NAQUELE DIA
Elisa acordou diferente. Seus olhos ainda nublados pelo despertar lento não lhe permitiam uma visão mais ampla da sua nova morada. Havia se mudado para uma ilha onde o sol banhava de ponta a ponta seus vales, planícies, planaltos e encostas. Havia também um belo rio e uma montanha às vezes verdejante, às vezes gelada. Numa região mais ao nordeste tinha também um deserto. Antigo mar havia deixado de existir naquele local e renascido em outra área. Era um mar com pequenas ilhas dentro daquela ilha que Elisa havia herdado do seu Pai. Não é que ele havia morrido. Simplesmente existia em outras dimensões inacessíveis a ela, mas estava sempre presente em sua vida.
Elisa tinha a missão de descobrir aquela ilha e explorar suas riquezas. Disseram-lhe que ali existiam tesouros insondáveis e que somente ela poderia descobri-los. Eram valores ainda não vistos pelo mundo. Elisa tinha, assim, uma ilha só para ela. Ilha ensolarada, bela e misteriosa. Havia, ao fundo, uma caverna com seus monstros, dragões mitológicos e uma animal muito estranho que Elisa deveria descobrir e dar um nome. A menina-moça teria muito trabalho e sua vida haveria de se modificar para sempre.
Criada com muito esmero, teve uma infância alegre e feliz ao lado de pessoas que muito a amavam. Gostava de olhar a linha do horizonte naquelas tardes primaveris onde os pássaros voam em direção aos seus ninhos e migrações. Elisa os acompanhava com um olhar perscrutador. Queria saber onde iam, como dormiam, como viviam. Voar era seu sonho. Um dia juntou umas ramagens e fez uma asa e rogou ao deus dos pássaros que a fizesse também voar. Porém, entendeu que seu lugar ainda era o chão firme onde deveria pisar com cuidado e certezas.
– Aves voam. Humanos caminham – pensou.
Havia muitos fiordes naquela ilha do sol. As águas do oceano batiam com força e abriam mais espaços entre as rochas. O som era majestoso se bem que um tanto amedrontador. Dava para ouvir a uma distância de dois quilômetros. Elisa sentiu medo daquele lugar, mas, estranhamente, gostava de estar ali e ver a fúria das águas, aparentemente sutis e frágeis em sua composição molecular. Era um enigma. Elisa fez uma concha com as mãos e pegou um pouco daquela água e viu que escoava entre seus dedos, obedecendo cegamente as leis que a preside.
– Por que era assim? Perguntou-se. No íntimo de si ouviu uma resposta:
– Cuida de perguntar e descobrir. Assim crescerá.
Isso tudo aconteceu dias antes quando Elisa chegou à sua ilha. Agora já a havia conhecido bem superficialmente. Naquela manhã acordou disposta a saber mais, explorando com muita acuidade cada centímetro daquele lugar novo. Seu desjejum foi deito em meio às árvores que rodeavam sua casa. Acostumada com pães, queijos, iogurtes, bananas, aveia, leite e chocolate, às vezes café, sentiu vontades diferentes. Haviam muitas frutas e uma em especial que Elisa a chamou de Tinamar. É desconhecida da maioria dos homens e só se encontram em ilhas como aquela. Suculenta e saborosa é também muito nutritiva e uma só delas faz o que toda uma mesa lauta do café da manhã não consegue realizar.
Elisa saciou-se rapidamente e, montada em um cavalo branco parecido com o Pégasus da mitologia grega, voou em direção a um ponto, marco zero, das suas descobertas. Uma serpente aproximou-se dela. Hipnotizou-a com seu olhar profundo. Elisa ficou estática olhando aquele réptil e, de repente sentiu que todo o seu corpo ganhou força estranha e teve vontade de caminhar pela sua ilha, como um viajante que chega de longe a um local desconhecido em busca de abrigo ou trabalho. A serpente, cumprida sua missão, se embrenhou pelo mato virgem, deixando Elisa pensativa:
– Por que ela não me atacou?
Mais à frente encontrou uma lagarta que trabalhava incansavelmente em busca do seu alimento. O alimento estava próximo, mas a menina moça sentou vontade de vê-la se esforçar, Se trouxesse a ela aquele alimento próximo, certamente a lagarta não aprenderia a grande lição da estratégia para saciar-se. Viu também uma hiena que, com seus dentes afiados, desejava impor-se como rainha da ilha. E viu muitas árvores, muitas folhas, muitas raízes, muitos cipós e frutas. Viu muitas flores e elas modificavam de forma e cor quando Elisa delas se aproximava. E era um encanto para seus olhos de pós adolescente. Bastava aproximar-se que o amarelo se transformava em verde ou azul ou violeta ou vermelho. Ou ainda numa cor indefinida para o sensório humano.
A menina caminhava e, já distante, ouviu doce canção.
– De onde vem? Perguntou-se.
Era, porém cedo para descobrir. Lá no alto da montanha parecia haver uma conferência dos deuses. Elisa os viu e eles discutiam algo com muito ardor e não davam importância ao seu olhar distante e curioso. Dinar, o cavalo Pégaso de Elisa relinchou como a convidá-la a conhecer novas coisas. E havia uma sereia, aliás, muitas sereias. Elisa as observou e, elas continuaram a confabular e olhar para as águas que as acolhiam. Dinar correu feito um raio estacando-se próximo a uma gruta. Era muito grande a gruta e Elisa entrou nela sentindo uma paz indefinida. Queria permanecer ali para sempre. Casa nenhuma possui o que aquela gruta tem. Leve brisa convidou Elisa a se retirar. Ali, a brisa fala por meio de ações que acolhem ou despedem o visitante. Um enigma para a menina.
Dinar se foi e Elisa percebeu que era hora de caminhar sozinha. Havia uma grande pedra de onde se via as águas límpidas do Rio Azul. Elisa assentou-se nela e pôs-se a observar o tudo naquele todo diferente.
– Onde estou? Perguntou-se.
No céu surgiu um símbolo. Era uma coroa feita de nuvens de corolação rosa, da cor da sua predileção. Elisa pensou-se criança quando gostava de coroar a Santa Mãe de Jesus, no altar que construiu no pomar da sua antiga vivenda. Bela lembrança cheia de doçura da inocência. Sempre cantava uma canção de louvor à Senhora, e ali, sentiu o desejo de fazer o mesmo e, enquanto cantarolava, a coroa feito de nuvens dançava lindamente nos céus, numa evolução rítmica e jovial. Elisa sentiu-se coroada. Sentiu-se plena dentro do que podia sentir-se. A plenitude tem o tamanho das nossas dimensões e escolhas.
A menina conheceu muitos locais estranhos com manifestações desconcertantes que fugiam ao comum. Ela não estava num lugar comum. Precisava entender isso. O comum se vai quando a pessoa se sente só, numa ilha que é só sua. Dinar havia sumido. Parecia ser seu único meio de transporte além do seu próprio caminhar. Havia também um parque de pedras preciosas que Elisa descobriu por acaso. Eram muitas pedras que, no mercado comum, valeriam fortunas e tornaria o homem rico de ilusões. Ali valiam a fortuna de adornar o campo com seus prismas que foram talhados cuidadosamente pela Mãe de Elisa, a natureza, que ela chamou de Concerto Divino.
– Aproxime-se. Cada qual tem uma história e uma canção.
E eram tantas. Multicores, multiformes, belas, exóticas...
– Quanto mais explorar, tanto mais surgirão.
Elisa ouvia a voz que surgia de algum lugar daquela ilha. A ilha conversava com Elisa. Tomou de uma de cor esverdeada.
– Chamo-me Sirene. Disse-lhe a pedra.
– Quanto tempo tem? Perguntou Elisa
– Um minuto.
– Um minuto somente?
– Sim, pois somente agora me descobriu!
– Mas, eu a vi ali...
– Era apenas promessa e agora que me tocou, sou realidade.
– E que pode fazer?
– Depende de você. Posso ser apenas adorno como posso ser força.
Elisa precisava pensar. Aquela Ilha iria transformar para sempre suas convicções. Assim foi para sua vivenda e ali permaneceu o restante do tempo naquele dia. Quanta coisa teria a descobrir. Estava só começando!
PERGUNTA FEITA ATRAVÉS DO WHATSAPP: Em um dos comentários, em resposta a uma pergunta, o senhor fala do Cristo Interior. Pode explicar melhor a significação do Cristo Interior? O que representa?
RESPOSTA GUARACI SILVEIRA:
O cristo interno é a centelha divina que somos e está em estado de evolução, desenvolvendo seus potenciais. Jesus já desenvolveu o cristo interno, por isso é hoje um cristo. Chegaremos lá também. Cada dia avançamos um pouco, daí a necessidade de tirarmos dos nossos caminhos os espinhos que insistimos em colocar. O cristo interno representa o eu sou. O eu profundo, o eu em expansão.
PERGUNTA FEITA POR WHATSAPP: Qual o simbolismo de Dinar, o cavalo branco de Elisa? O que ele representa?
RESPOSTA GUARACI DE LIMA SILVEIRA:
O pensamento livre de coisas negativas. Quando chegamos a este ponto aumentamos nossas capacidades de percepções de tudo que nos rodeia.
Oi Mariane, a Ilha é o local do Cristo interno de cada um. Após milênios de aprendizados o Espírito sente necessidade de explorar sua Ilha e descobrir seu Cristo interno. A partir deste momento sua evolução passa a ser consciente. Sua dedicação é única e exclusiva em encontrar os caminhos que o leve de retorno ao Pai, seu Criador. Começam então os desenvolvimentos da ética e da moral num estágio superior. Elisa, representando a Psique de todos os indivíduos e vai explorar suas potencialidades latentes, resolvendo definitivamente o passado e descobrindo-se como criatura, um Projeto Divino.
A história já me parece encantadora, estou mto animada para os próximos capítulos.
Tive uma dúvida...o fato de Elisa estar sozinha nessa ilha guarda alguma relação com o nosso próprio processo de autoconhecimento e reforma íntima? Como se fosse uma metáfora de que precisamos descobrir o nosso próprio caminho olhando para dentro de nós?
Perguntas encaminhadas ao GRESG através do Whatzapp:
1. A lagarta significa transformação? É o caminho em direção a uma mudança ou transformação pessoal?
R. Dentro da Infinidade de formas de evoluir, a lagarta representa o anseio de crescer, deixando o solo, muitas vezes úmido e escuro, para as planuras onde pode encontrar outras frequências. Contudo, ela mostra que este trabalho é persistente e cauteloso e que necessita ser feito por ela mesma, sem saltos ou ajudas externas, apenas com sua conexão com a divindade que a sustenta e encaminha através dos instintos, raios de virtudes que vão se abrindo gradativamente até se tornar razão pela inteligência. Naquele momento o inconsciente de Elisa que trazia aquela leitura antiga dentro do seu…