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Eternos Peregrinos - Capítulo 7

O Caso de Adelina

A sessão estava terminada. Mais uma vez Magnólia saia frustrada. Por várias vezes ali esteve presente na expectativa de receber uma comunicação do seu marido. Ele havia desencarnado de forma misteriosa. A família desejava um esclarecimento. Queriam tranquilizar-se, pois que a hipótese do suicídio não estava descartada, muito embora aquele homem nunca demonstrasse qualquer distúrbio psicológico que o levasse a pensar em tal ato. Senhor Moreno, dirigente da sessão, sempre dizia para ter paciência. As coisas no Mundo Espiritual seguem diretrizes que desconhecemos. Apenas somos receptores daquilo que pode ser dito. Magnólia, contudo, não concordava. Dizia mesmo ser maldade dos mentores não permitir que seu marido falasse e esclarecesse tudo.

Mais um mês havia se passado e nada. Todos os médiuns queriam que a tal comunicação acontecesse para que Magnólia pudesse aquietar sua alma. Numa noite aconteceu algo que deixou Magnólia muito preocupada. A filha menor do casal, Adelina, de apenas treze anos, ficou inerte olhando para um vazio. Por mais que a mãe a chamasse, que tentasse traze-la de volta à realidade, a menina estava como que congelada numa posição mantendo, contudo, todos os seus centros vitais em pleno funcionamento. As pessoas alarmaram-se. Moravam num distrito que distava a trinta quilômetros do centro da cidade. Acionaram a ambulância, porém aquele percurso era longo. Precisavam então aguardar e, se possível, com muita calma. Já eram passados trinta minutos, quando a menina deu um grito e caiu deitada no chão, ficando agora de olhos fechados e respirando com alguma dificuldade. O socorro demorava e Magnólia achou por bem orar suplicando ajuda à Mãe de Jesus.

A ambulância chegou e a garota foi removida para o hospital ali chegando semi adormecida. Notava-se que desejava dizer alguma coisa sem ter forças para tal. Amparada e medicamentada ficou em observação no leito de uma enfermaria. Magnólia permaneceu no saguão do hospital atenta a qualquer notícia. As horas passaram e o dia amanhecia quando uma enfermeira convidou aquela mãe a acompanhá-la. Numa sala reservada aquela moça de olhar firme fez inúmeras perguntas a Magnólia pedindo que relatasse todo o histórico de Adelina desde seu nascimento até aquele dia. A mãe, entre soluços e lágrimas, narrou tudo o que lembrava. Adelina sempre foi uma menina esperta, ótima filha, ótima aluna, companheira das duas irmãs maiores casadas e que residiam em outras cidades, uma em outro estado. Terminada a narrativa os olhos súplices daquela mãe fizeram a enfermeira consternar-se.

– Venha, disse aquela moça acostumada com tantos enfermos e enfermidades.

Penetraram um ambiente separado daquele andar da enfermaria. Era composto de um leito, um pequeno armário e uma mesinha de cabeceira, além de banheiro exclusivo. Adelina estava deitada naquele leito de olhos abertos e sorrindo. Ao ver a mãe, tomou-lhe as mãos e disse:

– Eu o vi, mamãe. Eu o vi.

– Viu quem, minha filha.

– Vi o professor. Ele sorriu para mim e acenou-me jogando um beijo.

Dito isto, entrou novamente naquele estado de letargia. A enfermeira então comentou com Magnólia que ela entrava em estado de consciência e depois retornava para o estado letárgico em espaços de tempo que variavam entre uma hora e meia a duas. O que estamos fazendo é fortalecendo seu corpo, pois notamos pequenas quedas da pulsação cardíaca quando ela acorda. Isto pode desarmonizar a pressão sanguínea e complicar outros órgãos. A enfermeira não sabia o que dizer àquela mãe. A menina necessitaria passar por vários exames. O médico não demoraria a chegar. Então tudo o que se tinha a fazer naquele momento era aguardar. Assim aconteceu. Magnólia, autorizada a permanecer naquele quarto, aguardava ansiosa a presença do médico. Buscava entender aquela frase da filha que dizia ter visto o professor. Que professor seria? Não acreditava que algum daqueles que lecionava no colégio que a menina frequentava tivesse estado ali. Se o fizesse, certamente a enfermeira teria dito. O medico só pode aparecer três horas depois uma vez que atendia outra emergência. Os dias se passavam e os exames solicitados foram realizados. Não se chegava a uma conclusão. O caso não tinha origens em nenhum órgão daquele corpo que se esvaía lentamente.

Mais dois dias e a menina estava quase desfigurada. Suas irmãs chegaram e aprontaram as maiores choradeiras que impressionaram a todos. Magnólia tentava manter a calma. Estava exausta, quase não dormia e quando conseguia acordava sobressaltada. Numa manhã o neurologista procurou-a e disse que não poderia fazer mais nada por sua filha. Um clínico geral assumiria aquele caso. Agora Adelina não mais falava quando despertava apenas olhava a mãe e sorria e fazia ligeiro sinal com a cabeça afirmando algo. Estava muito enfraquecida. Magnólia e as outras filhas com seus maridos entenderam que Adelina não resistiria. Tudo era questão de tempo.

Numa noite Rosalva pediu para ficar com a irmã. A mãe estava muito desgastada. Rosalva não era uma pessoa prestativa de forma que todos acharam estranha aquela oferta. É assim mesmo, de repente se desperta para atos de benevolência. O ruim é quando o momento chega e passa e a pessoa continua adormecida. Duas horas da madrugada e tudo era silêncio. Rosalva cochilava assentada numa poltrona que fora colocada ali para acompanhantes. Viu uma silhueta. Pensando ser alguém da enfermagem abriu os olhos para atender. Foi quando viu bem na sua frente a sua irmã, refeita e feliz.

– Adelina? Você levantou sozinha? E os aparelhos, você os desligou?

– Não. Eles continuam ligados. Estão lá no meu corpo. Olha.

Rosalva deu um pulo da poltrona e viu duas Adelinas. Uma de pé, sã e feliz e outra semimorta ligada a alguns aparelhos e medicamentos. Começou a tremer. Tentou gritar pela enfermeira, contudo sua voz não saía. Quis correr e suas pernas estavam paralisadas.

– Calma Rosalva. Sou eu, sua irmã. Não tenha medo. Não se assuste tanto.

– Mas como pode, você está deitada naquela cama e ao mesmo tempo está aqui...

– Eu também não entendia nada disto, mas agora passei a entender. Quero que você dê um recado silencioso a todos da nossa família.

– Recado silencioso? O que é isto?

– Eu vou acordar e retornar de vez para a minha vida naquele corpo. Meu trabalho será o de consolar pessoas doentes e curar pelas minhas mãos. Por enquanto não diga nada a ninguém, quando eu começar, muitos vão me condenar, muitos não vão acreditar em mim. Então preciso que você me dê forças, me dê guarida e me ajude a servir gratuitamente. Mais uma coisa, o papai está bem e não cometeu suicídio. Apenas quis dar um passeio e dormiu ao volante e ladrões chegaram e o assassinaram. Foi recebido por pessoas da nossa família e recupera-se. Então não precisamos mais nos preocupar com ele, aliás, ele precisa do nosso entendimento e da paz que podemos oferecer-lhe. Um dia vai sonhar com ele e ele confirmará isto a você. Naquele dia poderá dizer a todos. Agora não. Entendeu bem Rosalva. Posso contar com você?

Rosalva estava com trinta e dois anos e tinha uma filha de cinco. Nunca havia se interessado por questões espirituais e achava loucura sua mãe procurar notícias do pai falecido naquela estrada, à noite, sem deixar nenhuma explicação. Mais assustada que consciente, acenou com a cabeça que sim, Adelina poderia confiar nela.

– Preste bem atenção, é um compromisso muito sério. Está mesmo disposta?

Rosalva confirmou seu compromisso e a silhueta desapareceu. Rosalva caiu em profundo sono e foi despertada por um chamado de Adelina que pedia atendimento. Sua irmã estava despertando. Correu e chamou a enfermeira que, assustada com aquela melhora repentina, atendeu da maneira que pode e chamou o médico. As horas que se seguiram foram de muita agitação. Adelina melhorava de hora em hora. Sua mãe e toda a família agradeciam aos céus pelo milagre e Rosalva, calada, apenas observava aquele alvoroço. Ela sabia de tudo. Mas fez um pacto de silêncio. Falou repetidas vezes que fora acordada pela irmã, pela manhã e que havia chamado a enfermeira. Só isso.

Sim, Adelina fora convocada aos planos espirituais para as devidas preparações da sua mediunidade. Era um espírito extremamente devedor. Havia transgredido as leis divinas por algumas existências e com isto prejudicou muitas pessoas. Deveria, agora, tornar-se a serva de todos. A princípio seus atendimentos seriam de duas vezes por semana e, no futuro e à medida que fosse adquirindo maturidade física os atendimentos seriam diários. Sua existência estava programada para mais setenta e oito anos, sessenta e sete deles inteiramente dedicados ao próximo. Rosalva havia contribuído para seus deslizes e deveria seguir com a irmã, amparando-a e protegendo-a até que uma equipe de médiuns, devidamente preparados, assumisse seu lugar e então desencarnaria para se juntar à equipe espiritual que atuaria junto a Adelina. Por isso necessitava calar. Era preciso silenciar sua voz para que o coração pudesse colocá-la a par de tudo isto.

Duas semanas depois, inteiramente refeita Adelina deixou aquele hospital. Antes de sair abraçou uma senhora que transitava exânime nos corredores do hospital e passou a mão por sua cabeça. A mulher teve uma melhora súbita e na tarde daquele dia também deixava aquele hospital. Magnólia assustou-se. Sim as vidas daquelas pessoas seriam modificadas. Assim acontece. De repente um fato modifica tudo. Adelina retornou ao lar. Rosalva pediu ao esposo a permissão para continuar uns tempos ali. Seu marido trabalhava como vendedor e sempre se ausentava de casa. A cidade onde moravam não era longe e resolveram então transferir definitivamente a residência para a cidade onde morava Adelina. Rosalva assumia seu papel naquele concerto.

As coisas começaram a acontecer. Adelina entrava em transe mediúnico e atendia pessoas que saíam inteiramente confortadas da sua casa. Magnólia procurou o centro espírita para ter maiores informações. O diretor daqueles trabalhos lhe disse:

– Finalmente teve a resposta que desejava.

– O falecido não comunicou ainda, disse.

– Sim, ele não. Jesus o fez em seu lugar. Toda essa ligação sua com o plano espiritual favoreceu a preparação da sua filha para as tarefas que deve realizar nesta encarnação. Se o Mestre achar por bem, algum dia desses, seu marido manda o recado que tanto deseja.

Rosalva teve o sonho com o pai e tranqüilizou a mãe. Um dia Adelina, num daqueles transes mediúnicos, fez breve observação:

– Ao procurarmos a espiritualidade maior devemos estar preparados para as respostas que ela tem para nos dar. Às vezes perguntamos uma coisa e a resposta vem de outra forma. Muitos reclamam, afastam-se acreditando-se lesados. O mundo espiritual nos dá na medida certa e na quota necessária a cada um.

Um dia, uma mulher que teve o filho curado pelas mãos abençoadas de Adelina, ofertou-lhe uma rosa singela, mas de perfume singular. Adelina a plantou e hoje, na instituição que trabalha, um imenso jardim recebe todos aqueles que ali vão buscar o alívio para suas enfermidades. Doe amor. Os afagos dos agradecimentos surgem de alguma forma e eles se multiplicam florindo e perfumando caminhos. Adelina não era ainda santificada. Era médium e aceitou seu compromisso. Estava seriamente comprometida com as Leis Divinas e somente o trabalho junto aos sofredores poderiam ajudá-la no resgate. Ser médium é ser instrumento da própria cura.

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