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Eternos Peregrinos - Capítulo 9

Atualizado: 14 de jan. de 2021

Alô Terra, Estou Bem!

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Hugo Carvalino era daqueles médiuns que acreditava só em comunicações sérias, vindas dos espíritos altamente superiores. Quando Minervina recebia mensagens descontraídas de espíritos felizes e sábios, Hugo torcia o nariz e jogava no lixo. Era um emérito censor de trabalhos alheios. Quase não conseguia psicografar. Apenas alguns garranchos. Os espíritos fugiam entristecidos com aquele parceiro sisudo e descrente. Um dia Hugo foi pego de surpresa. Numa reunião para este fim, seu braço foi tomado e a pena correu célere pelo papel. Era uma comunicação diferente e dizia assim:

– “Sempre disse que um dia voltaria para escrever uma carta àqueles que ficaram. Claro que tive que me fortalecer, preparar e buscar palavras adequadas que não assustassem e nem ferissem ninguém. Estou por aqui já fazem uns dez anos. No princípio foi muito difícil. Não imaginava o quanto é complicado deixar o mundo dos vivos mesmo sabendo da inexistência da morte. Por mais que imaginemos os planos espirituais, por mais que estudemos a famosa série de André Luiz o fato é que quando se chega aqui as surpresas nos atropelam. Raramente não necessitamos de um tempo de repouso nalgum hospital ou estâncias especializadas para receber os recém desencarnados. E o pior é a saudade que bate na gente. Meu Deus, nunca imaginei que fosse tanta assim. E começamos a lembrar de amigos que só convivemos com eles na nossa infância. Sentimos saudades dos lugares que moramos, das atividades que exercíamos, dos sonhos que acalentamos, dos momentos em que nos tornamos senhores das nossas vidas, e, é claro, a saudade da família. No meu caso deixei dois filhos e uma filha além da esposa. Hoje tenho netos. Pensam que deixamos de ser avós só porque desencarnamos? Deixamos coisa nenhuma. Meus netos renasceram depois que retornei, mas os tenho como netos e fico daqui torcendo para que alguma coisa de mim tenha ficado para que possamos fazer aquela sintonia.

Era uma tarde comum, daquelas que nem damos conta. De repente senti um desconforto estomacal. Pensei que fosse algum alimento estragado. Sempre os encontramos, vencidos, nas prateleiras ou estufas de lanchonetes cujos proprietários desavisados não se incomodam nem com o outro nem com si mesmos. Como a dor continuava achei por bem ligar para um médico amigo e ele me aconselhou ingerir determinado medicamento. Tarde da noite acordei e a coisa piorara. Não tive dúvidas, peguei o carro e fui para o hospital e por lá fiquei. Alguns dias depois veio o veredicto. Câncer em estado avançado. Dois meses foram o suficiente. Claro que penei um pouco e minha família também. Mas foi melhor assim, aqui entendi as necessidades.

Uma coisa me chamou muita atenção. É que passei o velório ao lado do meu caixão. Claro que via as pessoas mais próximas num estado de tristeza que eu sentia dó. Via os amigos chegarem, aproximarem e pensarem no dia em que estariam ali como eu, deitado, frio, coberto de flores e pronto para não ser mais olhado por ninguém. Via curiosos que vinham de outras capelas, de outros velórios. Vinham ver se eu era bonito, novo, interessante. Se era uma pena a minha morte, ou não. Enfim, exames de aparências. Via também pessoas desinteressadas naquele assunto de velar defunto. Estavam ali puramente por uma necessidade social e loucos por retornarem às suas casas e afazeres. Tudo bem. Provavelmente também tenha feio isto um dia e nem devemos cobrar dos outros aquilo que provavelmente não fizemos ou faremos.

Na hora do sepultamento amigos do lado de cá preferiram poupar-me daquele incômodo e pegamos carona numa embarcação confortável e vim parar nesta colônia onde moro. Descreve-la seria difícil, pois é uma colônia cujos trabalhos e moldes são parecidos com aquela famosa e já conhecida de todos os espíritas. Quando estava encarnado queria muito ir para lá. Acontece que por aqui a densidade demográfica é muito respeitada e não podemos invadir locais que não comportam mais ninguém. Assim retornamos para aquela da qual saímos ou somos convidados a outras de acordo com as nossas necessidades do momento.

Sim, o mundo espiritual é fantástico, divino mesmo. Aqui encontramos pessoas que nos alimentam a alma constantemente do desejo de aprender, amar e servir. Nossos trabalhos são variados e temos o compromisso de cuidar para que a colônia cumpra rigorosamente seus objetivos. Temos a liberdade de sermos como somos, afinal, santidade só lá, mais além. De forma que sempre fui alegre e animado e continuo sendo aqui. Existem, porém, alguns momentos em que precisamos parar e refletir. Dizem muito aqui que “Deus tem pressa para nos fazer progredir”.

Duas coisas me levaram e falar com vocês. Duas coisas que podem ser conhecidas, mas que reforço, pois é o que mais ouço por aqui. A primeira delas é sobre a oportunidade da reencarnação. Definitivamente os encarnados não sabem a validade de se habitar um corpo físico. É muito interessante notar que cada encarnação é composta por elementos sutis que quando estamos na carne, nem percebemos. Por exemplo: a família, amigos, infância, estudos, profissão, situações, velhice... Tudo está de acordo com cada um. Planejado em detalhes incríveis e que acontecem das formas mais extraordinárias. Foi maravilhoso para mim o dia em que pude rever minha ultima existência aí. Fiquei encantado com os detalhes. Por exemplo, quando conheci minha esposa, estava a trabalho de uma pequena empresa que, de repente, entendeu que alguém tinha que fazer determinado curso numa capital. Éramos ainda iniciantes naquele ramo e, com certeza um curso de aperfeiçoamento seria ideal. Pois bem, lá fui eu e, em meio aquele aprendizado encontrei-a, tinha vindo de outra cidade, distante da que eu morava. E quase não pude ir por causa de uma virose. Ali nos reencontramos e montamos nossas vidas. E por ai vai, outras e outras situações formatadas e que, gradativamente vão se encaixando no tempo certo. E eles ainda me disseram que outros eventos deveriam ter acontecido se eu não fosse tão imaturo em certas ocasiões.

E a outra coisa que queria deixar impresso é o compromisso que todos aqui têm com o Mestre Jesus. Nada é feito que não tenha como alvo principal o cumprimento do Seu Evangelho. Escolas sublimes existem por aqui para estudar a Sua Palavra e pesquisar os efeitos das mesmas. As pessoas falam de Jesus com tamanho amor que ficamos paralisados, às vezes, tamanha é a vibração harmoniosa com a qual somos envolvidos.

Quantas vezes vi espíritas falando timidamente no Mestre, com medo de serem considerados fanáticos, piegas, beatos. Quantos irmãos cabeçudos interpretavam à sua maneira as lições esclarecedoras do Nosso Senhor. Existiam até aqueles que sustentavam a ideia de serem desnecessárias as preces nas aberturas de reuniões de diretoria ou até mesmo de outros estudos públicos ou em grupo. Minha nossa! Aqui, ninguém perde a oportunidade de ouvir ou pronunciar este nome bendito “Jesus” que faz vibrar até as entranhas do planeta levando refúgio e refrigério para os que lá habitam.

Portanto, leitor amigo. Cuide muito bem da sua encarnação. É uma joia que provavelmente não compreenda por agora toda a extensão do seu valor, contudo vale a pena começar a pensar mais seriamente nisto. Cuide do seu corpo físico. Cuidado com os excessos. Ele foi planejado para cuidar de você! Cuidado com os fast food, com os encontros dominicais onde a carne, em suas variações, é o prato mais consumido. Cuidado com o álcool, com o tabaco, com outras drogas entorpecedoras. Cuidado também com os pensamentos. Cuidado com as formas anatômicas dos nossos irmãos ou irmãs. Enfim, cuide-se. Haverá um dia em que terá que fazer o que fiz, olhar para um caixão e ver lá a sua vestimenta inerte, inservível e tendo que se despedir dela.

Estude Kardec. Ele nos ensina a sentir Jesus e, não tenha vergonha de representá-lo entre os homens para que Ele “possa representá-lo perante Deus.” Homem nenhum é superior a ele neste nosso amado planeta. Não se deixe envolver por filosofias ou afirmações que dizem o contrário. Ele é o Mestre, O Construtor e o Amigo Incondicional de todos nós”.

​​Naquela noite Hugo foi para casa e separou em sua estante todos os livros dedicados ao estudo da mediunidade. Sim, era preciso rever conceitos.

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“Os médiuns, em sua generalidade, são Espíritos que resgatam débitos do passado.”

Martins Peralva

Mediunidade e Evolução- FEB - 1987 –Cap. 2

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