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Elisa na Ilha do Sol - Capítulo 20

Chão de Estrelas


Voavam as estrelas naquele céu especial da Ilha do Sol. Elisa estava assentada numa cadeira diferente colocada na varanda da sala principal. Era preciso refletir. Não fazia muito tempo recebera a visita de um anjo estelar que a informou de novas mudanças em sua vida. Disse ele:

– Elisa, passaram-se os tempos das adaptações. Agora necessita buscar seu caminho. O que deseja fazer e onde pretende chegar e estar.

Essas palavras são, às vezes instigantes e outras vezes terríveis. Lembram aquelas ditas pelos pais quando seu bebê chega à adolescência. Os bebês adolescentes ainda teimam em ficar com bicos e mamadeiras e já os pais os convidam ao trabalho, ao estudo mais aprofundado, ao futuro que ainda está longe de chegar, na concepção deles. Elisa sentiu-se assim quando o anjo conversou com ela. Contudo, ele estava certo. Muito tempo se passou desde que ela chegou à Ilha. Agora chegava o tempo de crescer, de crescer para as estrelas.

Quando somos crianças olhamos para o céu na tentativa de apanhar uma estrela fugitiva para obriga-la a satisfazer nossos desejos. E até montamos canções românticas tentando convencê-las disso. Mas, espertas, as estrelas desaparecem como um raio e os sonhadores ficam apenas com a lembrança ou, quem sabe, a certeza de que seu pedido será atendido.

Essas coisas embalam os sonhos juvenis que desejam a felicidade. Nem que seja por pouco mais de oitenta anos. Elisa, contudo, teria agora um tempo sem condições de ser medido. Essa a razão de ter sido alertada. O anjo lhe disse:

– Duzentos e cinquenta milhões de anos é o tempo que o sistema solar leva para completar uma volta inteira em torno da ViaLáctea. Este será o seu próximo tempo.

Foi assustador para Elisa. Ainda bem que ele completou:

–Este tempo vivido fora do tempo terreno, passa bem mais rápido. Tão rápido que se adormecer, quando acordar só terá utilizado dele para dormir.

Não havia dúvidas de que Elisa já não poderia ser mais a menina moça de outros tempos. A Ilha conquistada foi apenas o começo de uma interminável jornada.

– E o que devo fazer? Interrogou a senhora Elisa.

– Comece pelo básico. Respondeu o anjo.

Elisa pensou no que poderia ser o básico. E teve uma surpresa quando um feixe de luz que veio das estrelas mais próximas passou trazendo uma antiga legenda:

CONHEÇA-TE A TI MESMO!

Isso era tão antigo que Elisa já sabia a milênios. Outro raio estelar passou e sussurrou:

– Agora os aforismos tem que se tornar realidade. Você penetrou a essência do tempo-espaço. Habita outra dimensão. Isso significa que não pode mais olhar e passar, ver e contemplar, é necessário saber e agir.

A senhora Elisa tinha uma tarefa enorme pela frente. Ficou também sabendo que no reino das estrelas todos os seus habitantes precisam saber quem são desde a essência íntima da sua criação pelo Pai. Cada um possui um código que começa a ser revelado quando se torna adulto espiritual, assim como Elisa. O problema é que tal código é um enigma que, perante àqueles existentes na Terra, assemelha-se a um portal gigantesco que conduz a gigantescas ramificações onde o buscador de si necessita vasculhar cada centímetro quadrado.

– Funciona assim - disse-lhe o anjo:

Cada realização depurada no bem estabelece um pontinho no código. De tal forma que seu código só pode ser entendido quando todas as ações estiveram limpas dos enganos cometidos pelo mal uso do livre arbítrio, outrora, no reino hominal. Cada pontinho é um brado ao Pai. Cada pontinho é um reino estabelecido dentro do grande reino que se estabelecerá, infinitamente.

Elisa não poderia mais recuar. Sua Ilha tornou-se maior e agora já aproximava de um gigantesco continente e deixaria de ser Ilha. Mas, antes necessitava saber do código, dos pontinhos e do reino.

Também as convenções tão comuns entre os homens deveriam desaparecer do seu estrato mental e emocional, bem como sentimental. Conhecer a si mesmo é saber do código. Para tanto necessita estar pura. De seu coração só poderiam emanar raios luminosos, feito sol, feito estrelas. Alguns desses raios já se soltavam delas, mas ainda eram poucos.

– Você tem um ano galáxico para multiplicar os seus raios. Falou um quasar que pulsava ao longe, mas tão perto que Elisa sentiu seu calor.

Então ela percebeu que começava a fazer parte de um grande continente cercado de luzes e pulsos, habitantes livres no cosmo, criaturas felizes por terem vencido as primeiras etapas da evolução. Viu que eles passavam céleres sobre ela, ao lado dela, embaixo dela e não se importavam com ela.

– Sois proposta divina. Ouviu de um deles que passou sem cumprimentar ou desejar boa qualquer coisa. Sabe, essas coisas bem humanas. Que se fala e nem se sente, ou pouco se sente.

Elisa percebeu que já não tinha mais tanto domínio das suas coisas pequenas. O pequeno se torna ponto para que o gigante apareça. Elisa estava no tempo e no espaço gigante. Já não era mais a florista, a cantora, a plantadora de sementes e tampouco a menina sonhadora aguardando uma estrela cair. Estava agora entre elas e viu que jamais cairiam. O que cai são fragmentos espalhados em busca do aconchego do sólido. Agora o sólido ficou para trás. Era bom, muito bom, contudo, estranho, muito estranho. Elisa deveria dar seus primeiros passos naquele novo momento, pois que um ano galáxico é apenas um momento porque tudo é o momento que se vive, não importa o tempo, que desaparece no continuum das ações.

Era estranho sim e o mais estranho é que ela entendia tudo aquilo como sendo normal. Talvez um absurdo para os que ficaram na retaguarda. Uma estrela sem guia brilhando em mentes pequenas que se transformará em núcleo estelar nalgum tempo futuro.

Elisa olhou em volta. A Ilha se agigantava cada vez mais e o continente se aproximava. Talvez agora teria que conhecer não uma Ilha e sim um continente. Seus amigos da Ilha fizeram uma fila indiana e desfilaram em frente a ela e se despediram dela. Eles encontrariam algum lugar na expressão espiritual de Elisa, pois todos faziam parte dela.

Elisa os acolheu e sentiu-se maior ainda.

– Tudo nos representa! Disse-lhe o anjo e Elisa concluiu:

– Por isso precisamos saber melhor o que nos representa!

No continente não havia dia ou noite. Tudo era luz que os olhos e a mente devem se acostumar a ele. A noite foi feita para os anjinhos sonharem. Quando se torna anjo a noite pode perturbar a caminhada. Por isso foi abolida desde muito naquele continente.

A senhora Elisa vestiu-se de luz que mudava de tonalidade tão só pelo seu pensar ou pela sua vontade. Ao mesmo tempo percebeu que doravante nem uma nesga de trevas poderiam ter mais lugar em si.

– Trevas se assustam com a luz. Outras tentam combater a luz. Outras conseguem, outras não, depende do gerador da luz e da sua consistência na geração.

Foi como um cometa que passou e sussurrou isso a ela.

A Ilha chegou ao continente. Fundiu-se a ele.

Uma senhora feita de algo parecido com a luz veio ao seu encontro e pensou e Elisa ouviu:

– Bem vinda ao continente. Há muito o que explorar. Cada passo que der será definitivo. Aqui tudo é definitivo. Daí que estude bem o que quiser, pois será definitivo.

Elisa se assustou um pouco. Vinha de um pequeno continente onde tudo é impermanente e tudo pode mudar a qualquer preço, a qualquer hora. Ali, tudo era definitivo!

– São marcas do destino de cada um. Conhecendo-se, conhecerá o propósito do Criador a seu respeito e assim confirmará a cada passo esse propósito e se libertará para ele.

As pessoas do continente pequeno agora deixado em definitivo pela antiga menina moça Elisa, precisam pensar no grande continente onde o espaço funde-se ao tempo e a esteira do eterno presente se abre para quem deseja conhecer-se a si mesmo, em definitivo.

A Ilha do Sol desapareceu no continente e Elisa agora possuía um continente!

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