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Elisa na Ilha do Sol - Capítulo 4

Atualizado: 15 de out. de 2020

Buscando Entender

Os gorjeios dos pássaros convidaram Elisa a um local de onde provinha aquele amontoado de sons. Era uma enorme sala que ela identificou como sendo a sala da sua casa num tempo distante. Na Ilha as distâncias se encurtam e o tempo se alarga ou estreita de conformidade com o que se busca e se quer viver. Nem sempre é salutar saber-se do tempo e do local. Bom mesmo é deixar que as coisas fluam. A Ilha não se preocupa com essas coisas de tempo-espaço. É o protótipo do eterno presente. No eterno presente o trânsito e os trâmites não sofrem solução de continuidade. Isso é bom. Assim e para isso fomos criados. Elisa começava a entender essas notações. Tanto que se elevou acima do espaço-tempo e se viu apenas presente. Do alto e livre se distingue melhor as coisas e os acontecimentos.

Os pássaros convidaram Elisa a uma enorme torre que galgou não com os pés, mas sim pela vontade. Na Ilha, querer é poder. Estava agora acima do sol de fora e dos seus súditos planetários. Poderia ser uma lição de astronomia uma vez que distinguia ao longe muitas moradas que rolavam e cantavam no seu rolar uma sinfonia maviosa qual a sinfonia dos pássaros da sua Ilha. Tudo é canção! Tudo é entrelaçamento. Mas, daquele alto, Elisa necessitava olhar para a Ilha e as coisas de baixo para melhor entender o poder dos cumes.

Viu-se pequena libélula a voejar em busca da vida. Sonho distante e feliz. As libélulas são muito felizes porque não se prendem a lamaçais. Libélulas alimentam-se de muito pouco. Seus corpos necessitam fluidez, menos densidade e mais agilidades. Elisa percebeu que as libélulas podem ser o prenúncio dos anjos que voam livre, longe dos lamaçais e de corpos enevoados pela brandura. O que diferencia a libélula dos anjos é apenas o deslocar dentro do eterno presente e o expandir da espiral. A espiral é de todos, desde o átomo até o arcanjo. Elisa havia lido isso num livro exemplar.

Daí que percebeu que de todas as coisas lidas e apreendidas ali ganhavam a força da realidade ou da ilusão. É difícil distinguir uma da outra. A ilusão canta a melodia das danças pequenas, enquanto que a realidade convida a volteios altos e de plenitudes. Contudo, almas pequenas preferem danças sensuais e pequenas, daquelas que enaltecem o que vai perecer. Elisa viu o real e o ilusório. Quantas promessas, quantas quimeras, quantos copos de cristais tilintando ao som das algazarras. Dos encontros casuais onde se lança e se prende qual insetos em teias de aranhas venenosas. Elas picam. Dói. Elisa já não queria mais a dor. Viu o caminhar da ovelha perdida que ia ao encontro do lobo voraz acreditando ser ele um pastor! Viu leões urrarem para perder a soberania para outro leão que urrava mais alto e viu sua prole destruída e sua morte chegar. Viu as serpentes sorrateiras buscando sua manutenção e viu os trigos serem infestados pelos joios. As mariposas buscarem a luz da luz em simples lampejos de uma claridade aparente e serem pegas e destroçadas em suas purezas. Viu os anjos guiando alguns e os dragões guiando grandes quantidades. Enquanto os anjos seguiam silenciosos os dragões cuspiam fogos para amedrontar e possuir. E muitos preferiam os dragões!

Naquele eterno presente a menina começou descobrir a essência das coisas. O real ainda é de pouca valia para crianças. O ilusório, contudo, fala alto, muito alto. Sonhar é melhor que ser. Ser significa entender a própria dimensão ainda pequena. Sonhar agiganta o sonhador e o eleva acima do Criador. E ele vive a ilusão de ser Deus, contudo, Deus de um pequeno mundo, tão pequeno que o Pequeno Príncipe era maior que ele. Somente do alto se vê essas coisas. Cá em baixo tudo é um vazio cheio de coisas que se alternam e alteram vidas, não consolidando-as. Não justificando. E, tudo deve ser justificado para ganhar o título de nobreza.

Os pássaros continuavam a cantar e Elisa se via livre das pressões do baixo estar e não ser. Seu coração clamava pelo conforto das coisas reais. Por mais difícil que seja, o entendimento da verdade denota que o querer ser grande começa a acontecer. Na Ilha do Sol ninguém pode viver sem a verdade e os sonhos precisam ter a base do que é verdadeiro. Só assim a consciência perpassa os campos além.

Num momento triste Elisa se viu um touro enfurecido querendo dizimar uma vila. Do alto ela tremeu. O touro cego e obscuro corria em direção a todos e com seus chifres enormes tentava cravar naquelas pessoas que acreditavam nele. O touro era senhor de grandes territórios e trazia ainda as ferocidades dos tigres de pequenos territórios. De forma que o touro, ora era touro, ora era tigre. Ora era amigo, ora gigante destruidor. E aquele touro-tigre era a própria Elisa, agora olhando de cima e se lamentando pelo ocorrido. Tempos depois o touro foi pego pela inteligência maior a abatido feito touro comum e seus restos jogados no vale onde os abutres dilaceraram seu corpo gigante. Os gigantes maldosos escrevem para si esses tristes fins. Bom que Elisa conseguiu agora ser do alto.

Depois noutro espaço-temo Elisa era uma simples florista, triste e sem amor, a espalhar o perfume das rosas para zombeteiros perigosos que não desejavam só as flores da sua cesta. Era o momento perigoso, mas era preciso acalmar o tigre. O boi a conduzia para outros locais e a criança conseguia safar-se de mais uma investida da serpente tenaz que não respeitava sua vontade de ser apenas florista. No caminho a criança Elisa encontrou boa senhora que a acolheu e ensinou a fazer doces de mel. A florista se viu agora vendedora de doces de mel. Era procurada pelas crianças, safando-se das serpentes. Doces de mel adocicam e flores quase sempre enfeitam quem as porta. Por isso as flores possuem espinhos para se proteger e proteger quem as cuida. É melhor ser picado pelos espinhos das flores do que pelos espinhos dos gigantes da imoralidade. A menina moça chorou do alto do seu grande presente.

Entender a vida dando-lhe bons direcionamentos é obra de quem sai definitivamente das ilusões. As ilusões são atraentes, vivazes, coloridas e ritmadas, contudo, são apenas ilusões. Chega para todos o tempo de encontrar o portal de saída delas. Ainda assim, no portal, falsas fadas madrinhas surgem e oferecem céus e mundos e muitos retornam ao núcleo das ilusões. Uma pena! Quando Elisa se aproximou daquele Portal de Saída, pensou seriamente no seu Criador que a queria livre e Nele encontrou forças. Potencializou-se, respirou fundo e venceu a fada madrinha que se transformou em um Minotauro. Somente ali, Elisa descobriu os Minotauros lendários que se transformam em Centauros, numa magia que encanta e prende. E quase todos vaguem entre essas figuras mitológicas e se arvoram nelas. E se prende em labirintos.

Elisa havia vencido, por isso ganhou a Ilha do Sol. Agora era o tempo de tomar posse dela porque tudo tem suas expressões e encaminhamentos que em baixo se traduz por ciclos. Mas, os ciclos conduzem as criaturas que ainda necessitam de cocheiros. Assim é e será até o momento sincero de ser. Uma escolha pessoal. Um ato de verdade para si. Elisa começava a entender tudo isso. Ser Elisa e ser da Ilha do Sol!

Era preciso retornar e os pássaros, suavemente conduziram a menina-moça até o chão da Ilha. As lições daquele instante foram profundas e mexeram com suas bases. Era preciso refletir. Elisa começou a caminhar, escolhendo o caminho das rosas, talvez lembrando sua história de florista agora que estava protegida pela sua escolha. Enquanto caminhava as rosas faziam reverências. O Concerto Divino se curva ante a Divina Dama que passa, superior, em busca do seu núcleo.

Havia um encanto num canto. Era um cantar superior daqueles que emergem do interior das essências em busca do transeunte ideal. Naquele canto o desencanto se vai e surge a melodia da plenitude. É preciso ter atitude sincera e firme. Confirme essa atitude e ensine a si mesmo como caminhar sem deixar marcas escuras que manipula o mal que qual torrente sem freios consome o bem de quem o tem em pouca valia. A vida é um eterno buscar e entender e querer superar. Somente assim se é válido existir e coexistir com a bendita orla que molda o todo que a todos envolve. Os sons são bons, ou nos grudam em suas grutas escuras que juramos moradas! O ser que ali se aninha faz como a menininha que se lambuza de tanto comer. Seu querer é apenas a gordura que a ilude de grande, enquanto é gigante que bate e fere e merece a dor como recompensa. Elisa pensava e entendia e saia pra sempre da fase antiga através desta cantiga que ela bem soletrou e guardou no fundo de si. Elisa começava a entender.

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1 則留言


guaracisilveira
2020年10月16日

Olavo Rabello: Não entendi bem essa parte. Pode elucidar melhor? "No eterno presente o trânsito e os trâmites não sofrem solução de continuidade."


Desde que o homem chega à consciência ele está no espaço-tempo. Este local é regido por ciclos e são vários. Dia e noite, reencarne e desencarne, fases da lua, precessão dos equinócios, ciclos da terra, das estações, do crescimento físico, etc onde tudo tem um tempo determinado e por isso existem as mudanças cíclicas. Entende-se por eterno presente a saída do espaço tempo onde não existem interrupções cíclicas e a vida flui sem os módulos de tempo como verificamos no espaço-tempo. Ou seja: não há interrupções, ou soluções de continuidade, que significa interrupções cíclicas de um momento…


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