SEGUNDA PARTE
OS DEPARTAMENTOS
CAPÍTULO VI
A cada um segundo suas obras
"Digo-vos, em verdade, que dali não saireis, enquanto não houverdes pago o
último ceitil." JESUS-CRISTO - O Novo Testamento. (18)
(18) Mateus, 5:25 e 26.
Foi com emoção que o Grupo deixou o Pavilhão Indiano por volta da meia noite, por ser a primeira vez que lhes era permitido sair após as 18h. Os locais por onde andariam até chegarem no bairro da Vigilância eram iluminados por um sistema de iluminação incrível, cuja natureza não se conhecia. Estavam em uma grande caravana protegida por milicianos e lanceiros.
Chegaram em um vasto pátio cercado de muralhas e com grande movimentação de transeuntes, desencarnados e encarnados em desdobramento. Era um apêndice da Colônia, tipo um ponto de apoio, com gabinetes de trabalho.
Teócrito, entregou a Romeu e Alceste dois endereços diferentes, pedindo que trouxessem as senhoras que moravam lá e estavam nesse momento dormindo, se possível com seus maridos.
Esses locais eram a ilha de S. Miguel e um lugarejo do Nordeste brasileiro - locais muito pobres. Moravam lá duas irmãs, delinquentes do passado, que agora tentam se erguer moralmente, através de provas de resignação, humildade, paciência... seus Espíritos deverão ser atraídos para discutirem a possibilidade de se tornarem mães de dois internos do Manicômio, cujo único recurso para se aliviarem, no momento, é a reencarnação em círculo
familiar obscuro e sofredor.
Os internos deverão animar corpos enfermiços, onde se sentirão tolhidos e insatisfeitos através da existência toda. Assim cumprirão o tempo que lhes restava de permanência na Terra, ceifado pelo suicídio, e assim, se aliviarão dos embaraços vibratórios que se criaram, e obterão capacidade e serenidade para repetir a experiência em que fracassaram.
Não é provável, mas se as mulheres recusarem, a Providência Divina estará no direito de impor-lhes a prova, pela Lei de causa e efeito, uma vez que ambas erraram como mães em outras existências.
Desta vez, ao em vez de filhos missionários, inteligentes, considerados nobres no plano Astral, terão de expiar os infanticídios passados, recebendo criaturas agora culposas, transformadas pelo renascimento expiatório em criaturas repulsivas, as quais deverão dedicar-se como verdadeiras mães.
Reúnem no gabinete os dois infelizes do Manicômio, amparados por auxiliares, e as duas senhoras, uma delas com o marido, além do próprio Irmão João e Teócrito, que conversam com o casal português e com a brasileira nordestina sobre a vantagem do renascimento daqueles míseros infratores, por seu intermédio. Aos pacientes do Manicômio também eram apresentados os fatos.
Os indicados para a grandiosa missão de caridade resistem, esquivando-se ao convite. Insiste, porém, Teócrito, explicando a expiação dos erros que elas mesmas cometeram e as vantagens de tal desprendimento, dos méritos que conquistariam perante a Lei Suprema.
Ainda sob negativa, os trabalhadores decidem-se por uma medida vigorosa: mostrar às duas mulheres e ao marido os panoramas das próprias existências pretéritas vividas sobre a Terra e arquivadas no perispírito.
Um desfile sinistro de faltas abomináveis emergiu das consciências dos três expectadores. E tal foi a intensidade das cenas revividas, que gritos lancinantes foram ouvidos.
Quando se reabriram as portas, a portuguesa saiu triste, mas resignada e pronta para cumprir sua generosa missão, enquanto a brasileira, desfeita em lágrimas ardentes, se via reconduzida com ajuda do velho de Canalejas e de seu inseparável filho, Roberto.
No dia seguinte já houve a visita-instrução para prosseguirem. Será feita uma excursão
à Terra, conduzida por Irmão Teócrito, a fim de checarem o meio favorável para cada um reencarnar.
Depois irão à Seção de Planejamento de Corpos Físicos, estudar os dados vindos do exterior, depois à seção de Modelagem, onde os corpos futuros serão esboçados.
No Planejamento, dependendo do estudo, poderão ser:
a) - mutilados desde o nascimento;
b) – passíveis de o ser no decurso da existência, por enfermidade ou acidente;
c) - passíveis de aquisição de doenças graves e incuráveis;
d) - normais, o que indicaria, portanto, fatos decisivos na programação do paciente, harmonizados ao feitio das expiações e testemunhos a cada caso.
Na seção de Modelagem os mapas ou esboços encomendados eram organizados e encaminhados para revisão e aprovação. Nos esboços, pode- se ver:
a) - o envoltório primitivo, tal como existiu e foi aniquilado pelo suicídio;
b) - ao lado, numa placa fosforescente, a descrição do estado em que se
encontrava na ocasião do sinistro: estado da saúde, volume das forças vitais, grau de vibrações, estado mental, grau de instrução social, ambiente em que viveu, data do nascimento, data da época normal que se deveria dar o trespasse e a extinção da força vital, data em que se verificou o suicídio, local do desastre, o gênero dele, causas determinantes, nome do infrator;
c - o órgão atingido, assinalado com lesão idêntica à que sofrera o corpo material;
d) - casos especiais: afogamentos, trituração por esmagamento, queda. Reprodução plástica dos restos do envoltório, tal como o suicídio o reduziu.
Não raramente seus futuros ocupantes aprovavam por entre crises de choro, ou ainda pediam mais tempo, para se fortalecerem um pouco mais.
Os modelos eram estátuas representando o mapa anterior ao suicídio, animadas (de movimentos e vibrações), tornando-se, assim, protótipos a serem plasmados. Dava para ver o sangue correndo nas artérias, as vísceras, as cartilagens, os nervos...
O corpo é a ferramenta que o Deus concede às criaturas para ajudá-las nos trabalhos para o progresso espiritual na Terra. O homem terrestre deveria considerar-se honrado e feliz por obter um corpo assim, onde todas as particularidades visam a sua harmonia, servindo às necessidades de cada Espírito. Mas, muitas vezes, sem respeito à autoridade do Criador, essas criaturas se envenenam com excessos de toda a natureza: álcool, fumo, comida... O que desgasta o corpo, trazendo doenças que abreviam o período estimado para aquela existência.
A reencarnação não acontece sem a vontade do espírito. A Lei Soberana oferecerá possibilidades de o espírito voluntariamente observar, raciocinar e examinar os fatos. E geralmente o suicida se vê em condições tão precárias, que ele próprio deseja a reencarnação ansiosamente.
A exceção se dá com os internos do Manicômio, pois, muito prejudicados, com a vibração baixíssima, reencarnam compulsoriamente. A reencarnação compulsória acontece porque expiar tamanha confusão seria um processo longo e doloroso. O infeliz não pode adquirir percepções para a vida espiritual enquanto se encontrar neste estado. Então, precisa do contato com as mesmas forças vitais que se dispersou indevidamente com o suicídio e a terrível de intoxicação perispirítica e mental que ele ocasiona.
Irmão Teócrito mostrou certos esboços para o futuro, miniaturas encomendadas
para a próxima encarnação. Ao passo que as estátuas em tamanho natural representavam a configuração carnal de antes do suicídio, as miniaturas representavam a próxima encarnação: figuras esquálidas, torturadas pela amargura interior, com enfermidades atrozes, tais como a paralisia, a cegueira, a demência, etc. - que tanto afligem as criaturas terrenas.
Os homens encarnados, estudando mais, se conhecerão melhor e se respeitarão mais enquanto Criação Divina. A reencarnação é a medicamentação apropriada para cada caso. O reencarnado continuará sob cuidados do Instituto, hospitalizado pelo Manicômio, assistido sempre pelos médicos e psiquistas, além do Departamento Hospitalar, do Departamento da Reencarnação e da Direção-geral do Templo. Pois a reencarnação, que parece horrorizar, será como uma cirurgia delicada, medida drástica, prevista pela Grande Lei, mas que proporcionará alívio e cura.
Há muito amor e misericórdia em permitir a Lei o retorno à arena carnal na condição atual, concedendo novos ensejos para o suicida reerguer-se honrosamente, à custa dos esforços próprios, da nobreza edificante do Dever cumprido. Essa é marcha evolutiva para a glória da Vida Imortal. Estão sendo dadas oportunidades preciosas com a reencarnação.
Em seguida, o grupo soube que Irmão Clemente e irmã Celestina seriam responsáveis por eles durante a próxima existência planetária deles, como mentores. Somente encerrarão essa missão quando, quando acabar a expiação de todos pelo ato de suicídio.
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