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No País dos Renascimentos - Capítulo 10

Conversa ao Pé do Berço



Faltavam cinco meses para meu retorno ao corpo físico. Andava nervosa, ansiosa, não queria conversar com ninguém. Dentro de mim alguma coisa dizia que não ia dar certo. Teria que reencontrar velhos antagonismos, seria esposa do mais cruel dos carrascos que surgiu no meu caminho, seria filha de um político desajuizado e corrupto e teria como mãe a dama da corte, ladeada pelos homens e submetendo-se aos seus caprichos com enorme facilidade. O quadro era aterrador. Ninguém havia dito para mim o porquê daquela vida que deveria viver. Quando desencarnei sofri uma amnésia total e não consigo me lembrar de nada. Soube do meu futuro marido pela caridade de dona Fausta, diretora do estabelecimento onde me encontro. Mulheres sofrem muito no convívio com seus amores, assim aquela nobre senhora achou por bem alertar-me. O casamento está programado para durar pouco, o tempo suficiente para alguns acertos, que não sei quais são.

Noutro dia estive na cidade que vou renascer. É bela a cidade. É florida e ainda tem certo ar de provinciana. Muitas casas guardam estilos nobres e será numa delas que vou viver. Conheci meu pai, pobre homem. Envolto em púrpuras não percebe o quanto erra. Está rodeado de sanguessugas que utilizam seu prestígio para se promoverem. Prometem ajuda-lo na próxima eleição e meu pai vai se comprometendo cada vez mais com eles. Aproximei-me de minha mãe. Também, pobre senhora. Seu perispírito está coberto de chagas. Não percebe o prejuízo que causa a si com seu comportamento leviano e pífio. Não me permitiram conhecer o Diogo, meu futuro marido. Está reencarnado e dizem que é o terror da escola mesmo tendo apenas sete anos.

Vivo na angústia expectante de encontrá-los. Serei conduzida por um grupo de amigos espirituais e pela direção do estabelecimento que me acolheu. Serei também conduzida à enfermagem. Não aceitei ser médica. Acho muita responsabilidade para uma pessoa que, certamente, não terá infância e adolescência que a estruture para sacerdócio de tamanha magnitude. Quando vamos renascer é necessário que o bom senso esteja em primeiro plano. Muitos pedem tarefas espetaculares e caem espetacularmente e retornam náufragos, doentes de difícil recuperação. Quando fui convocada à sala preparatória várias opções foram oferecidas. Permiti que me aconselhassem. Outra coisa que não aceitei foi uma forma física invejável. Pela evolução biológica dos seres humanos, com certeza terei um corpo bem delineado, porém nada de adendos. Assim, se desejar emagrecer vou adquirir o hábito da anorexia. Se desejar malhar em demasia terei sérias lesões musculares. São recursos. Quantas vezes eles surgem nas vidas dos encarnados e os mesmos se dizem esquecidos de Deus e malbaratam a oportunidade de seguir em paz seus caminhos.

Disseram-me que fui alcoólatra inveterada, assim sendo, o álcool em qualquer dose vai atingir fortemente o fígado e poderei adoecer gravemente se persistir usando-o. Outros detalhes foram cuidadosamente estudados e anexados ao meu plano genético. Nos primeiros anos serei uma menina apática. Como minha mãe não se importará muito comigo, ficarei isenta dos remédios em excessos que poderiam afetar meu sistema nervoso central. A apatia inicial acontecerá apenas como recurso para melhor readaptação à vida física, uma vez que saí dela sem trazer a mínima lembrança do que fiz e do que sucedeu comigo antes, durante e depois do meu desencarne. Disseram-me apenas que foi doloroso. Aos doze anos aproximadamente sofrerei um acidente de carro. Uma das minhas vistas, a esquerda, terá dano irreparável. Verei o mundo apenas pela vista direita e com ela deverei me esforçar ao máximo para dar conta das minhas tarefas. Encontrarei Diogo apenas aos vinte e cinco quando já estiver em plena atividade profissional.

Estou contando tudo isto para que vejam como as coisas são bem estruturadas. Ninguém sai daqui de bagagem vazia. É-nos entregue as chaves da vitória, cabe a cada um encontrar as portas certas, nos locais exatos e abri-las no momento adequado. Qualquer atitude despropositada, qualquer porta aberta antes do tempo, pode causar danos irrecuperáveis na encarnação e o reencarnante fica capenga, andando e caindo. Sofrendo e lamentando, culpando a sorte ou o destino pelos seus desatinos. Sempre somos avisados, alertados. Noutro dia mesmo vi a equipe de socorro espiritual de uma determinada casa espírita tentando ajudar uma pessoa que insistia por abortar seu filho. E ela nem sabia que era o antigo e amado pai que voltaria a seus braços. Ele desencarnou quando ela contava apenas sete anos. Naquela oportunidade sofreu muito. Seu pai era sua vida. Amavam-se e, agora, quer desprezá-lo. Os mentores utilizaram a mediunidade do Sr. Felício na tentativa de impedir aquele erro. Seu pai que a amparou na infância estava voltando para ampará-la na velhice. Nossa irmã em questão contava já com seus quase quarenta anos. Percebem o problema? Está tudo indo bem com sua encarnação e um deslize deste pode por tudo a perder. Certamente o aborto não será bem sucedido e ela vai desencarnar. Ainda estamos na expectativa do que vai acontecer. A futura mãe está pensando no caso. Está apenas no primeiro mês de gravidez e seu maior argumento é o de que está muito velha para ser mãe.

Se formos catalogar os casos que destruíram importantes possibilidades de acessos a esferas mais elevadas do planeta, ficaríamos bom tempo relatando-os. O que importa agora é saber como posso me preparar melhor para este desafio que necessito enfrentar. Cinco meses passam bem rápido e preciso aproveitar cada instante que ainda me resta. Existem reencarnantes que desistem na hora da encarnação. É um dos casos mais dolorosos que se vive aqui. Quando iniciamos a redução do perispírito vamos perdendo a lucidez e, se ainda de posse de uma pequena parcela desta luz, fugirmos da responsabilidade, ficamos dementados por um bom período e o pior é que dificultamos uma segunda chance. Muitas filosofias pregam a reencarnação como algo corriqueiro e necessário. Sim, de fato é. Essas filosofias não explicam, contudo, a maneira como ocorrem os renascimentos. À medida que o espírito vai adquirindo lucidez espiritual o entendimento do processo fica cada vez mais complicado, emblemático e quase inapreciado. Somente reencarnam em paz aqueles que já adquiriram a consciência da vida constante e em abundância. Somente aqueles que já esculpiram em seus corações a certeza da imortalidade e, principalmente aqueles que já sabem amar e respeitar as leis divinas e fazer valer a vontade superior do Pai.

Ainda não é o meu caso. Provavelmente brinquei de nascer e morrer. Brinquei de boneca e soldadinho de chumbo, brinquei de passar pela vida como se passeia num barco florido por entre os bosques encantados que criamos em nossas infâncias. Imaginem vocês os sonhos que deverei acalentar na minha adolescência sobre o esposo que desejarei. E, lá bem na frente vou encontrar alguém de difícil convívio. Outro dia estava pensando no que vai acontecer para que eu me apaixone por ele. Esses são os nós dos segredos. Nem sempre os desatamos antes do nascer. Seria perigoso, seria antecipar acontecimentos. Disseram-me que a mente guarda lembranças. Essas lembranças vibram e as vibrações necessitam ser compensadas. Esta é a síntese dos encontros. Complicado demais para minha cabeça, pode não ser para a sua que me lê agora. Quais são esses nós a serem desatados à medida que for crescendo? Na minha escolha profissional com certeza terei dificuldades, pois minha família vai preferir uma médica e não uma enfermeira. Terei que encontrar forças para me impor perante eles e as circunstâncias da época. E se não conseguir? E se for pelos caminhos da medicina? Disseram-me aqui que poderá ser um fardo superior às minhas forças e por isso muito me felicitaram quando tive o bom senso de escolher enfermagem. Profissão tão digna e que deve ser exercida por grandes almas que renunciam a si em favor do próximo. Creio que não estou assim tão habituada a curar. Aliás, é em busca da minha cura que vou renascer.

Essas questões estão em pauta em todos os setores da instituição que frequento. Quando saímos e nos encontramos nas praças ou bosques e jardins, todos conversamos a mesma coisa. Dificilmente encontramos alguém plenamente pronto para o desafio de renascer. Noutro dia, conversando com o Silas que vai renascer numa cidade enorme, pude observar como estava preocupado. Seu berço será dourado. Seus futuros pais são milionários e certamente terá de tudo. Será filho único, herdeiro de enorme fortuna. Seu dever será o de devolver centavo a centavo a cada família que foi prejudicada na construção daquele império. Silas terá aproximadamente cinquenta anos para desmontar aquela pirâmide de moedas e vai deixar a vida no total desprezo dos familiares remanescentes, inclusive os filhos que vão acusá-lo de incompetente e portador da doença da idiotia e podem até tirar sua vida física, furiosos que ficarão. Silas, contudo, renascerá para fazer valer a justiça. No passado foi ele quem iniciou, quem fez a base daquele castelo de ilusões. As primeiras famílias a serem prejudicadas o foram pelas suas mãos, justo então que seja ele o principal articulador da justiça que aguarda ser feita.

Dificilmente os reencarnados param para pensar desta forma, mormente quando deparam situações estranhas como a de se tornar pobre da noite para o dia ou vice e versa e ainda outros estados sociais onde se perde o prestígio ou se ganha a fama de maneira tão rápida e inexplicada. E assim, independente do consentimento ou apropriação consciencial das pessoas dos fatos, histórias e acontecimentos a sociedade caminha e cada um se candidata a saltar de planos. Muitos vão em linha reta, outros, muito outros fazem curvas ascendentes e descendentes quais ondas densas passeando pelo universo buscando ser luz. Um dia, na Terra, os futuros pais saberão os mapas reencarnatórios dos futuros filhos. Os dirigentes estatais saberão quantos cidadãos vão nascer em suas pátrias. Quem são eles, o que necessitam realizar. E, de antemão, vão preparar seus futuros. E, depois de nascidos, o embalo da família será secundado pelo embalo da nação que reconhecerá neles um tanto mais de propostas de crescimentos dos países, isto porque todos renascerão prontos a contribuir e a receber apenas o necessário para suas vidas.

Nada de riquezas em exagero ou misérias que assustam. Todos viverão com dignidade, porém todos deverão contribuir com o que sabem os seus patrimônios intelectuais e morais adquiridos. Naquele tempo não renascerão os preguiçosos, os tagarelas, os reclamadores, os vitimados por outrem, os ciumentos, vaidosos ou bárbaros e violentos, tampouco os sexólatras e os contadores de ilusões.

Apenas à guisa de informação, este tempo já está chegando. O mundo tem seu planejamento e ele é feito com muita antecedência. Aviso, portanto, aos reencarnados de que é necessário estudar e aprimorar. O tempo do “faz de conta” está gradativamente cedendo lugar ao tempo do “acontecer”. Eu vou estar encarnada neste tempo de transição. É um alento para minha pobre alma. Espero contribuir com meu país, com minha família e comigo mesma.



oooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo


“Toda reconciliação é difícil quando somos ignorantes na prática do amor, mas sem a reconciliação humana jamais seria possível nossa integração gloriosa com a Divindade!”


André Luiz

Missionários da Luz, FEB, 1976– Cap. 13

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