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Elisa na Ilha do Sol - Capítulo 17

A Faxina Diária


Quando se decide habitar a Ilha do Sol tudo deve ser pensado e repensado. Comumente em seus tempos de infância, Elisa automatizava a vida, dando a cada coisa o justo tempo e valor em sua concepção infantil. Assim, os ursinhos ficavam aqui, as bonecas ali, os carrinhos acolá, isso, aquilo... E tudo se tornava elementos de decoração para sua casa de papel. E ela flutuava feito pena leve naqueles ambientes em tempos intermináveis, mudando apenas espaços e cenários, mas na prisão do espaço-tempo que agora. começava a entender. Tudo é questão de olhar e mudar. Uma pena que este conceito chega mais tarde quando muitas desarrumações já foram feitas.

Elisa pegou da vassoura. Varrer é deslocar o que está ocupando indevidamente um local. Costumam, essas coisas, apodrecerem e emitir odores fétidos sem que seu dono ou dona perceba. Há algo que nos encanta ou destrói: acostumamos com as coisas como elas são!

A decisão de varrer é muito sábia. Tudo deve estar em harmonia. Há pessoas que ironizam a harmonia achando que são manifestações das magias. Sim, a harmonia é mágica. Nela as coisas fluem de forma indescritível. Vejam o princípio das incertezas. Ele só acontece quando tudo está em estrema harmonia. Paradoxo? Não. Coisas do Continente! Os átomos são estruturas vivas dinamizadas pelo olhar de quem os observa e comanda. Assim, não devem ficar parados, pregados em locais onde tudo necessita ser mudado.

“Desperta, ó tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e o Cristo resplenderá sobre ti”

Aquele que dorme não se levanta para as fainas necessárias ao esplendor do Cristo. E é Ele quem comanda, tanto o mundo lá fora, quanto o mundo aqui dentro. Aquele dia Elisa teve que recorrer aos Textos Documentais. Houve um tempo muito grande no qual esteve envolvida com o sono. Às vezes sonhava, às vezes não. Era embalada pelos cantares de Orfeu e se julgava plena em paraísos perdidos próximos do reino de Hera. De vez em quando visitava as profundezas e se entorpecia dos fungos, fumaças e pregos ali presentes, queimando-se em chamas que nunca acabam e sendo apalpada por tridentes. Às vezes ela gostava. O masoquismo existe para quem dorme sonos profundos.

– É bom ser dilacerado. Dizem aqueles dos status nus.

Em bom tempo, Elisa acordou e viu que se iludira. Seu corpo picado pelos répteis venenosos exigia reparos e cuidados. O difícil é se cuidar quando o tempo passado foi de agressões a si mesmo. Ela se viu, assim, menina incipiente na arte de viver, achando-se mestra nela. O consolo é que muitas Elisas também pensam e agem assim.

Como no texto testamentário é necessário despertar para que o Cristo de dentro resplandeça na sua Ilha. Elisa pensou que era preciso faxinar. E, por onde começar? Gastou muitas experiências. Ora limpava, ora sujava de novo. Ora sorria, ora chorava e se foi de pendão a pendão buscar o seu rumo. Havia sujeira guardada de todos os continentes, arquipélagos e ilhas duras.

– Eita! Que vida demorada! Pensou a menina moça.

– O suficiente para despertar e seguir. Falou a Divina Dama que andava escondida e desejosa de ficar.

Nos textos documentários existem várias placas sinalizando a estrada. O problema é saber interpretá-las para seguir com equilíbrio. Não se entende aqueles ditos e escritos apenas pela bandeira da religião. Necessitamos da Ciência e da Filosofia. Filosofia remonta a um tempo muito antigo que todos julgam estar no tempo grego. Enganam-se. Filosofando as criaturas primevas deixaram seus aposentos escuros e fétidos do sílex e foram em busca das claridades e do ar puro. Então, Filosofia é tão antigo quanto o tempo do fogo a ser descoberto. A bem da verdade, filosofar é aprimorar o córtex pré frontal, muito novo nas pessoas e pouco conhecido, daí tantas confusões!

E, foi pensando no Cristo que Elisa filosofou e tratou cientificamente de descobrir as sujidades e religiosamente exterminá-las, num complexo extraordinário de poderes que ela mesma se assustou por possuí-los. É assim mesmo: nem sempre se sabe do que tem e do que é capaz. É como ter uma faca na mão. É preciso saber manuseá-la a favor dos cortes realmente necessários e eles devem ser precisos sob pena de sangrias desnecessárias e impróprias.

– Ah esse Criador que brinda suas criaturas com o máximo de poder, aguardando que elas saibam utilizá-los!

Para começar a infância basta. Para prosseguir é necessário faxinar as bagunças infantis, reparando os aposentos para as luzes que virão. Somente assim, elas surgirão. Elisa tinha esta certeza. Por isso deu-se a faxinar. E gastou dias e noites. Há faxinas diurnas e noturnas, pois que os pós foram alocados na alternância daqueles tempos e só se detectam onde estão, na luz ou nas trevas. Pois que há coisas que são da luz e outras das trevas e não pensem que é exagero. As trevas existem para se refletir sobre a luz. Haverá um tempo em que não mais se necessitará das trevas, então o segundo sol aparecerá e apenas o dia acontecerá.

– Ah! Isso é coisa para depois. Pensou Elisa.

E, naquela noite ela tratou de retirar os sujos ingratos guardados à noite onde se pensa que ninguém vê. Quanto aos sujos mais escondidos tratou de tirar durante o dia, porque eles correm da claridade e se escondem em locais de difíceis acessos, dando a impressão de limpeza.

Talvez tenham gastos muitos milênios nesta faxina, mas Elisa não poderia desistir. Naquela Ilha nada ficava escondido e o que estivesse sob a cama chegaria aos telhados para serem vistos por todos. Elisa leu esta informação num dos escritos testamentários e foi dito pelo sublime Mestre. Elisa agora, tratava de aprender com Ele. Foi por Ele que chegou à Ilha e jurou-Lhe fidelidade. Somente a fidelidade a Ele nos tira da infância.

Passadas algunas mil horas Elisa percebeu que um cômodo do seu imenso aposento estava faxinado. Agora necessitava passar o produto da probidade para consolidar a faxina. A probidade é um conceito novo no reino da criançada. Quase ninguém se interessa por ele. Dizem que é muito exigente, temperamental e ranzinza.

Engraçado que conceituamos os outros com o padrão do que somos!

– É o famoso espelho do ego. Falou alguém. Talvez um pássaro ou Dinar, o seu cavalo de estimação. Dinar andava muito ocupado servindo Elisa. Cada dia era mais rápido e mais vasculhador das lonjuras. Quando ia muito longe, retornava correndo com medo de perder Elisa ou Elisa perder-se dele.

Noutro verso do testamento Elisa encontrou que se buscar acha, se bater abre, se pedir recebe.

– E agora? As crianças batem, e pedem às portas que se lhes abrem as coisas mais desbaratadas. E, se não recebem o que pediram, fazem birras, juras vinganças, ficam com ódios, magoadas e... Uma série de coisas infantis que Elisa não queria recordar do seu próprio passado.

Então é preciso ser sábio no buscar e no pedir, uma vez que a porta vai se abrir. É preciso, antes, fazer uma grande faxina senão os sujos de dentro pedirão os sujos de fora e a coisa vai fincando ruim e suja.

– Por isso é necessário, a seu tempo, deixar a infância. Falou-lhe a mãe – Divino Concerto.

– Quando se deixa a infância? Perguntou Elisa

– Quando tudo da infância passa a ser enfadonho.

Elisa sentiu que aquela resposta foi o motivo pelo qual quis sair da sua infância. Estava tudo muito chato, repetitivo e enfadonho, sem perspectivas ou felicidade.

De novo pegou a vassoura e passou ao ambiente seguinte. Uma vez na faxina não se pode desistir até que tudo esteja muito limpo!

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