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Eternos Peregrinos - Capítulo 8

Augusta, a Enfermeira

Faltava pouco tempo para que Ambrósia tivesse alta daquele hospital. Ficara ali por nove meses, tempo este em que pode recuperar-se de grave lesão muscular. Sua família não acreditava na recuperação, contudo Ambrósia lutou como pode, com todas as forças do seu espírito e, para surpresa geral, os sintomas foram desaparecendo gradativamente e os médicos, assustados, tiveram que concordar que alguma coisa extra sensorial tinha acontecido.

Numa noite, era madrugada, Augusta, a enfermeira chefe daquela ala, penetrou silenciosamente o quarto de Ambrósia. Deparou-se com um médico desconhecido aplicando recursos vindos de uma maquinaria absolutamente fora de todos os padrões ali existentes. A princípio a enfermeira quis acionar o alarme, depois, movida por uma força diferente permitiu-se ficar e observar o quadro mais detidamente. Augusta já tinha ouvido falar das intercessões espirituais dentro dos hospitais. Uma antiga companheira de faculdade conversou longamente com ela sobre isto. Dizia que precisavam capacitar-se para esses eventos, pois com certeza aconteceriam com elas também. Ali, a enfermeira chefe estava diante do fato. Quis aproximar-se do médico, porém deteve-se. Preferiu ficar observando. O médico, como que alheio à sua presença, continuou sua tarefa.

Uma hora depois, o equipamento que emitia luzes coloridas foi desligado. Ambrósia dormia profundamente. O médico afastou-se do leito e aproximou-se de Augusta.

– Por enquanto não conte para ninguém. Disse.

O interessante é que Augusta pode ouvir nitidamente sua palavra inarticulada bem como sentir sua presença. Fechou rapidamente os olhos como que para absorver o fascínio daquele instante e, quando os abriu, segundos depois, o médico e toda a maquinaria haviam desaparecido. Aproximou-se da enferma e a viu dormindo calmamente e com um leve sorriso nos lábios. O resto daquela noite Augusta o passou em profundas reflexões recapitulando todo o seu curso na faculdade.

Chegou, enfim, o dia da alta de Ambrósia. Estava curada. Andava com desenvoltura e trazia nas faces o rubor próprio das pessoas saudáveis. Cândido, seu filho mais velho, veio buscá-la. Augusta permitiu-se ficar naquele dia para verificar o evento. Antes de sair, a ex-enferma aproximou-se da enfermeira a pediu que agradecesse a todo o corpo médico e clínico daquele hospital. Estava refeita, graças também a eles.

– Graças também a eles. Esta frase permaneceu fixa na memória de Augusta. Estaria ela dizendo que participava de todo aquele aparato transpessoal? Ambrósia teria poderes extra-sensoriais? Em parte, justificava sua tenacidade e certeza em recuperar-se quando todos a davam como doente terminal.

O tempo passou. Todas as noites Augusta penetrava cada quarto procurando pelos médicos invisíveis e seus aparatos. Não os via. Parece que apenas Ambrósia teve acesso aos tratamentos que eles impetravam nos doentes. Era alguém muito especial no conceito daquela moça de vinte e quatro anos que se preparava para casar no mês seguinte.

Os dias que antecediam ao seu casamento correram céleres, pois que os preparativos eram intensos. Por ser filha única, seus pais desejavam que tivesse um casamento de princesa e não mediram esforços ou economizaram finanças para que tudo saísse de conformidade com o momento especial e ímpar para eles. Seu Gustavo Freitas gostaria que a filha estudasse engenharia como ele, porém acatou com alegria a decisão da filha em estudar enfermagem. Nem mesmo médica desejava ser. Então Augusta teve nos pais pessoas da mais alta consideração. Fernando Brito, o noivo, era paraquedista da força aérea nacional. Seus pais o tinham como o orgulho da família. Era um militar que estava sempre pronto a defender a pátria. ​O casamento estava marcado para domingo no Sítio Ventosa, elite local. Sábado, Fernando Brito resolveu dar o último salto de solteiro e... Aconteceu. Foi uma queda quase livre e ao tocar o solo estava semimorto, totalmente danificado nos músculos e ossos. O caos se estabeleceu. Fernando foi removido para a unidade de terapia intensiva do hospital em que Augusta trabalhava. Esta, transtornada, não sabia o que fazer. Vários convidados de outras cidades já haviam chegado. A moça pediu aos pais que resolvessem da forma que desejassem aquele impasse e pôs-se de vigília em torno do caso Fernando Brito.

Novamente os médicos deram o caso como encerrado. Era questão de horas. Na noite do segundo dia, Augusta estava desolada no quarto de repouso dos médicos daquela Unidade. De repente, sentiu algo estranho. Seu corpo estremeceu e foi quando ouviu uma voz inarticulada e conhecida:

– Por que está chorando? Acaso não confia na Providência Divina?

Um grande susto, uma grande alegria. Era ele, aquele médico que curou Ambrósia condenada à morte. Ele estava bem ali.

– Venha. Disse o amigo.

Augusta penetrou silenciosa a Box onde se encontrava seu amado e viu que a mesma maquinaria estava posta ao seu lado.

– Vamos ligá-lo agora. Aproveite e veja seus efeitos.

–A enfermeira aproximou-se cautelosa e viu quando outras duas pessoas de jaleco grená, acionaram botões de várias cores. As luzes começaram a fluir daquele equipamento. A um sinal do médico, seus auxiliares direcionaram o equipamento para uma região central do tórax de Fernando Brito. As luzes começaram a penetrar o lençol que o cobria e Augusta viu que elas abriam espaços e penetravam o corpo do paciente. Os feixes de luzes ficaram mais intensos e começaram a agir numa espécie de roda de pétalas que se encontrava ali e que movimentava lentamente. Ao influxo daquelas luzes a roda começou a girar com mais desenvoltura e a eliminar miasmas até então desconhecidos pela enfermeira.

– Podemos trazê-lo de novo a vida. Disse o médico muito atento e pensativo. As células básicas ainda vivem.

A noiva e a enfermeira se alternavam. Uma queria o ente querido de volta a outra queria conhecer as intimidades do corpo e os recursos que a medicina pode oferecer aos doentes. Ninguém entra para a área da saúde por simples curiosidade. Existe um passado e, pertencer àquela área, é um compromisso que solicita atenção e esforço nas mínimas possibilidades de aprendizado e ajuda. Deixemos de lado, aqueles que fazem da medicina o intercâmbio com as riquezas perecíveis. A esses, após as quimeras, os dolorosos despertamentos os trarão de novo à realidade do potencial que podem desenvolver em proveito próprio e imperecível.

– Vejam, os nadis começam a iluminar-se. Falou comovido o médico. Augusta percebeu que como artérias, existiam extensas redes sobrepondo-se às redes sanguíneas. Enquanto que em uma corria o sangue em outra corria uma espécie de energia iluminada. Elas iam de roda em roda e as dinamizavam.

– São os centros de forças. Eles estão sendo reativados. Falou um dos assistentes.

Augusta via agora uma outra face do corpo humano. Além da anatomia conhecida havia outra e ela energizava sobremodo as células físicas. Aos poucos, Fernando Brito começou a deixar aquela palidez mórbida. Os aparelhos a ele ligados mostravam que a circulação sanguínea voltava gradativamente ao normal e que sua respiração estava quase toda recuperada. Por mais algum tempo aquela equipe permaneceu ali ministrando recursos complexos a ainda desconhecidos da medicina atual.

Era manhã quando Augusta chamou por Fernando Brito. Este abriu os olhos e pode ver o quarto onde se encontrava. Ainda era sofrido. Seu corpo demonstrava cansaço e alguns ossos estavam engessados necessitando recuperação.

– E o nosso casamento? Perguntou a Augusta.

– Ele vai acontecer assim que sair daqui.

Dois anos depois, uma estranha enfermeira andava pelos corredores do hospital falando sozinha e curando desenganados. Ficou famosa. Vinham acidentados e doentes crônicos de toda a parte. Dentro do possível retornavam à vida física e se não fosse possível, retornavam à vida espiritual renovados pela força daquela mulher extraordinária, deixando também seus familiares reconfortados.

Ali, as opiniões a seu respeito se dividiam. Alguns achavam que era maluca. Outros que era sensata. As companheiras de trabalho achavam-na exótica e quase todos os médicos consideravam-na lunática. Augusta pouco se importava e Fernando Brito teve que aprender a cuidar das crianças, pois eram raras as noites em que Augusta passava em casa.

O fato é que médicos e equipamentos invisíveis existem em todos os locais de tratamentos da saúde. O problema é que Augustas e Augustos são raros. E até quando? Uma noite a enfermeira cuidava de si quando foi surpreendida pela presença daquele médico e na ausência de pacientes.

– Lembra-se quando pedi a você que não comentasse com ninguém o tratamento dispensado a Ambrósia?

– Sim, me lembro.

– Quer saber por quê?

– Sim.

– Muitas vezes testamos prováveis parceiros terrenos. Na maioria dos casos fogem amedrontados, descrentes, omissos ou acovardados. Em outros casos fazem um grande alarde taxando uma manifestação natural de milagrosa ou coisas do gênero, chamando para si toda a atenção absolutamente desnecessária. Por isso agimos com cautela.

– Quer dizer então que se todos quisessem poderiam ajudá-los?

– Como não? Os recursos são todos de Jesus. Felizes daqueles que se dispõe a colaborar integralmente com Ele.

Augusta aquietou-se em si e foi encontrar Fernando Brito, Marina e Diego, seus amores.

“O hospital é refúgio santo destinado ao

socorro da humanidade enfermiça...”

Espíritos Diversos

Correio Fraterno - 2004 –Cap. 19

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