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No País dos Renascimentos - Capítulo 7

Busque a Luz e Siga-a



Estávamos no intervalo das aulas. Como acontece nas escolas da Terra, o pessoal se reúne no pátio para conversar, descansar, descontrair. A diferença é que não lanchamos. Afinal somos espíritos em vias de reencarnar para buscar sempre o melhor aprimoramento possível. A turma era de adolescentes. Moços e moças entusiasmados, barulhentos e ativos. Talvez fosse eu um antigo pária acostumado à velha forma física e que não me apresentava como jovem, embora minha identificação mental com aqueles que ali se encontravam. Duas delas sentaram-se na relva para conversar:

– E aí está animada?

– Animada estou. O problema são as dívidas.

– Sabe que estou fazendo? Parei de pensar nelas. Débitos, todo mundo tem.

– É verdade. Vou ter que fazer muita coisa que deixei para trás.

– E eu? Deixei meu último corpo num estado de lastimável preguiça. Adorava fazer nada. Gostava de curtir música, ser diferente da turma, namorar e passear.

– Agora tem que ser diferente. Temos que olhar a vida com mais cuidado.

– Viu o que o instrutor disse? Seriedade, comprometimento, dedicação, responsabilidade e bom senso.

– Nossa! Decorou mesmo!

– Claro. Tenho que decorar e levar bem guardado comigo no meu coração.

– E aí? O Nando vai reencarnar perto de você?

– Sei não. Ele não diz.

– Mas vocês conversam tanto. Todos achamos que estão programando alguma coisa para quando renascerem.

– Bem que seria legal. Mas o Nando é muito calado. Só pensa em reencontrar a mãe.

– Eu já desisti do Fabrício. Acho que nem vai reencarnar tão cedo...

As conversas sempre giravam em torno do futuro, da nova oportunidade e dos encontros possíveis. Sim, todos se preocupam com quem vão conviver, o que deverão realizar e, principalmente qual o par ideal para que não cometam os mesmos erros passados. As duas jovens que conversavam estavam desencarnadas desde quinze anos atrás. Vieram uma por moléstia e outra por acidente. Eram jovens, contudo, mostravam queda reencarnatória na última experiência. O retorno em idade jovem foi uma benção para ambas. Agora vão retornar. Nando e Fabrício, certamente, não estarão nos seus programas e sim outros dois. Também é sonho dos adolescentes que se preparam para renascer o encontro com os espíritos que mais se afinam ou que chamam suas atenções.

Nando cumprirá importante papel no campo da bioenergia. Assunto ainda novo para a grande maioria dos encarnados. Deverá dedicar toda a sua vida nos estudos, experiências e divulgação maciça do tema. Fabrício, acometido de mal degenerativo e que o trouxe de volta ao mundo dos espíritos, deverá reconstruir suas células perispirituais de forma lenta e correta. Renascerá com alguns problemas de locomoção e dificilmente terá condições de assumir um matrimônio. As duas moças que conversavam terão corpos sadios e vidas longas. Necessitam muito viver para aprender. A renúncia será para ambas o divino porta da redenção.

É muito interessante estagiar num departamento como este que prepara jovens para o retorno ao corpo físico. Os espíritos que permanecem jovens após a morte costumam resolver-se rapidamente. Trazem ainda a força da juventude. Somente aqueles rebeldes e confusos ficam estacionados em colônias ou regiões umbralinas que compensem suas posturas ante determinantes da continuidade, onde quer que estejamos.

Não faz muito tempo fomos todos excursionar a uma região extra-esfera na qual nos encontramos. Como sempre a juventude estava barulhenta. Era mais o barulho da curiosidade. Afinal sairíamos daquele contexto comum a todos e muito parecido com o que se vive na Terra. O ônibus que nos levou deslizava de maneira suave e delicada por entre as pequenas névoas que mais pareciam flocos de luzes ou canteiros de flores. Aquilo já era motivo de doce alegria para aqueles espíritos tão acostumados com as coisas do plano físico. O destino era para determinada escola onde se encontram jovens que já cumpriram todas as suas etapas reencarnatórias e se preparavam para novos estágios.

Fomos recebidos num pátio de exuberante beleza vegetal. Difícil descreve-lo. Um coral de meninos e meninas na faixa dos onze anos aproximados nos recebeu com melodias suaves que calaram os alaridos da nossa equipe de viagem. Tranquilizou-nos de tal maneira que, dali para frente, não se ouviu mais ruídos, risos, falas atropeladas e todos se portaram como verdadeiros cientistas num laboratório de excepcional grandeza. Um salão amplo e ricamente adornado com feixes luminosos serviu-nos de aconchego para a preleção que ouviríamos. Os bancos eram muito confortáveis e neles nos acomodamos. Os meninos ficaram à esquerda e as meninas a direita. Uma divisão que me lembrou os velhos templos religiosos das nossas romagens anteriores. Ninguém disse uma palavra, apenas obedecemos a ordem que nos foi dada. O salão era envolvido por uma aura de beleza e serenidade que nos sentimos no próprio céu.

– Irmãos amados, com alegria os recebo em nossa escola preparatória. Sim, para seguir a diante, sempre temos que nos preparar. Cada vitória conquistada demanda outra etapa. Aqui estamos num curso intensivo para as esferas mais elevadas da Terra e para excursões de aprendizagem a outros mundos simétricos ao nosso no tocante aos planos da evolução.

Aquela voz meiga e terna vinha de uma senhora tão simples quanto o seu falar. Em dado momento, uma das paredes se abriu e vimos lá embaixo, flutuando no éter, nossa abençoada escola terrena. Estava linda, de um azul que fez muitos de nós derramar vastas lágrimas de emoção. E nossa interlocutora continuou:

– Lá está a nossa escola milenária. Todos ainda pertencemos a ela pelos laços de afinidade e gratidão. Muitos aqui estão a vários milênios, outros nem tanto. Mas somos beneficiários das suas benesses. Quantos lares nos acolheram? Quantas mãos nos afagaram? Quantas promessas fizemos? Quantas civilizações foram estabelecidas pelos poderes diretores da Terra para que formatássemos nossos espíritos em busca da perfeição? Quando os astronautas visitam o lado externo da crosta terrestre nem imaginam o que de fato ela representa. As ciências mostram fotos e imagens de um globo girando solitário no meio do nada. Avançando um pouco em distância o que se vê é um minúsculo ponto e mais adiante, não se vê mais nada. Assim funciona o mecanismo da evolução, tudo é grande quando ainda somos pequenos e tudo se apequena à medida que nos tornamos grandes. Os pequenos pontos planetários que salpicam formosos nos planos do Universo nada mais são que a representação dos arquétipos consumados por aqueles que os habitou saindo deles sábios de todas as suas propostas. Tudo existe para nos guiar. O mundo de fora nada mais é que o estímulo que usamos para fazer crescer o mundo interno, embrião divino em processo de crescimento e libertação. Vocês retornarão ao plano físico deste planeta. Lá ficarão por algum tempo e depois retornarão. Naquele momento irão aferir seus crescimentos. Se necessitarem, retornam. Caso contrário voam para mais alto como voaram aqueles que se encontram conosco. Voltarão a reencarnar? Sim. Se não for neste mundo será em outro mais adiantado. Vivemos no Universo da evolução e, nele, a energia ainda se condensa formando a matéria, a matéria é o objeto de operação do espírito enquanto aprende, enquanto deixa de ser semente, enquanto desperta para sua natureza divina. Quando se está encarnado, pode-se até ouvir e saber disso, mas, daqui a apreensão do que se ouve, torna fato real. É isso que os encarnados necessitam fazer, tornar real e seu o que aprendem através dos compêndios da espiritualidade superior.

Lá embaixo, a Terra girava confortavelmente. Era lindo de ver. Ficaria naquela janela um tempo infinito. Os jovens embevecidos ouviam a palestrante. No fundo ela os convidava a encarar com sobriedade o processo dos renascimentos. A não brincar com coisa tão séria. Aquela visão da Terra girando de repente nos tornava fortemente impressionados com o sistema. Quantas vezes reclamamos da vida, das coisas que nos rodeiam, dos afazeres que nos competem, das dificuldades que enfrentamos. Quantas vezes fugimos através das fobias, das depressões, das mágoas, das escapadelas ao dever a ser cumprido...

Só quem estava ali como nós, poderia sentir o tamanho da responsabilidade que pesa em nossos ombros. Quantas mentes iluminadas pelo amor e pelo saber comandam nosso sistema planetário. Que Espírito deve ser Jesus? Qual o tamanho da Sua evolução, da Sua renúncia, da Sua humildade, do Seu amor e sabedoria? Vendo a Terra girar estes pensamentos invadiram minha alma. Alguém confia em mim. Fui criado por uma razão, participo de uma sinfonia que estou infinitamente distante de compreender seus acordes, mas faço parte dessa sinfonia e preciso tomar ciência disso. Nossa interlocutora continuava suas informações:

– Desta forma irmãos queridos vamos caminhando neste rolar grandioso das esferas. Oitenta anos encarnados no planeta é leve fração de um instante dentro da imensidade do que verdadeiramente somos. Cumpram com galhardia a nova proposta que terão. Desnecessário se preocuparem com a casa, o alimento, o vestuário ou os passeios. Mesmo aqueles que pouco possuem e, mais ainda, mesmo aqueles que não podem frequentar nenhuma escola formal da crosta, são alunos internos da escola maior da espiritualidade. Sim, somos impregnados a todo instante pelas lições sublimes da natureza. Muitas vezes renascemos no campo para aprender com as flores e os frutos, verduras e legumes o sabor essencial de cumprir com amor o nosso papel na Criação. Se não tiverem um travesseiro, um cobertor, um amor reencontrado, olhem para o firmamento e sentirão agasalhados e amados pela infinita bondade de Deus. E não deixem que as torturas diárias tirem isso de vocês.

Aquela nobre senhora falou por mais algum tempo e depois nos apresentou os jovens que ali faziam seus estágios. Em todos eles notava-se a serenidade e o sorriso responsável. Cada qual emitia feixes de luzes, cada qual perfumava o ambiente com o aroma característico de suas presenças. Disseram aos nossos jovens palavras de ânimo e uma delas, aparentando quinze anos, contou sua trajetória ocorrida na França do século XVIII. Quanta renúncia! Quanta dedicação aos inválidos! Quanto Jesus em seu coração! E ali recebia o troféu do seu trabalho. Quantos pessimistas ficariam envergonhados se vissem o que estávamos vendo. Quantos guerreiros embainhariam suas espadas. Quantos vaidosos se curvariam perante suas debilidades, quantos orgulhosos derramariam lágrimas de arrependimento, quantos egoístas se jogariam no chão e o beijaria com fervor.

Nossa excursão terminou. Nossos jovens voltaram diferentes. Notava-se a alegria entre eles. Notava a felicidade estampada em seus rostos e notava-se também o teor da responsabilidade que começaram a cultivar no trato com a vida e a reencarnação. Alguns já renasceram. São hoje crianças, adolescentes ou fetos aguardando o seu momento de deixar o útero materno. Acredito que serão luzes a brilhar e iluminar os caminhos ainda obscuros do homem e serão vitoriosos e serão levados ao departamento que nos recebeu e nos impressionou. Quem vai até lá vê a luz e quem vê a luz jamais se coaduna com as trevas. Busque a luz e siga-a, este foi o lema escolhido por aqueles jovens a partir daquele passeio memorável e inesquecível para todos nós.






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“Reencarnação é meio de progresso, serve à depuração do Espírito e, consequentemente, ao seu aperfeiçoamento.”.


Carlos Imbassahy

À Margem do Espiritismo, FEB, 2002 – Cap. O Problema da Salvação e do Pecado






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