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Eternos Peregrinos - Capítulo 21

Valsa dos Quinze Anos





Os homens conversavam animadamente. Alguns, no entanto, confabulavam às escondidas. Certamente o assunto era secreto. Existem sempre assuntos reservados quando as pessoas se encontram. O que estariam eles tratando naquela conversa baixa, ao pé de ouvido? Maria da Costa era a anfitriã. Estava comemorando cinquenta anos. Sempre desejou chegar àquela idade. Quando criança sofreu séria lesão nos músculos e todos afirmavam que não resistiria o tempo e suas pressões. Maria da Costa criou então uma expectativa de vida. Cinquenta anos e estaria satisfeita. Ali estava ela, feliz por ver cumprido o seu desejo e ao que tudo indicava mais alguns anos ainda lhe era reservado. Estava forte e atuante. Era presidenta da Associação dos Escoteiros Xauá. Amada por todos, seu aniversário estava sendo comemorado no salão de festas daquela associação e havia mais de trezentas pessoas.

Passara toda sua vida apaixonada por Miguel Silva, ali presente. Desde jovem e quando sua doença mais a atingira, seu coração pulsava forte por aquele homem. Era mais velho que ela cerca de dez anos. Porém, nunca foi capaz de permitir que seus sentimentos fossem divididos com ninguém. Viu toda a trajetória de Miguel. Suas ascensões e quedas. Era um espírito aventureiro por isso oscilava muito entre o ter e o não ter. Sua esposa era pessoa de péssima índole. Todos sabiam dos seus encontros furtivos com os rapazes. Ela os adorava, apesar dos seus cinquenta e seis anos. Miguel não dava atenção. Sua idade já era bastante avançada para preocupar-se com travessuras de uma mulher que nunca havia se respeitado. Tinha uma filha que viajara para o exterior e por lá permaneceu, dando poucas notícias.

Após cantarem o “Parabéns para você”, Maria da Costa quebrou todo o protocolo, partiu o bolo e deu o primeiro pedaço a Miguel Silva. O salão todo ficou paralisado. Por que ela fizera isto? Nem sempre conversavam, nem sempre estavam nos mesmos locais. Seria uma confidência daquela senhora perante todos? Miguel pegou o pedaço de bolo, alimentou-se dele e depois tomou as mãos daquela senhora e as beijou. Aplausos foram a resposta daquele público que se olhava e se perguntava sem nada entender.

Fácil foi saber o que aqueles homens confabulavam num canto do salão. Após a quebra de protocolo, saíram e o assunto era a paixão que Miguel Silva sempre teve por Maria da Costa. Paixão solitária, sofrida, amor impossível. Quando Maria da Costa casou-se com Celso Fraga, todos achavam que estavam apaixonados. Acontece que o tempo mostrou que a paixão de Celso Fraga era outra e por isso, deixou Maria da Costa e foi viver com Magda Amenara. Maria da Costa exultou silenciosamente. Nada em Celso Fraga atraía suas esperas femininas. A esposa de Miguel Silva nem percebeu o ocorrido. Estava às voltas com dois rapazes que chamavam a sua atenção. Queria-os e se programava com eles.

Interessante a vida. De repente os desencontros acontecem. Por que os pares que se amam necessitam estar separados mesmo vivendo juntos numa mesma cidade? Seria castigo? Punição? Seriam estes os casos dos nossos personagens? E, se fossemos consultar todos os corações ali presentes, será que outros também não se achavam desencontrados, como o caso de Clara Lima, também presente e apaixonada por Felipe Luiz, um dos jovens requisitados pela estranha dama de preto, esposa de Miguel Silva? Clara sofria silenciosamente enquanto seu esposo Felipe Mendes se vangloriava de ser requisitado por outra pessoa.

Assim os corações vão pulsando, as vidas vão acontecendo. Este é o amor? Estas manifestações de fato são verdadeiras ou são simples impulsos de almas que desejam libertar-se e seguir pelas vias das paixões, das aventuras?

Dentre aqueles convivas encontravam-se um grupo de espíritos em estágio. Eram alunos da Escola Preparatória de Reencarnação de uma colônia espiritual próxima da Terra. O instrutor ia mostrando os fatos e comentando com eles sobre sentimentos. E dizia:

– Vejam, muitas vezes quando estamos na carne, esquecemos nossos deveres e nos desvirtuamos. Esta tem sido a tônica de quase todas as nossas existências. Dificilmente aceitamos realizar o que prometemos. Deus, em sua imensa sabedoria, fez-nos homens e mulheres e nos colocou juntos a caminho da evolução. E nos deu a possibilidade de interagirmos permanentemente para que um complete o outro. Desta forma, as pessoas são colocadas convenientemente e de acordo com a faixa vibracional em que se encontram. Quando interferimos, transgredimos e as transgressões geram estranhos prazeres e dos quais teremos que dar conta. Se formos analisar os casos de Maria da Costa e Miguel Silva, com certeza encontraremos antigos transgressores em processo de ajustes. E se olharmos a delicadeza atual de Clara Lima e aprofundarmos em suas histórias, certamente a encontraremos às voltas com outras opções infelizes que a infelicitam hoje. Será que Felipe não está se vingando dela, inconscientemente? E a esposa de Miguel será a transgressora de hoje e também do ontem?

Os alunos ouviam atentos. Foi quando Xênia se aproximou de Monton e apertou-lhe as mãos. Os olhares foram dirigidos para eles. Xênia olhou-os. Era antiga transgressora e queria ajustar-se com Monton. Por isso preparavam-se juntos. Desta vez não poderiam falhar. O instrutor percebeu a intensidade do momento e os convidou a retirar. Era necessário retornar à colônia.

No dia seguinte os alunos reunidos começaram a rever suas vidas. Naquele grupo, pelo menos cinco deles renasceriam com o compromisso conjugal.

– As coisas na Terra estão difíceis neste campo. Precisamos nos preparar muito. Os jovens atuais quase não se importam com a vida a dois e quando surgem as oportunidades de reajustes com o par logo criam dificuldades e se separam. Cada separação dessas é como um postergar de conclusões necessárias. As almas estão muito devedoras entre si. Comentou um dos alunos.

Tempos depois, num salão semelhante, Xênia e Monton reencontravam-se. Estava ele com vinte anos e ela com dezoito. Olharam-se, reconheceram-se e deram as mãos. Era o aniversário de quinze anos de Márnia, irmã de Xênia. Márnia encontraria naquela noite com Falcon. E mais tarde receberiam como filhos, Talita e Dino que reencontrariam Selton e Marla, todos eles estudantes daquela escola preparatória, agora reencarnados.

Assim a vida vai nos favorecendo os encontros e eles as oportunidades. A esposa de Miguel Silva estava presente em espírito naquele evento e chorava o tempo perdido. Noutro canto Miguel Silva e Maria da Costa apertavam as mãos e juravam fidelidade entre si. Clara Lima esperava por Felipe Mendes ainda sumido nas vielas que ficam ao lado da longa estrada. Celso Fraga e Magda Amenara estavam separados e se buscando como loucos em zonas infelizes da espiritualidade.

Quantas almas em desalinho, em desajustes e tentando se encontrar. Um velho senhor, assentado numa banqueta defronte a um piano, solou a valsa dos quinze anos e todos dançaram e um grupo de estudantes de outra colônia comentavam entre si:

– Sempre a valsa preludiando uma vida de harmonia e depois da valsa, cada qual com seus temperamentos.

Todos aqueles momentos ficaram para sempre gravados nos rolos da história de um planeta que abriga pessoas que necessitam crescer para Deus, cujo tempo se consolida em ciclos que extinguem de segundo a segundo.


“O objetivo fundamental da nossa encarnação é o progresso Intelecto-moral. Aperfeiçoar a inteligência e o sentimento constitui o fim último de nossa estada na vida corpórea .”


Autores Diversos

Apostila: Fundamentos da Evangelização - FEB – 1987 – Cap. 9



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