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Elisa na Ilha do Sol - Capítulo 16

Elisa e os Monumentos

Um dia a menina moça olhou-se no espelho e de repente sua imagem foi modificando, modificando e ela se viu monumentos presos a vias públicas para a apreciação geral. E eram de várias formas, posições, entalhes, enfeites e encantamentos. Foi aí que Elisa se descobriu monumento popular, impróprio para ela. Sentiu vergonha de si, enaltecida quando ainda era criança travessa e hostil.

– Que dirão de mim? Pensou.

Há uma coisa que a Ilha revela a seus habitantes:

Não se torne estátua para ninguém!

Estátuas são geladas e tão incrementes quanto as ações vertiginosas da natureza. Faça sol ou chuva e elas lá estão exigindo contemplações. São paradas. O movimento é a apoteose da vida, enquanto que elas representam a idoneidade do inapto. A menina moça teve vontade de sair em todas as praças e destruir aquelas estátuas erguidas em seu louvor, no tempo das fraudes ou da infância perdida. Somente crianças gostam de ser estátuas!

– Posso destruir todas essas estátuas. Pensou.

– Mas, como? Perguntou-se.

Severo, o guardião do Portal das Virtudes, surgiu-lhe.

– Vamos. Disse

E lá se foram demandando tal Portal.

Somente as virtudes derrubam as posturas inábeis, vencidas e estruturadas em bases de desejos vãos. E, por falar neles, como visitam as casas das crianças! Insinuam-se de várias maneiras e envolvem os meninos e meninas em suas sutilezas. A primeira coisa que fazem é iludi-los que são machos, femeas, imagens poderosas! Depois ensinam um b + a tosco e celebra-os como doutos e doutas inquestionáveis. Incita-os a buscar a moeda para com ela ter e não ser. Quem amontoa moedas tem e dificilmente é. A moeda é o seu padrão de representação. Ele é o boneco ou boneca de manipulação. Sua estátua de representação é dourada e causa inveja em todos. E todos tem inveja e a inveja alheia, a princípio o alimenta e depois o escraviza.

Enquanto caminhava, a moça Elisa ouvia e refletia sobre tudo isso. Severo a fazia recordar das lições que tivera com o Sábio Justino, antes de se mudar em definitivo para a Ilha do Sol. O Sábio Justino era velho deste mundo e novo nos mundos além. Para prosseguir viagem deveria ensinar o que sabia sem a recompensa pequena do chão deste planeta. A recompensa maior era seu acesso a outras verdades e purezas. A menina moça estava muito pensativa e os monumentos a atormentavam um pouco.

– Somente após vencidas as causas das tormentas o Ser penetra além, no eterno presente. Enquanto isso, permanece preso ao tempo e seus ciclos. Disse Severo, que caminhava ao seu lado, esguio e decisivo.

Chegaram ao Portal das Virtudes. Após preparar-se, vestindo a túnica nupcial preconizada pelo Mestre Maior, a menina pode adentrar. Caminhou por entre feixes de luzes. Uns maiores, outros menores, mas, eram luzes.

– Com a luz não se brinca. Alertou Severo.

Havia um facho muito grande e ele se transformou numa enorme bola dourada e Elisa se aproximou dele e sentiu que poderia derrubar os monumentos. Estava potencializada para tal e enormemente motivada. Na Ilha, as motivações para as necessárias transformações, também são virtudes. Aproximou-se da bola que se transformou num disco que tinha um núcleo. Elisa caminhou sobre o disco até chegar ao núcleo. Ao aproximar-se sentiu que suas energias multiplicaram ou triplicaram, talvez. E teve vontade de voar e voou célere por todo o disco e enquanto voava, mais forte ficava.

– Agora basta. Disse Severo.

Elisa saiu do disco que se tornou bola e depois facho de luz.

– Venha. Convidou Severo.

A menina moça caminhou até o vale dos monumentos. Lá estavam todos eles. Um muito a envergonhou. Estava nua, como uma deusa das perdições. Seu corpo animal encantava outros corpos animais e ela se transformava cada vez mais em corpo animal exigindo sensações pequenas, daquelas cujas frequências não saem do solo.

Depois era uma heroína das festas pequenas que não passavam das demonstrações burlescas dos haréns onde imaginários príncipes e princesas deleitam-se ao som de arpejos impuros, regados a bebidas, falas e risos estridentes. Elisa era o centro daquelas atenções e se fartava como besta do seu próprio apocalipse. Depois viu outra estátua. Agora, imponente caminhava feito rainha em direção ao seu trono de pedra e pó e desejava romper laços e tradições, porque era muito forte e poderosa. Depois, noutra estátua, se viu pensativa em busca de melhores ardis para destruir. E mais outras e mais outras estátuas surgiam e Elisa ficou penalizada de si mesma.

– Estes monumentos são suas lembranças. Imagens gravadas que precisam ser removidas. Disse Severo de forma muito severa.

– Como fazer?

– A força está em você. Somente você pode destruí-los porque somente você os construiu. A força para construí-las está retida em você aguardando sua decisão de pulverizar estes monumentos infantis.

– Não tenho um machado ou uma bomba de dinamite. Falou Elisa, com muita vontade de se livrar de tudo aquilo.

– Como fui infantil e arruaceira! Lamentou Elisa.

– Crianças não gostam muito de ficar em casa. Disse Severo olhando Elisa um pouco penalizado.

– Não necessita machado ou bombas. Apenas medite seriamente e busque destruir cada um desses monumentos, sem ferir-se. E, a cada um destruído substitua-o por algo que liberte.

Elisa estava potencializada pela virtude do querer e saiu em busca das suas estátuas.

– Qual a mais perigosa?

– Todas. Disse Severo.

Havia uma escondida. Era disforme e não dizia quem era e qual tempo representava. Vou começar por essa. Era muito sólida de tal forma que quando Elisa dela se aproximou, sentiu-se fraca, muito fraca e quase perdeu todas as suas forças adquiridas anteriormente. Seus braços caíram ao redor do corpo e sua respiração começou a falhar.

– -Não Elisa. Essa não!

– Por quê? Achei que fosse a mais fácil!

– Es o sólido núcleo que sustenta todos os monumentos. Será o último a ser destruído. Os outros monumentos são raios vertiginosos deste núcleo. Elimine primeiro as representações e depois a essência. Assim, conseguirá enfraquece-lo. Todo núcleo tem seus raios de representações. Quando o núcleo é do bem, são as virtudes. Quando é do mal, são os vícios. Aqui na Ilha, não se pode ter improbidades. Livre-se, pois delas. Alertou Severo.

– Elisa jogou fora o machado e as bombas de dinamite. Eram instrumentos perigosos naquele local de arrumações e não de destruições infantis como fazia antes.

– Esses monumentos perturbam, sem incomodar. Daí o perigo! Refletiu Severo.

Sentiu que seu trabalho seria longo, penoso, árduo e teria que ser incansável. Quando se chaga na Ilha do Sol, nada do que foi antes pode permanecer. Até mesmo as virtudes necessitam ser renovadas e dinamizadas.

– Tudo é movimento Elisa. Tudo!

A menina moça lembrou-se de velho ditado:

Em Deus existimos. Em Deus nos movemos! Se tudo é Deus, tudo é renovação!

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