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Parte 1 - Capítulo 3: "No Hospital Maria de Nazaré”

Atualizado: 9 de ago. de 2023

MEMÓRIAS DE UM SUICIDA

CAPÍTULO 3

NO HOSPITAL “MARIA DE NAZARÉ”

Após a retirada dos réprobos do Vale dos Suicidas, e de certa distância percorrida, puderam abrir as persianas do transporte e ver muralhas fortificadas, com seis torres ao longe. Aproximando-se do local puderam ler no grande portão de entrada LEGIÃO DOS SERVOS DE MARIA – COLÔNIA CORRECIONAL. Entraram temerosos do que viria em seguida.

Encontraram logo no início um vasto número de soldados egípcios e hindus. Sobre o pórtico da torre principal, lia-se: TORRE DE VIGIA. Parecia uma cidade bem movimentada. Estava coberta de uma névoa tipo uma cerração, mas não sentiam frio lá. Havia edifícios soberbos de estilo português e indivíduos uniformizados circulando por toda parte usando aventais com a sigla LSM.

Já dentro da cidade, foram convidados a descer num prédio identificado como Departamento de Vigilância – Seção de Reconhecimento e Matrícula. Camilo e seus companheiros entenderam que estariam sob tutela da Legião dos Servos de Maria e, naquele prédio, divididos em grupos de 10, deixaram suas identidades terrenas e o histórico do suicídio.

O processo de registro não era exatamente igual ao da Terra: as respostas dos pacientes iam sendo gravadas numa espécie de álbuns animados de cenas e movimentos, não em CDs como seria aqui. Esses álbuns reproduziriam não só uma simples fotografia, mas também imagens emitidas pelos pensamentos ao se responder às perguntas.

As mulheres foram separadas dos homens após a matrícula e encaminhadas aos departamentos femininos.

Os homens entraram em outro tipo de transporte, parecido com trenós, e partiram para um bairro diferente, deixando pra trás o da Vigilância e atravessaram campos rumo à outra província, identificada como Departamento Hospitalar.

Indicações no caminho revelavam, à direita, o Manicômio, e a esquerda, o Isolamento. O grupo seguiu pelo centro, onde se lia “Hospital Maria de Nazaré”.

O lugar surpreendeu a todos pela beleza! Um lindo parque, edifícios amplos com estilo português clássico se dispunham em harmonia, enquanto o grupo se admirava pela diferença de onde passaram os últimos pesadelos. O Hospital Matriz, como também era chamado, não possuía muros; era circundado por arvores e flores.

Cansados, sonolentos e tristes, subiram as escadas e foram recebidos por Romeu e Alceste, jovens com trajes indianos, assistentes do diretor do Departamento. Levados através das galerias de onde podiam ver o interior das enfermarias, foram distribuídos em dormitórios com 10 leitos cada, onde tomaram banho, trocaram as roupas e tomaram um reconfortante caldo. Isso os emocionou, remetendo ao lar paterno, às refeições em família...

Uma lareira aquecia todo o ambiente. Acima, um quadro da Virgem de Nazaré.

Após a refeição, Alceste e Romeu entraram no dormitório com Carlos e Roberto de Canalejas, médicos que os acompanhariam durante a hospitalização. Eram pai e filho, e foram médicos espanhóis quando encarnados.

OBS. TUDO QUE APRENDEMOS NA TERRA SE MANTÉM GUARDADO NO PERISPÍRITO. NADA SE PERDE, PODEMOS ACESSAR O CONHECIMENTO E USAR QUANDO DESENCARNADOS. AO VOLTARMOS PARA A TERRA, TEMOS UMA FACILIDADE MAIOR DE (RE)APRENDER ESSES MESMOS CONTEÚDOS.

Eles passaram por todos os leitos, os induzindo ao repouso. Logo depois, o grupo dormiu.

Ao despertar de um sono profundo e reparador, Camilo tinha o raciocínio mais claro. Se reconhecia novamente em si mesmo. Com isso, ardentes sentimentos de desgosto, remorso, temor e desapontamento tomavam conta dele. Começou a se achar envergonhado por estar ali, sendo tratado.

Seus companheiros estavam na mesma situação. Ainda não conseguiam conceber a ideia de que o suicídio não os matara.

Não era mais possível ver as cenas mentais de cada um, como no Vale. A enfermaria era muito confortável e bela. Apesar dos avisos de silêncio, os companheiros começaram a verbalizar seus sentimentos e angústias, assim como suas histórias até aqui:

• MÁRIO SOBRAL – enforcamento

Boêmio rico de Lisboa. Cursara a Universidade de Coimbra e era um excelente orador.

Dizia naquele momento que deveriam se entregar a Deus após o ato equivocado.

Nasceu em família simples. Sua mãe era devota a Deus e acreditava na alma mortal. Desde cedo, imputava sua crença em seus filhos.

Contudo, Mário se perdeu nas paixões mundanas e, ao cair em si, percebe a existência de Deus e pede perdão pelos atos cometidos.

Mário caiu nas trevas da desgraça, mesmo tendo recebido bons princípios morais na casa paterna.

Envaideceu-se com sua inteligência e cultura e cultivou o egoísmo.

Era casado e pai de 3 filhos, mas abandonou sua família por sua amante, Eulina. Num certo momento, Eulina o deixou, apesar das súplicas do português. Desesperado por perder o seu amor, foi à sua casa, provocou uma discussão. Vendo inútil todas as tentativas de reatar, a espancou e estrangulou, matando a amante. Logo depois o ato de extremo impulso, se enforcou com seus lençóis na cozinha.

COMO NOSSOS ATOS PASSIONAIS SÃO CAPAZES DE FAZER UM MAL IMPENSÁVEL AOS OUTROS. EM MEIO AOS PRAZERES DA CARNE E A CEGUEIRA DO ORGULHO FERIDO, UM HOMEM DESGRAÇOU DUAS VIDAS E, COM ISSO, GEROU UM IMPACTO EM TODOS DAS FAMÍLIAS.

• JERÔNIMO DE ARAÚJO SILVEIRA – disparo no ouvido

O mais impaciente, incoerente e revoltado também se assumiu crente a Deus, um católico militante. Acreditou, por isso, ser merecedor de bênçãos e indulgências especiais, o que irritou Camilo.

Jerônimo confessou uma juventude sem responsabilidades nos deveres cristãos.

Quando seus negócios de importação e exportação de vinhos, começou a ruir, tentou acabar com tudo, acreditando que, assim, se pouparia das censuras e humilhações que viriam com o fracasso. Deu um tiro no ouvido.

O ORGULHO E O APEGO MATERIAL SÃO CAPAZES DE DESEQUILIBRAR NOSSA VIDA TERRENA, ABSTRAINDO COISAS QUE SÃO REALMENTE ESSENCIAIS, COMO O AMOR, A HUMILDADE E A RESIGNAÇÃO.

• BERLARMINO DE QUEIROZ E SOUZA – golpes nos pulsos

Alto, magro, elegante e fino. Dizia-se rico e viajado, era professor de Dialética e Matemática. Polido, educado e sentimental, deixou-se levar pelo orgulho e o egoísmo por se julgar superior.

A filosofia o levou ao materialismo e acreditava que a Vida é a expressão máxima da desgraça. Por isso, não quis constituir família e se dedicou apenas aos estudos.

Certo dia descobriu que contraíra tuberculose e, desenganado pela ciência pela qual sempre se baseou, resolveu pôr fim em sua vida evitando definhar, cortando seus pulsos.

Baseou sua decisão em argumentos lógicos e não entendia como alguém que crê em Deus pode cometer suicídio.

A CIÊNCIA E A RAZÃO AJUDAM O HOMEM A EVOLUIR EM SOCIEDADE, MAS A LÓGICA NÃO É SUFICIENTE PARA COMPREENDERMOS O VALOR DA VIDA. SOMOS, AINDA, MUITO LIMITADOS PRA ENTENDER TODAS AS QUESTÕES, MAS DE FORMOS HUMILDES, TEREMOS A BENÇÃO DE CAPTAR ALGUMAS COISAS, COMO O AMOR À VIDA E NOSSAS MISSÕES TERRENAS.

• JOÃO D`AZEVEDO – envenenamento

Arrojou-se no suicídio com envenenamento por conta da paixão pelo jogo. Ainda não temos muitas informações sobre a sua história.

ASSIM COMO A OBSESSÃO PELA CARNE, PELO MATERIAL E PELA RAZÃO CEGA, MUITOS HOMENS SE DESVIRTUAM PELO VÍCIO DO JOGO. NENHUM BEM, DE QUALQUER SORTE, TEM MAIS VALOR DO QUE A NOSSA VIDA.

• CAMILO CÂNDIDO BOTELHO

Se imaginava superior aos demais. Muito pobre, porém extremamente intelectualizado, era idealista e orgulhoso.

Não era descrente de Deus, mas não o levava para sua vida.

Teve uma existência fértil em dissabores, mas nunca trabalhou a resignação. Tinha um caráter violento e agitado, o que o tornou irritadiço e genioso.

Sua maior desgraça foi ter ficado cego. Não aceitava que isso poderia acontecer logo com ele e deu-se por vencido. Teve medo e vergonha por ser cego.

Matou-se para encobrir a sua incapacidade, revoltado com o destino, contra a Providência. Faltou-lhe compreensão sobre as Leis de Deus;

Toda essa lembrança espalhou vibrações desarmoniosas. Os enfermeiros precisaram acudir, uma vez que o incidente não era previsto, com emanações revivificantes, através de ondas magnéticas salutares.

Deveriam, agora, repousar e esquecer o passado de tormentos. Infringir esses regulamentos poderia acarretar uma reincidência e punições, já que foram bastante instruídos desde o momento que entraram lá. Caso se repetisse, iriam para o Isolamento.

Foi então, estabelecida maior vigilância naquela dependência. Tudo para o bem dos senhores que lá estavam e para a disciplina hospitalar de forma geral.

Um guarda do regimento de lanceiros foi designado a fazer plantão no apartamento. Era Joe Steel, um enfermeiro loiro, jovem e risonho, português nato, de origem inglesa.

Levou-os aos gabinetes cirúrgicos para serem submetidos a exames e fossem iniciados os trabalhos de recuperação. Prontificaram-se, esperançosos por cessar essas dores, reflexo do que ocorrera no campo físico-material.

O Hospital Maria de Nazaré não só era belo, mas também tinha um aparelhamento apropriado às necessidades da clínica do astral, mostrando um pouco do elevado grau da Medicina espiritual, mesmo não sendo uma zona adiantada em temos vibracionais.

Os médicos e dirigentes eram muito solícitos. Uns vestiam uniformes indianos, outros, aventais vaporosos e fluorescentes.

Logo mais Camilo foi conduzido pelo jovem Roberto de Canalejas a uma dependência onde seu perispírito seria submetido a minuciosos exames.

Carlos de Canalejas e Rosendo, um dos psiquiatras hindus do grupo, assistiram Camilo, enquanto Roberto observava tudo em posição de aprendizado.

Foram prestados socorros físicos e astrais nas áreas dilaceradas pelo tiro no corpo carnal: aparelhos laríngeos, auditivos, visual e cerebral.

Era como se Camilo possuísse um segundo corpo, indestrutível, modelo do que fora afligido pelo suicídio, que mostrava as repercussões vibratórias do carnal. Os tecidos semimateriais do perispírito, afetados, receberam sondagens de luz, banhos magnéticos, substâncias luminosas extraídas dos raios solares.

Foram feitas fotografias e mapas movediços que seriam analisados mais tarde, pela Sessão de Planejamento de Corpos Físicos, no Departamento de Reencarnação, para estudos destinados a preparação da próxima vestimenta carnal que seria útil às expiações na Terra.

Envolvido em aparelhos sutis e luminosos, Camilo permaneceu 1 hora enquanto Canalejas e o cirurgião hindu encorajavam a ter confiança no futuro. Sabia que havia causado trabalhos árduos aos Trabalhadores do Bem, levando-os a devotamentos proferidos até a extinção das correntes magnéticas sintonizadas com o físico terreno, as quais mantinham o clamoroso desequilíbrio, indescritível pela expressão humana.

É que o corpo astral não é uma abstração. É uma organização viva, sede das sensações e onde se imprimem todos os acontecimentos que impressionam a mente e afetam o sistema nervoso, do qual é dirigente.

Aqui também persiste uma substância material, que a ele faculta a possibilidade de adoecer e ressentir-se.

Sob tantos cuidados médicos, Camilo ainda possuía dúvidas quanto à sua própria situação em relação a vida e morte.

O cirurgião hindu explicou-lhe, então, que ele não morreu e não morrerá jamais porque a morte não existe na Lei do Universo.

Houve um lamentável desastre com seu corpo físico-terreno, aniquilado antes da “hora programada”.

A vida não residia no corpo físico-terreno e, sim, neste segundo corpo que sentes no momento, que é o que realmente sofre, vive, pensa e traz a qualidade de ser imortal.

Enquanto o de carne, que rejeitou, é apropriado apenas para o uso durante a permanência na Terra.

Camilo carecia de repouso. Serviram-lhe um caldo e ele adormeceu.

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