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Eternos Peregrinos - Capítulo 6

Meu Talismã

Naquela noite, pouco antes das vinte e três horas, retornei ao quarto dos meus pais para ver se dormiam. Lá estavam meio que abraçados. Isto muito me tranquilizou. Fui até à cozinha e tirei da geladeira um pouco de suco e um pedaço de torta. Estava mesmo com muita fome. O dia havia sido cansativo demais. No colégio tive duas provas que considerei muito difíceis. Porém o que mais me incomodava era a situação em minha casa.

Fazia tempo que meus pais não estavam se entendendo mais. Era uma pena, pois éramos uma família muito feliz e unida. Sempre saíamos juntos para as diversões, as festas, as viagens que fazíamos à fazenda da vovó Celina e sempre nos reuníamos uma vez por semana para colocarmos nossas vidas em dia. Naquelas reuniões podíamos combinar coisas, resolver nossas questões pendentes e programar nossas ações. Daí era só realizar. Em mim havia a certeza de que era a mais feliz de todas as crianças pela família que tinha.

Um dia, ao retornar da escola, vi meus pais discutindo por algo que não consegui entender direito o que era. Pensei ser uma brincadeira entre eles. Eram muito brincalhões e festivos. Porém quando vi meu pai avançar sobre minha mãe ameaçando-a com uma das mãos espalmadas obtive a triste confirmação que o assunto era muito grave. Passei pelo corredor sem ser visto por eles. Fui para o meu quarto, chorar, rezar, esperar, pensar...

Tantas coisas passaram por mim naquele instante que não saberia definir bem. Depois ouvi um silêncio profundo. Nem mais uma palavra ou palavrão. Nem mais uma ameaça ou defesas instintivas. Nada. Tive vontade de sair do quarto para ver o que estava acontecendo. Contive-me. O assunto não me pertencia. Apenas precisava aguardar. Fiz uma prece e peguei no sono. Sei que foi um sono induzido pelos amigos espirituais. Sempre recorri a eles. Maneco, meu amigo espiritual de infância, sempre me aconselhou a orar nos momentos difíceis.

Tive um sonho: estava sentado à beira de uma estrada. A estrada era longa e ia em linha reta, lá ao fundo, bem ao fundo, uma curva fazia-a desaparecer.

– Estou sozinho. Pensei. Foi quando, do nada, apareceu um ser todo de luz. Fiquei encantado com aquela visita.

– O que faz aqui? Perguntou-me.

– Espero. Respondi.

– Espera o que?

– Espero a chance de voltar a nascer na Terra. Preciso muito retornar a um lar que me dê abrigo e condições de crescer para servir a Jesus.

– Você a terá. Respondeu minha visita.

– Quando?

– Quando aprender a ser útil e agradecido. Nosso Mestre sabe a hora certa de cada um de nós. Volte, matricule-se na escola para reencarnantes. Lá será preparado para nova oportunidade no corpo físico e desta vez não falhe novamente. Não brinque de renascer.

Depois me vi estudando numa escola magnífica. Havia meninos e meninas, professores, auxiliares, estagiários e muitas pessoas cuidando da beleza dos jardins, dos pomares, da lagoa e a fachada da escola era soberba. Nela se via uma representação da esfinge do Egito como a incentivar-nos a aprender. Em dado momento um amigo aproximou-se de mim e disse que estavam me chamando na sala do diretor.

– Ainda bem que não fiz nenhuma traquinagem. Pensei.

– Mariano, sente-se nesta cadeira. Era o diretor.

– Seu curso está findo. Em breve retornará. Seus pais você os conhece.

– Serão eles mesmos?

– Sim. Aceitaram você de novo.

– Já sei o que devo fazer agora, diretor.

O diretor sorriu-me e eu sai e acordei na minha cama. Estava em paz. Às vinte e três horas depois que fui ao quarto dos meus pais e fiz o meu lanche, procurei uma vasilha que se encontrava permanentemente numa das prateleiras do armário da cozinha. Peguei a vasilha e retirei de dentro dela aquele pequeno talismã que guardava a muito tempo. Tornei a olhá-lo com carinho, beijei-o e fui bem devagar ao quarto dos meus pais, tomando o cuidado para não os acordar. Coloquei aquela peça valiosa bem na penteadeira e depois sai e fui dormir, não sem antes fazer minha prece.

Na manhã seguinte fui acordado por ambos. Estavam pensativos e cada um me abraçou do seu jeito.

– Muito obrigado, meu filho.

– Deus te abençoe, meu querido.

Depois saíram de mãos dadas e foram rever suas vidas num clima de paz. Aquele talismã era uma simples caneta que havia recebido de presente da minha tia no dia da minha formatura do pré-primário. Jurei a ela e a meus pais que só a utilizaria no dia em que soubesse escrever alguma coisa de belo e que construísse. Que bom que meus pais souberam ler os meus escritos, apesar de estar com apenas sete anos.

“Os filhos são associados de experiência e destino, credores

ou devedores, amigos ou adversários de encarnações

do pretérito próximo ou distante, com os quais

nos reencontraremos na Vida Maior, na

condição de irmãos uns dos outros,

ante a paternidade de Deus.”

Emmanuel e André Luiz

Estude e Viva, FEB, 2005 –Cap. 38

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