ASSIM AGE A DONA MORTE
Falaram que naquele dia algo incrível aconteceria.
É que as pessoas morriam de medo da visita inesperada
Da danada da morte que vinha e levava seres para o além
Sem dizer quem e vinha e levava e deixava triste o mundo.
Então os fazendeiros, armados com enxadões, puseram-se de tocaia.
Era preciso matar a morte e sabiam que ela viria, pois ali,
Numa casa sede, Joaquim agonizava e premeditava seu fim,
Vaticinando e dizendo a hora e o dia e deixando muito dinheiro!
Dinheiro que ele ganhou á custa de muito trabalho.
Então não era justo aquilo. Muitos filhos e mulheres
Na certa dividiriam o reino e com certeza ficaria muita
Gente ao relento, chorando pelos velhos tempos.
Era tarde, muito tarde, madrugada sombria e veio vindo...
Veio vindo um vulto vestido de preto com capuz e
Alguma coisa na mão que mais parecia uma foice.
Sei não! Os homens se prepararam para a cartada final.
Ai - gemeu alguém. Não me batam não me matem.
Sou da paz e posso provar. Venho de longe para
Atender ao velho homem que morre e que ainda não
Deve morrer. Foi a dona morte quem me enviou.
Sou curador afamado lá nas bandas do Jalapão
É conversa com ela a morte, ela me ensina que morrer
É apenas renascer para a vida das formosuras que existem lá
No além. Quando precisa ela vem. Quando não, manda alguém,
Para salvar quem ainda precisa ficar.
Ela é boa companheira e não maltrata ninguém
Só tira do cativeiro aquele que necessita e deixa viver quem precisa.
Seu Francisco continuará a viver e resolver suas pendências aqui.
Mas, é preciso mesmo resolver. Hoje vai continuar
Amanhã talvez não vá. O tempo passa ligeiro e é preciso
Aproveitar. Seu Francisco é homem bom, mas, meio sapeca e...
E gosta de brincar de viver e isso não pode não!
“Senhor, meu Deus! Quando vivi e labutei como homem, vivi e labutei, esforçando-me de forma incansável; ao longo de muitas vidas, nascimento após nascimento, empenhei-me e sofri, sem jamais conhecer pausa ou repouso. Tomei o sofrimento por prazer. Então encontrei um lugar em companhia dos deuses e eles me receberam como companheiro”. Extraído do livro: O Herói de Mil Faces – Joseph Campbell
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