com a indiferença dos homens? – aproveita para saber. Perdoa! – diz ela, acenando em despedida.

O perdão só é possível quando há humildade e caridade. E não é possível compreender as grandiosas lições do Evangelho quando há má vontade em examinar mais a fundo questões que contrariem um modo de ser que prefere continuar ímpio e orgulhoso. Na verdade, as questões não são examinadas porque o exame pode evidenciar a necessidade de mudar e mudar exige sacrifício, altruísmo, reconhecimento de erros e a coragem de se autoconhecer. Não podemos obrigar ninguém a se interessar pelo que valorizamos. Ninguém convence ninguém de nada, pois o convencimento sempre depende da aquiescência pessoal. Mudanças só ocorrem de dentro para fora e não de fora para dentro. Nossa relação com as pessoas indiferentes é sempre pelo exemplo. Não o exemplo ansioso, que cobra reações positivas à sua ação, mas o exemplo fraterno, benevolente e piedoso, que compreende e espera. Também nós, no passado, fomos indiferentes ao amor e à verdade e por isso muito erramos, mas temos sidos sempre perdoados pela misericórdia do Criador. A uns, já cabe viver pelo exemplo; de outros, a Vida aguarda a hora de mudar. Aprendemos, do exemplo de Paulo de Tarso, que a falta de autoconhecimento ou o descaso em cultivá-lo, muitas vezes sustenta um viver baseado em impulsos egóicos que nos impedem de enxergar as verdadeiras Leis da Vida. Guardada a justa relatividade, caso nos demoremos teimosamente iludidos pelo orgulho e pelo egoísmo, todos esperemos, por nossa vez, situações que nos façam despertar e nos convidem a mudanças de rumo, tendo a certeza de que Jesus espera paciente e amorosamente por esses nossos momentos de despertamento.

Naquela época, muito de nós ainda estávamos despreparados para o exemplo de Paulo. Talvez até estivéssemos entre aqueles que se acotovelavam nas arquibancadas dos circos romanos, ou catando pedras, naqueles lamentáveis episódios de lapidação. Hoje, como Movimento Espírita, nossos modelos para referência são justamente aqueles primeiros cristãos que, detestados por romanos e fariseus, souberam nos legar os melhores exemplos de fidelidade a Jesus.

Já convertidos à expressão cristã, eventualmente vivemos dúvidas correspondentes às de Paulo, mas sempre podemos e devemos nos valer do lema de Abigail para, finalmente, por nossa vez, vivermos a condição de autênticos cristãos. Na caverna do nosso íntimo, criaturas que muito nos amam também fazem ecoar a inspiração que nos alerta contra o desamor, a inação, a desesperança e a impiedade.

Costumamos considerar a grande importância que os conselhos de Abigail tiveram na obra de Paulo. Mas o seu lema, graças à forma como foi vivido por esse grande herói do Evangelho, se espalhou pelo mundo cristão, rompeu as fronteiras do tempo e chega aos nossos dias, devendo viver no exemplo de todos aqueles que lhe entenderam a essência.

Nossa eterna gratidão aos generosos corações de Emmanuel e Chico.


Celso Andreoni; julho de 2022

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