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Parte 1 - Capítulo 6: "A comunhão com o Alto"

Atualizado: 9 de ago. de 2023

Memórias de Um Suicida

Parte I – Réprobos

CAPÍTULO VI - A comunhão com o Alto



Mesmo com métodos tão incríveis de tratamento, havia no Isolamento e no Manicômio quem não conseguia ainda reconhecer a própria situação.


Atordoados e semi-inconscientes dependiam das vibrações animalizadas a que estavam habituados. Precisavam de um confronto com essas energias mais pesadas para chocá-los com a revivescência e fazê-los entender a sua situação através da sensação humana.


Nossos instrutores - Romeu e Alceste - informaram ao diretor da necessidade de buscarem aprendizes de ciências psíquicas na Terra para resolverem complexos mentais de alguns internos, insolúveis na Espiritualidade.


Olivier de Guzman, pôs à disposição o pessoal necessário, ao mesmo tempo que solicitava indicações seguras sobre agremiações de estudo reconhecidamente sérias. O Brasil foi escolhido, muito pela variedade de organizações científicas com senso religioso e moral cristã.


Nessa mesma noite partiu volitando com pequena caravana com destino ao Brasil, chefiada por Ramiro de Guzman. Iam, além dos instrutores Alceste e Romeu, dois cirurgiões especializados na ciência da organização físico-astral, com poderes para examinar as possibilidades dos médiuns indicados. Desse exame dependeria a escolha definitiva das instituições a serem visitadas.


Antes da partida, enviaram mensagens telepáticas aos diretores das instituições, solicitando-lhes permissão para os entendimentos a serem firmados com os médiuns, cujos serviços deveriam ser voluntários, em nome da Legião dos Servos de Maria.


Ficou estabelecido que os mentores espirituais dos médiuns lhes sugeririam osonomais cedo que comum, permitindo os exames, explicações e negociações em desdobramento. Uma vezdesprendidos dos corpos, deveriam serencaminhados para a sede do centro a que pertenciam.


Foram para o interior do Brasil, onde a quietude e simplicidade de costumes mantinham um bom meio ambiente social. Lá, expuseram, solicitando aos médiuns sua ajuda para o esclarecimento dos suicidas incapacitados de se convencerem da passagem. O estado lamentável a que se reduziram aqueles infelizes não foi omitido. Os médiuns deveriam contribuir muito com suas energias para alívio dos desgraçados que lhes bateriam à porta. Seria até mesmo possível que, durante o tempo que estivessem em contato com eles, sentissem amarguras, mal-estar, perda de apetite, insônia.


A direção do Instituto Maria de Nazaré oferecia suprimento das forças consumidas, quer orgânicas, mentais ou magnéticas, imediatamente após o final da missão, e a Legião dos Servos de Maria, a partir daquela data, jamais os deixaria sem a sua atenção. De qualquer forma, estariam livres para aceitar ou não ao convite. Assim se realizaram as primeiras doze visitas. Dos vinte médiuns convidados, quatro senhoras e dois homens ofereceram apoio aos emissários da Luz, fiéis aos compromissos. Outros prontificaram-se fazer irradiações benévolas e preces sinceras.


Foram feitos exames da organização astral e do envoltório material dos médiuns. Vigor cerebral, atividades cardíacas, circulação, estado geral das vísceras e do sistema nervoso, e até funções gástricas, renais e intestinais foram cuidadosamente investigadas. As possíveis deficiências encontradas seriam atempo reparadas por ação fluídica e magnética, pois tinham à frente ainda vinte e quatro horas para os preparativos.


Passaram em seguida à vistoria do perispírito. Conduzidos a um dos postos de emergência, tiveram os seus perispíritos examinados e corrigidos os excessos ou deficiências apresentadas, a fim de que resistissem sem sofrer distúrbios. Correntes magnéticas harmoniosas foram dispostas de uns para outros, trabalhando a atração simpática e a combinação dos fluidos. Finalizados os preparativos, reconduziram os colaboradores terrenos aos seus lares, acordando-os do sono em que os haviam mergulhado.


Na manhã seguinte partiríamos em visita de instrução aos planos terrenos, o que gerou alvoroço pela possibilidade de revermos nossas famílias e amigos, o que não poderia acontecer.


Turmas de operários e técnicos partiram ao anoitecer, levando aparelhos necessários ao trabalho. Um esquadrão de lanceiros foi para o interior do edifício onde se realizaria a Sessão Espírita e postou-se de guarda fazendo ronda desde as primeiras horas da madrugada.


A sede do Centro Espírita ficou circulada por milicianos hindus e o emblema respeitável da Legião foi cravejado no alto da fachada principal, invisível a olhos humanos. Enquanto isso, foi solicitada ao diretor espiritual do Centro que dessem atenção especial à ambiência dos médiuns, porque, nada menos do que uma falange de Espíritos suicidas seria encaminhada para ali.


Fluidos magnéticos foram disponibilizados na sala de operações para duas finalidades: 1. servirem como material necessário à criação de quadros visuais demonstrativos, durante as instruções aos pacientese2. como tônicos para combate às vibrações nocivas, inquietantes e desarmoniosas dos Espíritos sofredores presentes ou até mesmo de algum colaborador terreno que deixou

de orar e vigiar naquele dia, arrastando para a mesa as emanações da mente conturbada.


--



Ao entardecer iniciou-se o transporte das entidades ao local. Pela manhã do mesmo dia, porém, já nos aplicaram energias balsamizantes para nosso tratamento e fomos esclarecidos quanto à importância da reunião a que deveríamos assistir.


Durante a viagem deveríamos evitar as conversas, equilibrar nossas forças mentais para o bem e recordar as instruções que vínhamos recebendo havia

dois meses. Isso nos conservaria concentrados e com isso, auxiliando nossos condutores na nossa própria defesa, pois atravessaríamos perigosas zonas inferiores do Invisível, onde viviam hordas de desordeiros do Astral inferior.


O silêncio e a concentração imprimiriam maior velocidade aos veículos que

nos transportavam, afastando possibilidade de tentativas de assalto por parte daqueles malfeitores.


Não poderíamos nos destacar do grupo em hipótese alguma, nem mesmo

com o louvável intuito de uma visita à Pátria ou à família. Semelhante indisciplina poderia nos custar muitas lágrimas, pois éramos fracos, inexperientes e pouco

conhecedores do mundo invisível, onde a maldade prolifera, mais ainda do que na Terra! Em ocasião oportuna visitaríamos nossos entes caros sem nenhum contratempo.


Sejá é dever do cristão calar paixões e desejos impuros, procurando dominá-los diariamente, imagina nos momentos de trabalho no centro, onde mortos e vivos se encontram para trocar impressões, mutuamente se esclarecendo. É necessário chamar os pensamentos mais sadios, esquecer mágoas e preocupações, levando bem alto o padrão dos sentimentos.

No mesmo grupo iam entidades ainda mais desafortunadas do que nós, que não tinham conseguido nenhum alívio ainda por causa da grande desorganização nervosa e mental. Podíamos auxiliar, apesar da nossa fraqueza, contribuindo com nossos pensamentos benevolentes, vibrando em sentido favorável a elas. Tal ato de nossa parte ajudaria os réprobos, nos concedendo ao mesmo tempo o mérito da verdadeira cooperação.


Na Terra, nem todos os homens convidados ao trabalho guardavam essa higiene moral e mental. Para desvendar os mistérios celestes sempre foi indispensável a autodisciplina moral e mental e o preparo individual prévio, que obrigam modificações sensíveis no interior de cada um, ou, pelo menos, o desejo veemente de reformar-se.


Ao entardecer partimos para os planos terrenos com pesada escolta de lanceiros, turmas de assistentes, psiquistas e técnicos da vigilância.

Nossos comparsas em piores condições foram transportados em carros apropriados, rigorosamente fechados e guardados pela fiel milícia hindu. Seus gritos, gemidos e choro convulsivo que tão bem conhecíamos, chegavam até nós

despertando-nos profunda compaixão.


Terminada a viagem notamos como podíamos ver tudo em derredor melhor. Víamos aquela humilde habitação toda iluminada e com a Cruz radiosa - emblema dos servos de Maria. Lanceiros montavam sentinela à pequenina mansão transformada em solar de estrelas, havendo mesmo um cordão luminoso, circulando-a cuidadosamente, limitando-a da via pública em cerca de dois metros.


Não queriam a intromissão no recinto nem mesmo de emanações mentais heterogêneas, prevenindo o quanto possível das investidas nocivas exteriores de qualquer natureza!


Ao entrarmos no salão indicado para o nobre acontecimento, o quadro a contemplar era majestoso. Haviam desaparecido os limites da sala de trabalhos, como se as paredes fossem magicamente afastadas a fim de se dilatar o recinto. Em seu lugar, tribunas circulares como arquibancadas ou um anfiteatro.


Nossos guias vigilantes indicaram as arquibancadas para sentarmos e os infelizes companheiros, cujo estado era mais grave, eram conduzidos por seus médicos e assistentes para o primeiro plano das arquibancadas, mais apropriado às suas condições.


Na sala já se achavam reunidos os médiuns, tomando cada um o lugar conveniente. Para estes nada mais havia além das paredes brancas, a mesa que singela, livros, papéis em branco e alguns lápis. Os dotados de vidência, todavia, viam algo inusitado, e comunicavam timidamente a seus pares, que visitas importantes do Além honravam a Casa naquela noite.


Ao centro do salão destacava-se a mesa de trabalhos dos colaboradores

encarnados. Rodeavam-na o seu presidente com médiuns e afins para a

corrente simpática de atração. Abrangendo essa primeira corrente magnética produzida pelas vibrações harmoniosas dos encarnados, existia uma segunda, composta por entidades translúcidas, cujas feições mal podíamos fixar, tais os reflexos vivos que emitiam, parecendo antes silhuetas encantadas, orladas de raios cristalinos e puros: - eram os Espíritos Guias do Centro visitado, os protetores dos médiuns, assistentes e familiares das pessoas presentes, que, abnegadamente, talvez desde milênios se dedicavam ao objetivo da sua redenção!


Nossos médicos e enfermeiros já se achavam a postos, junto dos médiuns e dos enfermos, indo e vindo.


Os lanceiros - colaboradores arrojados e silenciosos - dir-se-ia trazerem as forças não nas lanças, mas nas mentes rigorosamente moldadas, com disciplina, renúncias e aprendizados abrilhantados na dor dos sacrifícios! Cada colaborador no posto que lhe era devido, cumpria iniciar a chamada.


Conde de Guzman iniciou, mas nem todos se encontravam fielmente reunidos na hora que fora combinada! A chamada que, do plano espiritual, lhes era feita, acusava nada menos de três ausentes do cumprimento do Dever...


Iniciaram-se, finalmente, os trabalhos em nome do Altíssimo. Visivelmente inspirado pelas entidades iluminadas presentes, o presidente da Casa

desenvolveu ardente prece, que predispôs nossos corações ao

enternecimento.


Suplicara aos mentores a graça de nos darem por instantes o poder da visão a distância, para acompanharmos tudo. E eis que fomos satisfeitos em nossas pretensões, e assim desapareceram os limites da simples habitação terrena.


De repente víamos a reprodução do que acontecia na sala, onde se reuniam os responsáveis da Colônia. Nos foi permitido ver doze varões, belos, nobres, com mentes graves e pensadoras, assim como corações generosos, de onde irradiavam brilhantes raios, revelando a grande firmeza dos princípios virtuosos que os impulsionam! Vibravam eles ali, reunidos secretamente, elevando os pensamentos em alturas sublimes, concentrados e firmes, alongando, com as melhores reservas mentais que possuem, as próprias almas na súplica, para que mereçam!


Todos presentes à magna reunião, a presença do Grande Consolador, assim estabelecendo as correntes invencíveis, virtuosas e cândidas para aquela noite e a reunião espírita terrena séria, bem dirigida!


Os demais servidores, mesmo dedicados e sinceros, não podem presenciar essa magna assembleia realizada no Além. Não alcançaram ainda as vibrações perfeitamente homogêneas. Na vasta colonização do Instituto Maria de Nazaré, apenas esses doze mestres de iniciação se apresentam perfeitamente idênticos em qualidades morais, graus de virtude e de ciência e estado de espiritualização para a comunhão no sublime ágape que efetuam!


Além de simples e modestos, os doze sabem que de si mesmos pouco têm

para distribuir com os mais necessitados e sofredores, porque consideram diminuto o cabedal de ciência adquirido. Então oram e suplicam em harmonioso conjunto, sem que nenhum se considere digno bastante de ser chamado mestre ou chefe dos demais! Só sabem é que devem servir, porque não passam de servos de uma grande corporação onde a lei é o amor ao próximo, o devotamento às causas generosas, a justiça, a abnegação, o trabalho, o progresso para a conquista do melhor! Para eles, o verdadeiro chefe é Jesus de Nazaré.


"Em qualquer lugar onde se acharem duas ou mais pessoas reunidas em

meu nome, eu estarei entre elas." (6)

(6) Mateus, 18:20.


Naquela noite memorável para todos de minha sinistra falange foi escolhido o tema evangélico a ser estudado e comentado. Como vemos, o ensino era

fornecido por Jesus, cujas lições levantavam o pedestal de tudo o que se desenrolaria. Iniciada a leitura do Evangelho, e as parábolas elucidativas, as ações magnânimas e carinhosas e as promessas inesquecíveis comovem o coração dos aprendizes da Escola de Allan Kardec, repercutindo gratamente, pela primeira vez, no íntimo de cada um de nós o divino convite para a redenção.


Para as criaturas terrenas ali presentes tratava-se apenas do irmão presidente a ler e comentar o assunto escolhido, em hora de inspiração. Para os Espíritos que se aglomeravam no lugar, porém, havia muito mais que isso! Para estes, são figuras, vultos, sequências que se agitam a cada frase do orador! É uma aula singular e terapêutica, como medicamentação para balsamizar nossas desgraças! A palavra – vibração do pensamento criador, repercutindo em ondas sonoras, onde se retratavam as imagens mentais daquele que a proferia, e espalhando-se pelo recinto saturado de substâncias fluido-magnéticas apropriadas e fluidos animalizados dos médiuns e assistentes encarnados – é rapidamente acionada e concretizada, tornando-se visível.


De nossas arquibancadas, rodeados de lanceiros quais prisioneiros do

pecado que em verdade éramos, tivemos a inédita e grata surpresa de assistir ao

desenrolar das narrativas escolhidas, em movimentações, na faixa flamejante que do Alto descia iluminando a mesa e o recinto. Se havia referência à personalidade inconfundível do Mestre Nazareno - era a reprodução de Sua augusta imagem que se desenhava, tal como cada um se habituara a imaginá-lo no âmago do pensamento desde a infância!


Se recordavam Seus feitos, Sua vida de exemplificações sublimes, Seus gestos

inesquecíveis de Protetor Incondicional dos sofredores. Além disso, o víamos tal como o texto evangélico o descrevia: bondoso e amorável distribuindo Seu manancial de Amor aos pobres e sofredores, ignorantes e crianças, pecadores, adúlteras, publicanos, samaritanos, doutores...Aos doentes do corpo e do espírito, aos arrependidos como aos próprios crentes da Sua Doutrina de Luze aos Seus próprios apóstolos!...



Enquanto o presidente - que não enxergava com olhos materiais esses quadros majestosos que se elevavam da sua leitura e do comentário, embora sentisse as vibrações harmoniosas - ia repetindo e comentando as encantadoras, inesquecíveis lições de Jesus de Nazaré


- Vinde a mim, vós que sofreis e vos achais sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei comigo, que sou brando e humilde decoração, e achareis repouso para vossas almas, pois é suave o meu jugo e leve o meu fardo."


- Bem-aventurados os que choram e sofrem, porque serão consolados. Bem-aventurados os famintos e os sequiosos de justiça, pois que serão saciados. Bem- aventurados os que sofrem perseguição por amor à justiça, pois que é deles o reino dos céus. Bem-aventurados vós, que sois pobres, porque vosso é o reino dos céus. Bem-aventurados vós que agora tendes fome, porque sereis saciados. Ditosos sois, vós que agora chorais, porque rireis. Deus não quer a morte do pecador, mas que ele viva e se arrependa. O Filho de Deus veio buscar e salvar o que se havia perdido. Das ovelhas que o Pai me confiou, nenhuma se perderá.

Se queres entrar no reino de Deus, vem, toma a tua cruz e segue-me...



- Eu sou o Grande Médico das almas e venho trazer-vos o remédio que vos

há de curar. Os fracos, os sofredores e os enfermos são os meus filhos prediletos. Venho salvá-los! Vinde, pois a mim, vós que sofreis e vos achais oprimidos, e sereis aliviados e consolados. Venho Instruir e consolar os pobres deserdados. Venho dizer-lhes que elevem a sua resignação ao nível de suas provas, que chorem, porquanto a dor foi sagrada no Jardim das Oliveiras; mas que esperem, pois que também a eles os anjos consoladores lhes virão enxugar as lágrimas.



E era um desfilar empolgante de cenas, das quais o Consolador Amável

destacava-se irradiando convites irresistíveis a nós, réprobos sofredores e

desesperançados, enquanto o orador rememorava as divinas ações por Ele praticadas!...


Silêncio religioso presidia as arquibancadas. Emoções desconhecidas emergiam das profundezas dos nossos Espíritos atribulados e tristes, uma alvorada de confiança, prelúdio prometedor da Fé que nos deveria impulsionar para os labores da salvação.


Suspensos pelos interesses do ensinamento, olhávamos aqueles quadros sugestivos, criados momentaneamente para nossa elucidação, e nos quais destacávamos o Nazareno socorrendo os desgraçados, enquanto a palavra afetuosa do orador, envolta nas ondas fluídicas, ainda mais doces, do pensamento caridoso dos seres angélicos, instruía ternamente, com entonações que repercutiam nos nossos Espíritos carentes de consolo. Então sentimos que, pela primeira vez, desde muitos anos, a Esperança descia seus mantos de luz sobre nossas almas!



De súbito, um grito de desespero quebrou a paz da reunião. Um dos nossos míseros pares a quem denominávamos "retalhados" no Vale Sinistro, e cujo estado de incompreensão e sofrimento, muito grave, exigira a presença humana a fim de ser suavizado – jogou-se de joelhos ao solo e suplicou por entre lágrimas:

"- Jesus-Cristo! Meu Senhor e Salvador! Compadecei-vos também de mim!

Eu creio, Senhor! e quero a vossa misericórdia! Não posso mais! Não posso mais!

Enlouqueci no sofrimento! Socorrei-me, Jesus de Nazaré, a mim também, por piedade!..."


A um sinal de Alceste e de Romeu, os bondosos enfermeiros ampararam-no,

conduzindo-o ao médium, uma senhora ainda jovem. Dois médicos, responsáveis pelo Espírito em questão, acompanharam-no, estabelecendo sua ligação com o precioso veículo, e também a este dispensando total assistência, a fim de que nenhum contratempo ocorresse.


Apossando-se de um aparelho carnal que lhe emprestavam, no intuito de ajudá-lo a conseguir alívio, o desgraçado suicida sentiu, em toda a sua plenitude, a tragédia que havia longos anos experimentado nas trevas do martírio inconcebível!... pois tinha agora, ao seu dispor, outros órgãos materiais, nos quais suas vibrações, ardentes e tempestuosas, esbarrando brutalmente, voltavam plenamente animalizadas para produzirem no seu torturado corpo astral repercussões minuciosas do que fora passado!


Gritos lancinantes, estertores macabros, terrores satânicos, todo o pavoroso estado mental que arrastava, refletiu ele sobre a médium, que traduziu para os circunstantes encarnados ali presentes -, a assombrosa calamidade que o túmulo encobria!


Enlouquecido, vendo sobre a mesa os pedaços em que se partira corpo de carne, por ele próprio atirado sob as rodas de um trem (pois seu inacreditável estado mental fazia-o ver, por toda parte, o mal que existia em si mesmo) arrebatou a jovem médium em agitações tentando reunir aqueles fragmentos e reorganizar o corpo, que via, cheio de horror, eternamente disperso sobre os trilhos. Presa dramática de uma das mais abomináveis alucinações que o Além túmulo costuma registrar!


Ia, nervosamente, apanhando papéis, livros e lápis que se achavam sobre a mesa,

e, neles julgando reconhecer as próprias vísceras esfaceladas, ossos triturados, carnes sangrentas. Mostrava-os, chorando convulsivamente, ao presidente da reunião, a quem enxergava com facilidade, suplicando sua intervenção junto a Jesus Nazareno, já que tão bem O conhecia, para remediar-lhe a alucinadora situação de se sentir assim despedaçado e reconhecer-se, e sentir-se vivo!


Gargalhava e chorava a um mesmo tempo, suplicava e gemia, expunha o drama que para si mesmo criara com o suicídio e o remorso inconsolável de reconhecer tardiamente que todos os dramas da vida terrena eram meros contratempos, contrariedades banais, comparados aos monstruosos sofrimentos originários do suicídio.


O presidente, inspirado, fala-lhe piedosamente, consola-o apontando

o Evangelho como o recurso capaz de socorrê-lo, e garantindo-lhe ainda, a intervenção do Médico Celeste, que proporcionará alívio imediato aos males que o afligem. Eleva então uma prece, que se transforma em uma corrente vigorosa de luz resplendente, atingindo o Alvo Sagrado e voltando fecundada pela Sua divina misericórdia!


Cada pensamento que se unifica aos demais, cada expressão caridosa extraída do coração, são vozes a lhe darem esperanças, são bálsamos, vislumbres de bonanças. Após a prece seguiu-se silêncio impressionante. Todos concentrados, apenas a médium se estorcia e chorava, traduzindo o assombro da entidade comunicante. Pouco a pouco, sem que uma única palavra tornasse a ser dita, e enquanto apenas as forças mentais de desencarnados conjugadas com as de encarnados trabalhavam, efetivou-se a Divina Intervenção.


As vibrações mentais dos assistentes encarnados, e particularmente da

Médium reagiam contra as do comunicante, que, viciadas, enfermas, positivamente descontroladas, contrastavam violentamente com aquelas. Estabeleceu-se, assim, luta árdua para realização de uma operação psíquica para as influenciações saudáveis, fornecidas pela médium e pelos guias, impor-se e domar as emitidas pela entidade sofredora.


A corrente poderosa pouco a pouco apresentou os resultados esperados, dominando as vibrações do suicida depois de passar pelo veículo mediúnico, que, adaptando essas vibrações para afinizar com o paciente, tornava-a assimilável por este. Eram como que compressas anestesiantes na organização fluídica do penitente, a fim de torná-la em condições de suportar a verdadeira terapêutica requisitada pelo caso.


Lentamente a médium se aquietou, porque o espírito acalmara. Já não via os reflexos mentais do ato temerário. Grata sensação de alívio perpassava suas fibras perispirituais. Continuava o silêncio e pelo recinto apenas a melodia evangélica"- Vinde a mim, vós que sofreis e vos achais sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Enquanto ele chorava, entrevendo possibilidade de melhor situação. Suas lágrimas traduziam a expressão agradecida de quem sente a intervenção beneficente...


Então, Alceste e Romeu acionaram as forças da intuição, com veemência,

sobre a mente do presidente da mesa que para a explicação do que sucedeu. Se repete então oque havíamos assistido nas assembleias do Hospital: Avida do paciente ressurge, como fotografada, refletida nesses quadros, de suas mesmas

recordações, desde o berço até o túmulo por ele mesmo cavado!


O suicida reviu o que praticou; contemplou, perplexo e aterrado, os destroços a que seu gesto brutal reduzira sua configuração humana cheia de vigor e deseiva para o prolongamento da existência, mas agora independente daqueles destroços, como se houvera despertado de hediondo pesadelo!


Observou, desfeito em lágrimas, que mãos piedosas recolheram seus despojos sangrentos de sobre os trilhos; assistiu comovido ao sepultamento em terra consagrada... e viu o vulto confortador de uma Cruz montando guarda à sua sepultura. Compreendeu, assim, e aceitou o acontecimento: era

imortal e continuaria vivendo, vivendo ainda e para todo o sempre, apesar do suicídio! De nada aproveitara a resolução infernal de tentar burlar as leis divinas se não para sobrecarregar-lhe a existência, assim como a consciência, de responsabilidades pesadíssimas. Se o corpo material se extinguia, o Espírito, que é a personalidade real.


Que ofício religioso ultrapassará em glórias essa reunião singela, desprovida de vaidades? Onde mais a atribulada alma de um suicida, descrente da misericórdia do seu Criador, é convertida aos alvores da Fé, pelo Evangelho?


Homem! Irmão, Alma imortal fadada a Eternidade! Apressa a marcha da tua evolução, reeducando o teu caráter de acordo com o Evangelho do Cristo de Deus! Cultiva tuas faculdades anímicas no silêncio das meditações nobres e sinceras; esquece as vaidades; relega os prazeres mundanos que para nada servem senão para excitar-te o ssentidos,


Tira do teu coração o egoísmo que te inferioriza espiritualmente. Abre seu peito para a aquisição de virtudes e deixa que teu coração se dilate para a comunhão com o Céu... Então, o calvário terreno será aliviado e tudo parecerá mais suave e mais justo ao teu entendimento, aclarado pela compreensão sublime da Verdade.


E depois, quando estiver preparado para as renúncias necessárias à redenção; e livre das ilusões efêmeras do mundo - que teus dons mediúnicos se entreabram para a convivência ostensiva com o Mundo Invisível.


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