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Parte 2 - Capítulo 3: "O Manicômio"

Atualizado: 9 de ago. de 2023

SEGUNDA PARTE

OS DEPARTAMENTOS


CAPÍTULO III

O Manicômio


Falaremos das impressões tidas na segunda visita programada pelo Irmão Teócrito para nossa instrução, na tarde seguinte que visitamos a Torre.


Abriram-se de par em par os magníficos portões do Manicômio, nos permitindo passagem. Lá eram recolhidos os espíritos que não conseguiam raciocinar normalmente por conta do estado mental excessivamente deprimido, consequências do suicídio.


O diretor do Manicômio era um antigo psiquista indiano, conhecedor profundo da alma humana. Seus cabelos brancos escapavam do turbante que tinha uma coroa de louros, o que mostrava os méritos adquiridos no trabalho de devoção a seus irmãos infelizes. Seu nome, adotado após a iniciação no Cristianismo, era João e sobre seus ombros pesava a tremenda responsabilidade dos enfermos mais graves de toda a Colônia!


Suficientemente materializado, a fim de melhor nos permitir a compreensão, Irmão João tinha a característica pele morena dos hindus; grandes olhos perscrutadores, fronte ampla e estatura elevada. No dedo, um anel de esmeralda mostrava que era médico, assim como no alto do turbante uma outra pedra. Usava o mesmo traje dos demais companheiros, exceto os sacerdotes, que preferiam conservar a roupa sacerdotal.


Extremamente simpatizados por essa figura, o rodeamos sem cerimônias, como se o conhecêssemos de longa data, atraídos pelas suas esplêndidas vibrações, enquanto ia ele entrando no importante estabelecimento


"- Antes de tratarmos de qualquer assunto interessante - esclareceu, gentil e

atencioso -, deverei alertar que meus queridos pupilos são inofensivos. Alguns estão ainda estado de alucinação; outros imersos em prostração, carecendo de

zelos especiais, conforme verão. Digo, porém, que são inofensivos, comparado a um louco terreno, pois os meus pobres pupilos não agrediriam nem atacariam, como geralmente acontece com os loucos dos manicômios terrenos. Todavia, apresentam perigos - não só para homens encarnados, mas para Espíritos não ainda imunizados pelas atitudes mentais sadias e vigorosas - razão pela qual os separamos de vocês, mantendo-os isolados. Seus deploráveis estados vibratórios, são tão prejudiciais que, se se aproximassem de um homem encarnado, permanecendo com ele vinte e quatro horas, e se esse homem lhes oferecesse analogias mentais, deixando-se dominar pelas sugestões, poderiam levá-lo ao suicídio, prostrado por grave doença, alucinado ou mesmo louco! Junto a uma criança poderiam matá-la de um mal súbito, se ela não tiver por perto alguém que, por disposições naturais, atraia para si boas irradiações, ou um tratamento espiritual imediato, que a salve desse contágio..."



Impressionado, Belarmino perguntou, franzindo o cenho:

"- Como poderia acontecer uma situação tão grave assim, Irmão João?!... Como isso pode acontecer diante das vistas da Lei Sábia do Criador?... “


O interlocutor esboçou gesto de amargura e retrucou, com sabedoria:


"- A Lei da Divina Providência, meu filho, definiu o Bem e o Belo como padrão supremo para a harmonia em todos os setores do Universo.

Distanciando-se desse princípio o homem se responsabiliza por toda a desarmonia em que entra! Tais casos, como os de que tratamos, são resultantes de

infrações cometidas pelos nossos estados de imperfeição, prejuízos desagradáveis e constantes da inferioridade do planeta. Não estou afirmando que tais casos sejam frequentes, mas que poderão acontecer e têm realmente acontecido! E assim acontecerá sempre que houver afinidades entre o desencarnado e o encarnado.


Devido à criança ser facilmente impressionável, será passível de se afinizar por qualquer fator, desde que não esteja de acordo com sua delicada natureza: um susto, uma impressão forte, um sentimento dominante como a saudade de alguém muito querido; poderão igualmente levá-la a adoecer e abandonar o pequeno fardo carnal!


Porém, pela mesma Lei, os homens possuem meios eficazes de defesa!

Através da higienização mental, do reajuste dos sentimentos à prática

do Bem; nas harmoniosas vibrações originadas da comunhão da mente com o Alto, a individualidade encarnada poderá imunizar-se desse contágio, assim como o homem se imuniza de males epidêmicos com vacinas... Se tratando de um vírus psíquico, é claro que o antídoto será análogo, harmonizado em energias opostas, também psíquicas...


Tentamos evitar ao máximo esse tipo de “contaminação”. Infelizmente, porém, nem sempre somos compreendidos e auxiliados em nossos intuitos, pois os homens se entregam voluntariamente a tais possibilidades através de atitudes desgovernadas. Para aquele que foi vencido pelo assédio da entidade desencarnada, os males resultantes são consequência da invigilância, da inferioridade de hábitos e sentimentos, de más atitudes mentais, do falta de Deus.


Para o causador "inconsciente" do mal, será um ônus a mais, derivado do seu ato de suicídio, e cuja responsabilidade irá somar-se às demais que o sobrecarregam...


Existem vários meios de alertar os homens e este alarme é permanente, incansável, ininterrupto, eterno! – e não dirigido a este ou àquele grupo de

cidadãos, apenas, mas à Humanidade inteira!


Os avisos que os homens precisam para se desviarem não só dessa terrível aproximação estão nas advertências da própria consciência de cada um. Estampam-se nas crenças e tradições sagradas que os povos popularizam através das gerações, assim como na moral educativa deixada aos homens por Jesus.


Infelizmente para essa conquista têm desperdiçado tempo valioso deixando de abraçar os únicos elementos que o ajudariam: o respeito às leis que regem o

Universo e a autorreforma indispensável e presente nos códigos da Nova Revelação.


Estabelecendo e popularizando a comunhão de ideias entre os Espíritos

Desencarnados e os homens encarnados, a Nova Revelação instruirá, permitindo aos homens receberem do Invisível tudo o de que necessitam para se fortalecerem.


Assim sendo, o homem conhecerá todos os aspectos da vida do Invisível que o

estado do seu progresso moral e mental permitir! Suas glórias e belezas serão

desvendadas; os supostos segredos que envolviam a morte serão solucionados, assim como os perigos que o cercam - como os de que tratamos -, os abismos de que poderia ser vítima por parte de habitantes do Invisível ainda inferiorizado.


Tudo quanto os Espíritos têm podido tentar para chamar a atenção dos homens e instruí-los, advertindo-os sobre seus destinos espirituais, há sido tentado através da Nova Revelação. Mas a maioria dos homens só atendem às paixões e se interessam apenas pelos gozos do momento, atendendo à satisfação dos próprios caprichos e, por isso mesmo, se afastando frequentemente de tudo que poderia evitar-lhes as desgraças e decepções.


Fazem-se propositadamente de surdos aos apelos do Protetor Divino, que deseja resguardá-los do mal à sombra do Seu Evangelho, tampouco querem escutar sobre a Revelação Nova, que convoca a todos em nome de Jesus para a sublime transformação, ao advertir que somos imortais, que as conquistas materiais que fomentam o orgulho, as vaidades e o egoísmo, arrasam o caráter, comprometendo o futuro.


O Espírito persistirá para sempre para contemplar as deploráveis reações dos seus próprios enganos, aguardando a inevitável Glória Divina.


Sendo assim, o homem não poderá fugir da evolução, dos movimentos de ascensão próprios da sua natureza, e, nesse longo trajeto indispensável, quantas vezes infringir a harmonia da elevação, tantas sofrerá os efeitos da dissonância que criou contrariando a Lei a que está sujeito!...


Portanto, cada um deve cuidar de si enquanto é tempo!... enquanto está a caminho do trajeto normal, do bem... Não buscar a dor, se obrigando a estágios penosos, por negligenciar o cumprimento do Dever e se forçando a aliviar futuramente a consciência, com dolorosas reparações...


Modelar o caráter enchendo de virtudes essa alma que um dia deverá refletir a imagem e semelhança do seu Criador!"


Assim fala a Nova Revelação, que os Invisíveis proclamam sobre a Terra.

Mas quem, no entanto, se dispõe a ouvi-la com reverência, aceitando os sublimes convites que o Céu?!... Normalmente os filhos do infortúnio, aquelas almas abatidas pelas dificuldades do mundo que deixam entrever as verdades celestes e seus ensinamentos preciosos! Os bondosos idealistas de almas sensíveis e humildes.


Os grandes e poderosos, porém, iludidos pelas boas situações terrenas, que só creem em si mesmos e só a si próprios adoram, porque podem comprar todos os caprichos e saciar todas as paixões, preferem não entender nada disso, voltando as costas a tudo quanto levaria ao entendimento e consequente abnegação... Até que, um dia, despencam, apesar dos reiterados avisos, reduzindo-se a este deplorável estado...


Encaminhou-se para uma varanda que dava para extenso pátio, tipo de prisão pitoresca onde arbustos graciosos faziam parte da paisagem limitada.

Entidades tristes e sofredoras sentavam-se em bancos que enfeitavam as pequenas alamedas para, em silêncio, descansar.


Irmão João convidou-nos a debruçar sobre a varanda sobre o pátio, e continuou:


"- Estas estranhas figuras que vão observar daqui porque não convém delas

se aproximar, chegaram, como vocês, do Vale dos Suicidas.


Porém, enquanto se recuperaram um pouco do desespero inicial, estes pobres irmãozinhos caíram em apatia, o que indica que possuem um nível moral diferente dos seus, e um diferente grau de responsabilidade no suicídio...


Estão atordoados, entorpecidos sob impressões muito chocantes e, por enquanto, invencíveis! Não podem raciocinar, não conseguem veem o que se passa ao redor como se estivessem olhando tudo do fundo de um sarcófago!


Aqui, neste pequeno e triste pátio, que a misericórdia do Senhor permitiu fosse dotado de conforto e expressões agradáveis, encontram-se, em grande penúria moral, muitas entidades que foram homens ilustres na Terra, que tudo

possuíram, mas que, infelizmente, se esqueceram de que nem tudo no Universo se resume em prazeres. Nem sempre as elevadas posições sociais ou as riquezas materiais serão garantias; nem sempre as práticas abomináveis ou imorais, assim como o egoísmo, ficarão impunes.


Encontram-se, aqui, orgulhosos e sensuais que julgaram poder dispor levianamente dos próprios corpos carnais, saciando os sentidos com gozos funestos, deletérios. Sabiam, no entanto, que prejudicavam a saúde e se levariam ao túmulo antes da época, porque os próprios indivíduos a quem recorriam quando os excessos traziam indisposições orgânicas tratavam de alertar.


Todos sabiam e, no entanto, continuavam praticando o crime contra si mesmos! Sentiam os efeitos depressores que o vício produzia física e moralmente. Mas prosseguiam, sem qualquer tentativa para a emenda!


Mataram-se, pois, lentamente, conscientemente, certos do ato que praticavam, mas tiveram tempo para refletir! Suicidaram-se fria e indignamente, obcecados pelos vícios, certos de que se destruíam, desrespeitando o presente que receberam de Deus, aquele corpo que lhes ensejava progressos novos!


Verão, meus caros amigos, que muitos pensariam em esquecer as pesadas desgraças trazidas pelo adormecimento cerebral provocado pelas bebidas, buscando consolo na mesma embriaguez que os levaria, possivelmente, a desejada trégua ao sofrimento.


Mas esta é uma desculpa própria do rebelde, apesar de já ter recebido o convite ao alívio trazido à Terra há dois mil anos por Jesus Cristo. Certamente estes pobres que aqui se encontram já tiveram oportunidade de ouvir Seu recado: "Vinde a mim, vós que estais sobrecarregados, e eu vos aliviarei”.



Este tipo de infrator carrega um grau ainda maior de responsabilidade do que o desgraçado que, pela violência de uma paixão, num momento de desespero, se deixa arrebatar para o abismo! Se atentem para eles: - são os cocainômanos, os amantes do ópio e entorpecentes em geral, viciados que se deixaram rebaixar ao estado de decadência. Encontram-se em depressão vibratória, verdadeiros débeis mentais, idiotas do plano espiritual, amesquinhados moral, mental e espiritualmente, pois seus vícios monstruosos não só deprimiram e mataram o corpo material como comunicaram ao físico-astral as consequências, contaminando-o de impurezas que o marcaram atrozmente.


De fato, víamos, espíritos desfigurados pelo mal que em si conservavam, consequências calamitosas da intemperança - chorosos, doloridos, abatidos, cujas feições recordavam ainda os trágicos panoramas do Vale Sinistro. Deixavam à mostra, em sua configuração astral, os estigmas do vicio a que se haviam entregado, alguns parecendo leprosos, outros exalando odores fétidos, repugnantes, como se a mistura do fumo, do álcool, dos entorpecentes, de

que tanto abusaram, fermentassem cheiros podres que contaminavam as próprias vibrações!


Os "retalhados" integravam a desgraçada falange relegada ao Manicômio e conservavam ainda cicatrizes sanguinolentas. De vez em quando eram sacodidos por espasmos. Faziam movimentos pesados e lentos, mostrando a carência de forças vibratórias.


Entristecidos à frente tantos sofrimentos e decadência moral, interrogamos, cheios de angústia o que há de ser destas pobres criaturas?... Que futuro as aguarda?...


- Oh! dramático futuro com muitas expiações na inevitável reencarnação pois não há como começarem a melhorar na vida espiritual. Eles mesmos serão agentes de misericórdia para consigo próprios, já que se responsabilizaram pelos desvios de escolheram em vida! Mas isto lhes custará desgostos e dores!


Para que se convençam da própria situação, aceitando as consequências futuras dos seus atos, precisamos fazer um árduo trabalho de catequese e fluidificação especial. No entanto, muitos destes infelizes trazem a revolta no coração e a raiva pela desgraça de que se consideram vítimas e não responsáveis. E inconformados, partem para nova reencarnação, agravando a própria situação com a insubmissão e a impaciência, acovardados diante da expectativa da expiação irremediável!


Renascerão na Terra como cancerosos, paralíticos, deficientes mentais, epiléticos, enfermos incuráveis desafiando tentativas generosas da ciência... enquanto pesarão desagradavelmente na sociedade humana. Reencarnarão em breve, ficando conosco apenas o tempo para se refazerem das crises mais violentas.

Levarão para o futuro corpo que moldarão com sua configuração moral atual e ali, como ficou esclarecido, serão grandes desgraçados a se arrastarem penosamente em misérias e lágrimas... O sofrimento redentor, no entanto, fará com que possam colher proveitos frutos. Seus corações, impulsionados pela dor educadora, suplicarão até atingirem as camadas luminosas da Espiritualidade, onde se farão refletir, afinando-se ao amparo de vibrações generosas. Pouco a pouco, assim, o vírus se irá desfazendo até que, com a desagregação do envoltório carnal, se encontrem aliviados e em condições de algo aprenderem aqui conosco..."


A reencarnação punitiva lhes é imposta como tratamento médico hospitalar do nosso Departamento. Um gênero de tratamento que a urgência e a gravidade do mal impõem ao enfermo! Operação dolorosa que nos pesa fazer, mas é necessária pois só depois de realizada é que eles entrarão em convalescença. Não será propriamente uma punição, mas o efeito da causa que o próprio paciente criou com os excessos em que se deleitou...


Mas a solicitude maternal de Maria lhes dá assistência desvelada e

constante. Reencarnados, continuarão sob nossa dependência, da mesma forma hospitalizados e registrados em nosso Departamento, visitados e assistidos por nossos médicos e vigilantes como se aqui ainda permanecessem... para c[á voltarão ao findar o período de expiação.


Seguindo a visita aos gabinetes médicos no interior do edifício, entramos nas enfermarias onde se localizavam aqueles que continuavam em prostração impressionante desde o ingresso no Vale Sinistro, deprimidos por excessos de toda a natureza, principalmente de caráter sexual. Suas faculdades anímicas atrofiaram e ficavam deitados em leitos isolados dos demais, em recintos extensos, superlotados. Pesadelos constantes, mas ainda assim não conseguiam despertar do marasmo, sendo incapazes de se locomover e falar, soltando apenas débeis gemidos.


Terríveis emanações vinham de suas mentes, com figuras e cenas deprimentes e vergonhosas, resultado dos atos praticados contra a decência e a moral, pois

tanto os atos praticados pelos homens, como os pensamentos vindos de sua mente, marcam sua estrutura Perispiritual. Nestes leitos existem suicidas de todos os tipos: desde os que empunharam a arma ou o tóxico fatais até aqueles que se consumiram pelos próprios vícios!


De fato! Não podíamos perceber as cenas mentais, como no Vale Sinistro, mas percebíamos vapores escuros saírem de seus cérebros, espalhando-se em ondas pelo ambiente. As trevas que os rodeavam eram oriundas deles próprios. Ali os víamos, tais quais eram, outrora, na Terra, homens galantes, sedutores, insinuantes, hipócritas, mentirosos, desmoralizados, muitas vezes suspensos aos melhores postos sociais, devassos, beberrões, descrentes do Bem, descrentes de Deus, servos do mal, escravos da animalidade e dos instintos, esquecidos de que eram criaturas de Deus e que a Ele deveriam dar contas, um dia.


A reencarnação o único corretivo levantar-lhes corajosamente as forças deprimidas. Aqui, só fracamente assimilarão os fluidos tônicos esparsos no recinto das enfermarias, pois muito espessas se encontram as camadas de impurezas que envolvem suas faculdades para que se permitam benefícios, como acontece a outros internos em nosso Instituto.

Frequentemente são conduzidos à Terra a fim de obterem benefícios ao contato de médiuns moralmente aptos a favorecerem irradiações fluídicas, auxiliando-os

no despertar...


Eles, quando tiverem atenuados seus estados de prostração, serão encaminhados

a novos renascimentos, porém sem poderem solicitar algo para a existência nova.

Somente os governadores do Manicômio e técnicos do Departamento de Reencarnação tratarão dos acontecimentos em torno deles, de acordo com as necessidades e sob a amorosa caridade do Mestre, que a todos procura socorrer com o alívio da Sua ternura.


A triste falange renascerá então, a expiar, como retardados mentais, loucos, epilépticos, possivelmente surdos-mudos de nascença e até cegos. E não se trará de castigo e sim, parte das leis de causa e efeito, estatuídas pelo Legislador Supremo no intuito de advertir o homem, como os Espíritos, dos erros que praticam em oposição à harmonia das demais leis.


Sendo o Bem a base suprema da Vida, em que amarga situação se colocará quem se desarticulou todos os dias do trajeto natural que ascende para a Perfeição, arrastado por atos opostos aos que o Senhor estatuiu como normal na sublime jornada?

Estes infelizes também fizeram sofrer seus irmãos, aos quais infligiram tormentos vindos do egoísmo e das difamações com que feriram suas vítimas, valendo-se das faculdades do raciocínio e da inteligência apenas para infelicitar a outrem, preparando para si mesmos, os abismos em que se haviam de mais tarde se jogar?... E as ingratidões e traições impostas aos corações femininos, que enredaram... as cenas degradantes por eles criadas e praticadas comumente,

durante a existência terrena.


Natural que renasçam estes pobres, tolhidos por incapacidades invencíveis a fim de tratarem de progredir, pois fizeram arma contra a palavra do Criador, a quem muito ofenderam, ofendendo a si mesmos e ao próximo. Além do mais, não estarão eternamente presos no sofrimento. A dor educadora corrigirá as anomalias de que se cercaram, reconciliando-os com as Leis incorruptíveis.


Mai uma vez ficou clara a lógica irretorquível de mais aquele discípulo do Mestre Nazareno...



Pelas galerias próximas aos gabinetes médicos, onde a distribuição de fluidos alívio era sábia e caridosamente operada, vimos que enfermeiros iam e vinham, amparando doentes fracos e atemorizados vindos do pátio que acabáramos de visitar e de outras dependências, a fim de serem beneficiados. Pelos "retalhados" observamos que votavam especial cuidado, dado que quase não podiam se locomover.


A julgar pelas palavras do Irmão João, que trazia considerações importantes sobre as reencarnações dos viciados como enfermos de nascença, revelando anormalidades impressionantes, suas condições eram tolhidas por dificuldades extremas de vibrações, dispersadas que foram estas pelo choque terrível; seus gestos pesados e desinteligentes, marcados no espelho sensível da organização astral! Choravam ininterruptamente, sob a angústia do mal-estar, submissos, incapazes de blasfemar, como geralmente acontece aos suicidas muito desgraçados.


Deixamos para trás os santuários, chegando a uma espécie de auditório onde um jovem servo ministrava ensinamentos moralizadores. Usando daquela inconfundível doçura, característica da escola da iniciação cristã, esse novo legionário expunha singelamente a ideia de Deus e de Sua paternidade

sobre toda a Criação, assim como a missão messiânica e seus benefícios.


O convite à prece e à autoanálise era repetido e explicado todos os dias, antes de entrarem nos gabinetes para a higienização fluídica. Esses eram os principais recursos a serem tentados para tratamento dos enfermos: reeducação mental, exercícios que levariam o paciente a estabelecer correntes harmoniosas com os benéficos poderes do Alto,


O jovem obreiro, sincero e humilde não enxergava, naqueles réprobos feios e repulsivos a quem servia, indivíduos maculados pelos erros vergonhosos, nem a configuração astral execrável do homem que desperdiçou a e existência com gozos. Apenas via irmãos menores do que ele e piedosamente amava, desejando servir e engrandecer.


"- Poderemos ser informados da volta ao corpo material deles? " – solicitou

novamente o doutor de Coimbra, a quem interessavam o assunto melindroso de um renascimento na Terra, porque lhe afligiam fortes intuições quanto ao dever urgentíssimo, pendente seu caso, de nova permanência num corpo de homem, a fim de expiar o crime de matar a quem amar.


"- Sim, meu jovem amigo - satisfez o amável guia -, será possível e até

indispensável mostrar os trabalhos, mas não é a esta repartição resolve esse tema. Existe em nosso Instituto o Departamento autorizado aos serviços do retorno às existências corporais. Lá, verão os laboratórios onde se concertam planos, onde são preparados os desenhos e mapas para os futuros corpos a serem habitados pelos delinquentes, cuja tutela nos é confiada temporariamente.


Se este for suscetível de renascer com envoltório carnal deformado, ou adquirir enfermidade como a cegueira, por exemplo, ou ainda acidentar-se em seu decurso, tornando-se mutilado, o mapa que lhe seja destinado será traçado com as necessárias indicações, pois já sobre o seu organismo perispirítico existirá o sinal da futura deformidade física, porque o seu estado mental e vibratório, coagido pelos remorsos, imprimiu naquela sutil organização a vontade de se tornar mutilado, cego, mudo, etc., a fim de expiar o mau passado, como vem sucedendo convosco mesmo, caro irmão Sobral, que vos tendes fortemente impressionado com o caso das próprias mãos...


Necessariamente, a preparação estará sempre a cargo de técnicos cientes do alto encargo, merecedores da plena confiança dos diretores desta Colônia.

Uma vez concluídos serão encaminhados à direção dos gabinetes de

análises, os quais realizarão os serviços, levantando a justiça dos méritos que tenha, curvando-se às injunções das desvantagens dos deméritos tudo de acordo com as conclusões anteriormente feitas pela seção de "Programação das Recapitulações". Sempre que possível suavizar as provações, será por lei concedido ao delinquente. De outro lado, suas forças morais e suas capacidades de resistência serão igualmente balanceadas.


Convém acentuar que a reencarnação é concessão feita pelo Pai Supremo às Suas criaturas para que progridam e se engrandeçam, preparando-se para a herança que lhes estará reservada na glória do Seu reino. É de lei.

E não há ninguém que atinja o seu destino imortal sem passar pelos degraus dos

renascimentos, na Terra ou em outros mundos planetários! Mas, se a alma é rebelde desperdiça longo tempo, com manifesto desrespeito à Lei de Deus.


"- Do exposto, concluímos que, sendo o corpo físico-terreno uma dádiva celeste, as criaturas encarnadas procederiam com muito mais inteligência se se conduzissem à altura da concessão recebida, portando-se com respeito, consideração e prudência, e isso evitaria a repetição de existências expiatórias, dolorosas, resultantes do mal uso e do desrespeito às leis da Universais.

Muitas dores seriam assim evitadas!


Por aí percebereis que todos somos templos e possuímos a glória de trazer Deus em nós, e, quer na Terra, como seres humanos, ou no Invisível, como Espíritos libertos, devemos respeito e veneração a nós mesmos, e aos nossos semelhantes, atendendo a que todas as criaturas são perfeitamente iguais diante do seu Criador, joias muito amadas! Daí certamente se origina a lei básica divina "- Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo."


"- Todavia, tem havido casos em que nossa Guardiã não permite a reencarnação tal como fora ideada por nós, dando-nos então o favor da sua inspiração para programação mais acertada, condizente com o estado do postulante. De qualquer forma, porém, os planejamentos para uma encarnação serão rigorosamente estudados, realizados e revistos, concordes sempre com a justiça... entrando em cumprimento a expressão da sentença imortal sancionada pelo Mestre Divino.


- A cada um será dado segundo as suas obras."


Comumente é o próprio pretendente ao renascimento que escolhe as

provações por que passará, ele próprio suplicará aos guias os testes que lhe permitam testemunhar o arrependimento de que se achar possuído, assim como o desejo de iniciar caminhada regeneradora, que ajude a corrigir-se dos impulsos inferiores que o arrastaram ao mau procedimento... e tais testemunhos tanto poderão ser efetivados.


Na maioria da vezes, o próprio paciente organizará o traçado dos mapas para o seu futuro estado corporal e a programação dos acontecimentos principais e inevitáveis que deverá viver, efeitos lógicos das causas criadas com as infrações

cometidas, mas assistido sempre por seus mentores dedicados.


Quanto aos internados nesta dependência hospitalar, não será assim, pois eles. não se encontram em condições de algo tentarem voluntariamente. Sua volta ao renascimento carnal será compulsória... movimento de impulsão para o progresso, medicamento decisivo que há de colocá-los em situação de convalescentes..."


Visto tão profunda quanto melindrosa tese, seria acaso possível examinarmos desde já alguns desses mapas, mesmo antes da preparação dos que nos disserem respeito?... Como são eles?...


E sentia-me realmente comovido, acovardado mesmo, lembrando-me de que

também eu era réu, que me suicidara fugindo à cegueira dos olhos, que teria o seu futuro mapa corporal de mãos mutiladas, e que algo me dizia que eu deveria ser ainda cego também. Irmão João percebeu a angústia e respondeu:


"- Certamente que um serviço de tanta responsabilidade não será realizado

publicamente, apenas com recomendações de autoridades competentes, as câmaras poderão ser franqueadas à visitação. Sereis encaminhados a elas. Não desanime ante as perspectivas futuras. Confie antes na inexcedível ternura de nosso Amado Mestre e Senhor, que é o Guia infalível dos nossos destinos... Lembra que Aquele que estabeleceu a sabedoria das leis que regem o Universo também vos saberá fortalecer para a vitória sobre vós mesmos!... "


Tudo era suavidade em torno do Pavilhão Indiano, onde acabávamos de

chegar. Aos nossos ouvidos soaram os doces convites para a meditação da noite. Era o momento solene em que a Colônia se consagrava à comunhão mental com Maria de Nazaré...

Minhas recordações assinalam ainda que, nessa tarde, nossas preces foram

mais ternas, mais humildes, mais puras...w1

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