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Elisa na Ilha do Sol - Capítulo 2

Mundos e Cenários

Um vasto campo foi descoberto por Elisa. Situava-se numa região costeira, quase banhado pelas águas do mar. Águas mansas num tempo e tormentosas no outro. Os ventos naquela Ilha se alternavam, de acordo com a frequência de Elisa. Sua frequência era, então, decisiva, assim como de todos que moram em cidades. A produção dos ventos obedece a diretrizes e comandos superiores. A Ilha não era de mistérios. O Pai de Elisa jamais criaria algo assim, misterioso. Tudo ali existia para ser descoberto e pesquisado.

Quando Elisa entrou na Ilha, no portal de entrada, havia um letreiro que dizia:

TOME POSSE DO QUE É SEU EXAMINANDO-O PONTO A PONTO E LIGANDO ESTES PONTOS COM SABEDORIA E AMOR.

A partir de então este seria o fundamento básico da sua vida. A princípio ela quase desistiu, porém com o passar das horas entendeu que recebia sua herança e precisava dela para seguir adiante. Agora, passadas algumas horas e algumas descobertas, via-se naquela região estranha para conceitos de crianças. Não fosse estar na Ilha do Sol, dir-se-ia ser uma região mágica. Porém a magia encanta olhos e sentidos que não sabem discernir. A magia se estabelece onde se estabelece a infância virginal. Assim, não era um espaço mágico. Era um campo!

Um homem meio gente, meio vento trabalhava arduamente e parece não ter percebido a chegada da menina-moça. Cuidava de algo que Elisa não conseguia ver e que ocupava toda a sua atenção. Ela se deteve e ficou por um bom tempo observando seus gestos e volteios, flutuações e aterrisagens. Ele voava e caminhava no ar. Se fosse uma criança, começaria a rir colocando as mãos entre os lábios – como fazem as crianças perante o desconhecido. Ela, contudo, só observava.

Surgiu, então um lindo palácio. Não era de cristal nem de ouro. Era um palácio que Elisa jamais tinha visto na vida. Aquela pessoa trabalhava incessantemente no aprimoramento do mesmo. E, a cada comando, surgiam novas pilastras, jardins, balaustradas, vegetação ornamental, lago com peixes que saltavam ao som de uma música que Elisa conseguiu produzir. Era tudo muito belo. E, como aquela figura não lhe dava a mínima atenção, Elisa resolveu aproximar. Afinal, estava ele na sua Ilha!

– Quem é o senhor? Perguntou. O homem não respondeu e continuou sua Obra, agora cuidando dos jardins monumentais que ladeavam o palácio.

– Por favor, quem é o senhor e o que faz? Insistiu a menina em crescimento. De novo não obteve resposta alguma. Apenas os sons dos peixes mergulhando naquelas águas divinamente azuis. Elisa aproximou-se um tanto mais e observou as paredes do palácio. Não eram de tijolos maciços tanto que sua mão passou pela parede indo ter a uma substância aveludada, talvez uma decoração interna do palácio. Ela olhava o homem que não dava a mínima importância à sua presença ali. Elisa sentiu-se rejeitada por ele e atraída pelo palácio.

– Será que consigo entrar nele? Perguntou-se.

Ato pensado, ato feito. Passou pela parede com tamanha facilidade que quando se viu estava dentro de um imenso salão que a convidava a decorá-lo.

– O que colocarei aqui, ali... Pensava. Lembrou-se que em sua casa todas as coisas estavam no lugar. Quando se mudou para a Ilha, desfez-se de todas as inutilidades guardadas da infância. De maneira que não possuía nenhum móvel ou pintura ou cristais, taças, adornos, estatuárias, nada... E o salão era tão grande! Elisa sentou-se no meio exato do salão e começou a imaginar o que gostaria de colocar ali. Fechou seus olhos e foi pensando cada detalhe. Uma canção, vinda das paredes se fez ouvir e, pareciam serras, martelos, pregos, máquinas de moldar argilas, serrotes, pinceis, maçaricos, pás e tudo o mais que os construtores utilizam para construir e os artistas para adornar. Aqueles sons formaram uma sinfonia que enlevou Elisa e quanto mais se enlevava mais criava, numa sintonia perfeita com a sinfonia. E se viu construtora e se sentiu artesã e decoradora.

Depois de um tempo, abriu seus olhos e... surpresa! O salão estava decorado com tudo aquilo que havia imaginado. Magia!... Quis gritar. Mas, aquela frase no portal de entrada da Ilha a deteve, porque estava como lembrança bem próxima da sua consciência. Levantou-se e começou a caminhar naquele vasto salão, agora aprimorado por ela, dentro das suas criações de co-construtora. Elisa foi a outros cômodos do palácio e quanto mais caminhava por ele, mais ele se estendia e quanto mais imaginava coisas, mais coisas surgiam. Ao final de um tempo, tinha um palácio que nenhum rei da terra, possuiu em tempo algum.

– Tudo isso é meu! Pensou.

– Não Elisa. É tudo do seu Pai e que você tomou por um segundo.

– Não ficarei com ele para sempre?

– Não.

– Mas, eu ajudei a construir e está dentro da minha Ilha!

– Ah Elisa. Não se prenda a coisas pequenas.

– Pequenas? Como? É um palácio!

Num átimo o palácio transformou-se em estrelas, muitas estrelas, muitas galáxias, muitas formações de beleza estonteante e tudo cantava uma melodia e Elisa se viu dentro de tudo aquilo e se sentiu livre como uma pluma e quis ir, e quanto mais ia, mais dimensões se desdobravam numa cadência alucinante, permeada de luzes e cores que seu coração quase saltava do peito. Depois voltou e não havia mais o palácio. Estava só e nem o homem construtor do início fazia-se presente.

Ela se sentiu no meio do nada – marco zero do todo quando se deseja o todo. Ela se lembrou da canção que ouvira em sua viagem louca pelos caminhos das estrelas. Evocou-a e a canção não se fez de rogado. Agora Elisa estava no marco zero com sua canção favorita.

– É onde tudo começa. Murmurou uma cachoeira que surgiu bem ali, perto da menina-moça.

– Veja, sou formada de luzes – disse ainda a cachoeira.

Elisa se aproximou da cachoeira, tomou um tanto daquelas luzes que às vezes eram pontinhos, às vezes pequenas cordas que se agitavam, dançavam e voltavam a ser pontinhos.

– Pense Elisa. Constrói Elisa!

Ela se lembrou do bolo de chocolate dos seu aniversário de dez anos e, rapidamente os pontinhos e as cordas entoaram uma rapsódia e ali, bem aos seus olhos, o bolo surgiu. Elisa o provou e... Não era o bolo do seu aniversário. Era um divino bolo de divino sabor!

– Experimente algo novo Elisa!

A menina tomou de mais pontinhos e cordas e pensou num objeto nunca visto no mundo. E ele surgiu e, depois pensou em mais isto, aquilo e tudo surgia instantaneamente. Bem sabia que nada era assustador, e, sim, diferente e novo. Passou algo que disse:

– O novo surge cada vez que é invocado e, quando invocado, deve ser incorporado ou rejeitado antes que se apodere do seu criador. É preciso saber o que torna leve ou denso para incorporar ou rejeitar. Isso é coisa para meninas grandes!

Elisa ouviu e se curvou e voltou ao meio do nada – marco zero do início de tudo.

– Os mundos e os cenários são criações, palcos onde os atores vivem seus momentos, aprisionando-se ou soltando-se, de conformidade com seus pensares. Os cenários e os mundos se alternam na caminhada de cada um. Cada um o constrói, de modo que se for ativo e dinâmico, não se prende a eles, solta-se feito pluma. Já foi dito pelo Divino Construtor que “Tudo é possível àquele que crê”. Tudo é um vasto campo para criações e avanços. Elisa precisava acreditar em si.

E ela reviu seu passeio nas estrelas e pensou nos palácios pequeno, enfeitados pelas pobres mentes, que a eles se apegam e se destronam por eles.

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