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Elisa na Ilha do Sol - Capítulo 13

Ímpetos ao Erro

Uma vez estabelecida e consolidada uma decisão, abre-se um espaço na Ilha para sua cátedra. É um novo Pilar, que mais tarde pode se tornar num Portal. Constituído o Portal, exige-se a presença de quem o erigiu porque oferecerá espaços sempre maiores até que os limites sejam colocados. Esses limites podem trazer provas para continuar a extensão ou vales onde se cai por tempo indeterminado. Esta informação não é assimilada pelas crianças, razão porque muitas crianças caem nos vales. Geralmente quando um novo Portal é criado, induz o seu criador a uma visita constante, muitas vezes esquecendo-se de outros como mais robustez. O novo sempre atrai. Isso é bom, mas requer sensatez. Muitas vezes o novo realimenta, noutras vezes prende a ele na proposta do Vir-a-ser, sem nunca chegar. Toda vez que nos depararmos com o novo precisamos checar suas essências. Isso é das constantes da sabedoria.

Houve um momento em que Elisa criou um Portal. Deu a ele o nome de Diamantes Floridos – unindo robustez e beleza. Estava certa de que seria assim e nada a demovia de observar para fortalece-lo. Criou-o com muita avidez. Colocou muitas estruturas que costumam ser chamadas de emoções. As emoções tem a qualidade ímpar de levar a cada um a proposta. Quando a emoção passa a ser a proposta, pode não ser bom, complicando muito as vidas. Elisa trabalhou aquele portal com a potência das emoções e elas, por sua vez, mais compensava os esforços da menina, oferecendo mais emoções. E Elisa foi envolvida por aquele Portal sem perceber que ele se dilatava rapidamente. Enquanto houver espaço, mais as coisas dilatam na Ilha e depois de se estabelecerem gigantes, falam como gigantes. Eis aí um viés do estudo do bem ou do mal.

Portal do Diamante Florido! À primeira vista parece diferente. Depois, passível de análises. Diamantes são pedras brutas onde as flores não nascem. Por que haveria flores nos diamantes que necessitam ser lapidados? Somente aí, as flores se encaixam. De tal maneira que o nome era pomposo, a essência passível de acuradas observações. Mas, crianças costumam fazer assim, dar nomes às coisas. Nomes são símbolos e símbolos falam muito mais que os nomes. Tudo é simbólico: a palavra, o gesto, o olhar, o caminhar... Enquanto não se sabe dos símbolos brinca-se com eles como se brinca com as labaredas dos fogos. O fogo nos atrai pela sua força e voluptuosidade. Porém, costuma destruir. Brincar com fogo é próprio de meninos e meninas em seus sonhos primaveris.

Depois de um tempo Elisa teve que rever o seu Portal do Diamante Florido. Sons, ruídos estranhos e odores fétidos começavam a perturbar sua vida. Isso não coadunava com os propósitos ali estabelecidos por ela. O que estaria acontecendo? E, no final de um dia, quando as trevas chegaram, escondida dentro de si, percebeu que foi lançada para aquele Portal que a prendeu. Foram experiências muito tristes para Elisa. Ela percebeu que havia dado força a um gigante perigoso e incontrolável. E tudo começou num daqueles momentos em que muitas crianças reunidas aproveitaram seus parcos conhecimentos e a estimularam a entrar forte criando aquele Portal. Portal das ilusões. Elisa tornou-se inseto quando já deveria ser maior. Um pouco maior.

E tudo aconteceu quando aceitou ser marca da sensualidade. Sexualidade é própria da alma. Sensualidade é próprio de sensações das almas que ainda não se firmaram. Ser bela e elegante num corpo transitório é apenas questão de segundos na contagem do infinito. Pensar o infinito não é para qualquer Elisa. Tem que ser para aquelas que já buscam conquistar sua Ilha. Podemos então classificar em Elisa e pequena Elisa. E esta contribuiu para que o Portal se estendesse até às margens dos vales, onde caiu por um tempo e chorou e sofreu e amargou cada escândalo vivido em nome da liberdade sem teias.

Elisa pequena sentiu nas entranhas o desfalecimento das honras. E, quando isso acontece, perde-se o cavalgar elegante e a elegância se transforma em desatino. Transforma-se igualmente em estranhezas tidas como normais, porque a visão se encurta e o caleidoscópio invade o ser, transtornando-o, torturando-o. Seus embalos fazem crianças brincar com o perigo. Elisa pequena brincou com o perigo em seu Portal do Diamante Florido. No Portal um ser asqueroso era o líder que ditava ordens. Insaciável, queria mais e mais frequências que o alimentava, agigantando-o cada vez mais. Dominando mais, exigindo mais. Elisa pequena se viu presa a ele e o atendia para evitar seus açoites. E só deu conta quando os espinhos começaram a doer e as flores murcharem e o diamante derreter em carvão, longe do valor do diamante. Aí, não era mais um Portal e sim vale dos desesperos que a tragou.

Os ímpetos ao erro nos tornam cegos e impotentes ante os avisos celestes. Estes soam como vozes longínquas, apenas ruídos inconsistentes quase inaudíveis. Quanto mais se erra, mais distantes ficamos dos seus acordes salvadores. Os ímpetos não são bons nem maus, depende do impetuoso. Daí e de novo, a necessidade do autoconhecimento, badalado desde épocas remotas. Não foi fácil para Elisa, limpar e destruir aquele Portal das Ilusões, como ela o definiu mais tarde. Contudo, ainda ficaram resquícios que somente o tempo poderá resolver. Tudo aquilo foi forjado no fogo, não o de Agni que purifica e sim no do dragão que mata.

Um dia caminhava pela Ilha quando se lembrou de ir ao local onde outrora erigiu aquele Portal de ignomínias. Em lá chegando viu uma região quase desértica onde as plantas faziam enorme esforço para crescer. Em solos assim são precisos muitos drenos com a água da luz que vem de cima. Água da Terra é insuficiente, não possui a essência de todas as coisas. Elisa necessitava buscar aquela água superior, mas, para tanto, era preciso superar-se. Enquanto isso aquele local ainda seria motivo de tristes lembranças, daquelas que roem e corroem quando não se tem ainda a sabedoria de resolvê-las. Por isso que devemos cuidar das nossas lembranças futuras.

Conseguiu domar o gigante, mas ele estava apenas adormecido e, se acordasse, poderia perturbar sua Ilha. Pois, gigantes longamente adormecidos, se retornarem, podem quebrar a harmonia. Só há um jeito de domar gigantes asquerosos: transformando-os em anões da concórdia até se agigantarem novamente e, agora, em propulsores do bem. Este trabalho é de todos, pois todos, de alguma forma, criam seus gigantes atormentadores.

As piores lembranças de Elisa daqueles idos era a dá propulsão incontrolável a mais buscar aquelas baixas frequências. Acreditava que, quanto mais as buscasse, mais satisfatória seria sua vida e, quanto mais a buscava, menos feliz e realizada se sentia. Este é o móvel da ilusão. Impõe a crença da altivez enquanto apenas perambula e, enquanto perambula, acha-se completo, mesmo que curvado e distante do belo. O belo se distancia devagar e o iludido não percebe este distanciamento. E jura ser belo, enquanto distorce a paisagem, apenas isso.

Elisa teve que refazer ponto a ponto aquele Portal e muito se lamentou. Jogar-se nas ondas perigosas pode ser uma grande aventura. O difícil é reestabelecer-se depois. No princípio vai pela infância, depois só com a maturidade se resolve. A maturidade é severa e não aceita impetuosidades infantis e sim ímpetos propulsores das sólidas edificações. Elisa pensava tudo isso enquanto caminhava pelo terreno semi árido do antigo Portal dos Diamantes Floridos.

– Melhor não o ter construído. Pensava

Uma nuvem passou. Na Ilha as nuvens falam e ela disse:

– Lamentos não resolvem. Ações são necessárias.

Foi aí que Elisa percebeu que as arrumações definitivas daquele Portal só seriam possíveis muito distante daquela época e com a determinação e o conhecimento imperioso. Os conhecimentos imperiosos só nos chegam quando adentramos a Ilha e buscamos dela tomar posse. Assim, enquanto não se entra na Ilha, é bom que se cuide para não ter que ficar por longas eras, arrumando o que infantilmente construiu. Elisa entendeu a lição e, já naquela época, tratou de dar peias e regras à sua impetuosidade ao erro. Existir não se trata apenas de sobreviver. É preciso algo mais e Elisa começava a descobrir o que é, ali na Ilha do Sol. Por isso, muito embora pós adolescente, estava só começando!

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