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Elisa na Ilha do Sol - Capítulo 3

Portal das Estruturas

Elisa estava muito feliz na sua ilha. As descobertas não cessavam. Eram tantas que ela resolveu escrever um diário onde anotaria tudo o que via e sentia.

– Diários costumam atormentar o que está disposto a crescer. Melhor apreender.

A voz da sua mãe, cujo nome era Concerto Divino, calou fundo em seu coração. Havia lido alguns diários de viajantes e percebeu que eram inúteis, pois que uma descoberta de agora representa pouco diante das descobertas que virão. Melhor mesmo apreender as experiências, isso intensifica e alarga a inteligência. Deixou de lado o caderno e o lápis. Anotaria outras coisas mais sutis e menos pessoais. O pessoal é bom enquanto conselheiro, mas costumam nos prender nos bicos das águias impedindo-as dos seus voos. A águia fala diretamente com o Senhor e devemos deixa-las livres. Elisa pensava e isso a conformava em suas buscas. Era dona de uma grande ilha e precisava conhece-la tornando o pessoal mais amplo.

Um pombo correio trouxe-lhe a mensagem:

NA REGIÃO SUL EXISTE UM PORTAL. VÁ ATÉ ELE.

Magicamente Dinar surgiu. Elisa montou-o e voou até a região sul, conforme no bilhete. Porém, a região sul é muito ampla e conta suas histórias. Como um raio, Dinar correu e estancou próximo a uma formação caprichosa de árvores, galhos e flores. Havia também uma canção, suave e dolente, convidativa e enérgica. Portais costumam ser assim. Elisa hesitou um pouco. Era a primeira vez que transporia conscientemente um portal. Quando criança, corria pelos campos em busca da sua aventura. Ali, as aventuras necessitam ser pesquisadas. Este entendimento fez Elisa crescer mais um pouco.

Era preciso vestir-se da túnica branca, nupcial. Sempre que se buscar o encontro com os deuses, necessitaremos delas. A menina ergueu os braços e a túnica que veio do céu, ajustou-se ao seu corpo. Pronto. Agora poderia transpor o Portal das Estruturas, como ela o denominou. Não se transpõem um Portal sem a solenidade necessária. Assim, Elisa ergueu os olhos ao céu e proferiu pequena oração, diferente daquelas que aprendeu na infância. Com calma e passos bem definidos caminhou em busca daquele caminho.

Estava agora diante muitas circunvoluções que mais pareciam um cérebro gigantesco. Saiam raios, uns brilhantes outros opacos. Caminhou devagar e com cuidado. Nesses Portais costumamos encontrar coisas desconhecidas e assustadoras. Havia um gnomo que a observava. Parecia ser sorrateiro e hilário. Não era bom confiar nele. Gnomos são assim.

– Preciso mesmo estar aqui? Elisa perguntou-se silenciosamente.

– É preciso descobrir-se. Disse-lhe sua mãe – Concerto Divino.

Aquela voz às vezes era suave e outras tantas muito enérgica e em outras ocasiões determinante. Naquele momento, era determinante. Quando isso acontece não tem como retroceder. Elisa olhou aquela construção. Milhares de circunvoluções feitas de um material poroso e consistente.

– Em cada milímetro, uma história. Disse o Gnomo de forma estridente.

Elisa percebeu que era um quebra cabeça e que ela poderia destacar as milimétricas partes para estuda-las separadamente. Assim, escolheu uma ao acaso. O gnomo lhe disse:

– O acaso não está nos planos de ninguém.

– É só pensar que ele escuta? A menina pós adolescente ficou intrigada.

Parece que o gnomo não estava para muita conversa e saiu em busca de alguma coisa. Elisa tomou daquela pequena parte, tão mínima que quase sumia na palma da sua mão.

– Como examinar isso? Pensou.

Havia num canto uma flor violeta. E ela sussurrou algo que Elisa entendeu como sendo laboratório. Sim, a menina precisava construir um laboratório para examinar aquela pequena coisa. Assim pensando, construiu o laboratório em poucos segundos. Elisa, como todas as pessoas, possuem magias!

Havia um microscópio gigante no laboratório da Elisa. Então, colocou a coisa minúscula numa lâmina e, esta, sob a lente. Agigantou-se perante ela algo estranho, fantasmagórico, alucinante. Aquilo mexia, tinha sons, tinha identidade, tinha formas. Olhou para a menina e quis avançar sobre ela como um tigre enjaulado que ganha a liberdade. Elisa teve medo. Havia um pássaro vermelho e ele disse:

– Medo de você?

Depois voou livre em busca das suas estruturas em construção. Elisa observava aquela coisa se mexendo e se fazendo representar como algo que precisa ser para ser visto. A jovem olhou para a porta de saída daquele local. Pensou em fugir, mas era tarde. Isso porque a enorme estrutura da qual tirou a minúscula parte se agitou, querendo de volta o que lhe pertencia.

– Uma vez aqui colocado, não se exclui e nem se foge.

Não tinha jeito. Elisa precisava ser cientista e examinar a minúscula parte daquele todo gigantesco. E foi aumentando o quadro de visão quando, viu velha senhora cortando a lenha para fazer fogo, possivelmente para o fogão e o jantar. A velha era estranha. Vestia cinza e uma roupa suja de sangue. Elisa sentiu o cheiro do sujo e do sangue e sentiu também o cheiro das axilas terrivelmente sujas, quase pútridas.

– Como pode alguém viver assim? Pensou.

No Concerto Divino, Divina Dama existia e conversava com as pessoas. Andava leve e flutuante vestindo-se de uma indumentária perfumada e translúcida. Elisa não viu o seu corpo e sim névoas azuladas sob o tecido.

– Ela, você, eu. Três momentos de uma só individualidade!

Elisa não entendeu. A Divina Dama sorriu e com seu olhar mágico agigantou ainda mais aquela visão e Elisa ouviu.

– Pensam eles que vão me descobrir? Tenho meus recursos. Enveneno todos eles!

– Santo Deus – Que mulher má. Pensou Elisa.

A Divina Dama sorriu e depois agigantou ainda mais a visão. Foi quando Elisa se assustou. Havia, rodeando aquela mulher má, uma figura dantesca, zombeteira e extremamente fétida. E ela regia os movimentos da mulher má que obedecia cegamente. Depois de cortar a lenha, deu uma machadada na cabeça do gato que a acompanhava. O gato morreu na hora, gastando ali todas as suas sete vidas.

– Impulsividades nos levam a estremos dos quais não nos livraremos facilmente. O ser impulsivo é um ser que acalenta a cegueira e o cego é o andarilho sem luz em busca do seu cajado.

Elisa olhou para a Divina Dama certa de que aquelas palavras foram ditas por ela. Mas, a Divina Dama estava ocupada com outros afazeres. Talvez preparando a próxima canção para a manifestação do próximo Concerto.

Elisa buscou pelo olhar e leve meneio da cabeça, alguém que havia dito aquelas palavras sobre impulsividade. Não viu ninguém. Na sua ilha tudo falava e era difícil saber de onde vinham os sons e quem os pronunciava. A mulher má entrou numa caverna estranha, sem luz ou móveis. Apenas pedras. Ao adentrar a caverna a imagem sumiu. Era tudo o que continha aquela minúscula parte do todo.

Mais à noitinha, Elisa, assentada numa cadeira de luxo no interior da sua casa meditou longamente sobre as experiências daquele dia. Não concluiu muito. Havia uma lareira e estava acesaerá . As chamas crepitavam e, do meio delas surgiu Agni, o deus do fogo, e, dançando feliz disse para Elisa:

– Menina precisa crescer. Menina precisa aprender que de uma partícula o Criador pode tudo criar. Não é o tamanho e sim a essência. Na essência tudo está contido. O mal é a distorção do bem. Quem cria distorções não fica impune a elas. E são arquivos que nos felicitam, enganam, aborrecem ou ainda são neutros. A mínimo que se faz fica para sempre guardado até que o velho sábio dê nele o seu jeito.

Então as reflexões seriam bem mais amplas. Elisa entendeu assim. Aquela era uma partícula distorcida, na minúscula parte daquele todo. Elisa se lembrou ainda que em determinado momento, aquela mulher má olhou fixamente para ela como a cobrá-la algo.

E o que ela cobrava de Elisa, a menina da Ilha do Sol? Com certeza cobrava-lhe o velho sábio. Tudo fica arquivado, guardado esperando compensações ou transferências e cada um receberá de conformidade com suas obras, como disse o Divino Peregrino do Reino do Amor. Elisa sentiu que o Portal das Estruturas a aguardava para muitas ações transformadoras. Eis o objetivo de se chegar à Ilha do Sol!

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2 Comments


matheusfac518
matheusfac518
Apr 16, 2021

Uauuu que capitulo foi esse !!! Um capitulo muito intenso!! Querido, Guaraci, tive algumas duvida quanto a leitura... O portal leva a Elisa a seu inconsciente na sua parte oculta e que nessa parte costuma-se ter as nossas negações ?? O que seria esse pequeno pedaço que Elisa pegou para examinar e por que esse pedaço fazia sons e se movia?? O Concerto divino, que é dito como a mãe da Elisa, pode ser interpretado como seu Self? Essa mulher má é a persona do lado oculto de Elisa??

Essas são minhas perguntas. Estou achando essa leitura muito profunda, parece que penetra de uma forma em mim que não sei explicar. Tive a interpretação desse capitulo como sendo algo das…

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Gresg Saint Germain
Gresg Saint Germain
Apr 20, 2021
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RESPOSTA DE GUARACI SILVEIRA:

Sim, Elisa penetrava seu inconsciente em circunvoluções que é o estilo da espiral da evolução. Ali estão arquivadas todas as nossas ações como a cobrar soluções. O pedaço era uma encarnação de Elisa quando era uma feiticeira que prejudicava a todos. Aquela parte ainda não estava resolvida por isso chamou Elisa para ir na caverna escura e transformá-la em luz. Elisa precisava resolver para caminhar espiritualmente. Quando avançamos na evolução essas pequenas coisas nos surgem para que nos livremos delas.

O Concerto Divino é o si mesmo. Ou seja a estrutura psíquica de Elisa. Todos temos essa estrutura, muitas vezes nublada pelos complexos negativos e outras vezes livre a nos dar forças para prosseguir. O si…

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