Espiritismo Experimental
Guaraci de Lima Silveira
No dia 15 de janeiro de 1861, em Paris, foi lançada a primeira edição de O Livro dos Médiuns, portanto fazem 160 anos esse evento. Na oportunidade Allan Kardec entregava para a humanidade um guia prático dos médiuns e dos evocadores, como ele colocou no frontispício da Obra. Qual é a importância daquele ato? Esta é a pergunta cuja resposta desenrola uma série de informações. Vejamos: a mediunidade sempre foi praticada no mundo, desde tempos imemoriais. Contudo, poucos sabiam de suas profundidades e consequências. Daí que a utilizavam sem o menor cuidado, fazendo dela, em muitos casos, um intercâmbio entre encarnados e desencarnados de categorias inferiores, tornando o fato mediúnico às vezes assustador e proibido em muitas ocasiões e eras.
Contudo, a mediunidade faz parte das Leis Divinas e, portanto, deve e necessita ser praticada, seguindo padrões que consolidem seus benefícios para todos. Ao lermos o livro de Daniel fica fácil entendermos a prática mediúnica daquele profeta. No exílio babilônico ele conversava com Espíritos de alta hierarquia como Gabriel, dentre outros. De forma que a Bíblia, com todos os seus fundamentos, é a revelação mediúnica por excelência. Porém, coube ao Espiritismo, a partir do século XIX organizar e lançar o compêndio que instrui corretamente sobre a prática mediúnica.
Desta forma, O Livro dos Médiuns traduz a vontade de Jesus de estabelecer entre os homens o intercâmbio entre todos, independente se encarnados ou desencarnados. A mediunidade consciente é, em essência, os albores das conversações psíquicas existentes entre Espíritos Superiores, para uma troca eficaz de informações úteis e sadias. Isso porque é natural em cada um e cada um se elevará dentro da sua evolução. Ninguém pode fugir dela, assim como não se pode fugir da imortalidade, reencarnação, pluralidade dos mundos habitados e Deus, como Inteligência Suprema e Causa Primária de todas as Coisas. Estes ensinamentos proporciona-nos a entrada em definitivo da maioridade espiritual.
Na Revista Espírita de fevereiro de 1861, Allan Kardec coloca: “Conquanto só recentemente publicado, “O Livro dos Médiuns” já provocou em várias localidades o desejo de formar reuniões espíritas íntimas, como nós aconselhamos”. Faltava uma publicação como esta para dar certeza e oferecer consistências ao intercâmbio mediúnico, até então feito sem um conhecimento maior. Allan Kardec ainda coloca na Revista Espírita de fevereiro de 1861: “Um médium, sobretudo um bom médium, é incontestavelmente um dos elementos essenciais em toda reunião que se ocupa de Espiritismo”. O Livro dos Médiuns trata da formação desse bom médium para que as reuniões possam acontecer num clima de paz tornando-a boa e instrutiva.
De lá até esta data os Centros Espíritas primam por suas reuniões mediúnicas, atendendo aos Espíritos desencarnados que necessitam orientação e ajudas outras. Imaginamos o quanto de utilidade já foram exercidos naqueles trabalhos. A dor que existe entre os desencarnados que não possuem nenhuma orientação do pós-desencarne ou que ainda se vinculam aos desterros morais e às agressivas vinganças, necessitam da conversa fraterna que acalmem seus corações. Este trabalho o Espiritismo vem fazendo desde muito tempo, com abnegação e respeito. Tudo, graças aos conhecimentos expostos no Livro dos Médiuns.
Ruídos, pancadas, utensílios que se movem, casas mal assombradas dentre tantas histórias que ilustram o cardápio do medo e do pânico, foram resolvidos através dos conhecimentos colocados por Allan Kardec, naquela Obra ímpar. Animismo, mediunismo, mediunidade. Quantas palavras iguais e diferentes nas aplicações. Os médiuns das eras findas se perdiam nelas e muitos tornavam-se estranhos agindo como bruxos ou bruxas, de expressões assustadoras. A palavra bruxo muitas vezes denota a prática de bruxaria ou feitiçaria e noutras corresponde a pessoa de extrema competência no desempenho de alguma atividade, de forma que não se sabia direito o que era ser um bruxo.
Mas, com o advento do Livro dos Médiuns tudo ficou esclarecido, pois que fala e define os médiuns, suas várias formar de exercer a mediunidade e suas escolhas nessa prática. Certamente que médiuns existem que não se preocupam com os esclarecimentos do intercâmbio e/ou podem se tornar presa dos Espíritos inferiores pelos múltiplos processos da obsessão. Mas, existem os médiuns conscientes que praticam a mediunidade dentro dos critérios exigidos para a sua melhor prática. “A mediunidade independe da moral do médium”, afirma Allan Kardec. Isto passa a ser fundamental dentro dos estudos sobre mediunidade. Daí que é necessário saber do mediador das comunicações.
Desta forma, o Espiritismo orienta e se salvaguarda das informações ou práticas infelizes de médiuns que atuam por conta própria e fora dos contextos doutrinários. Vejamos ainda a Revista Espírita de fevereiro de 1861 “Para começar, diremos que se os médiuns são comuns, os bons médiuns, na verdadeira acepção da palavra, são raros” Allan Kardec dá essa informação aos detratores do Espiritismo, cremos nós e ainda para aqueles que desejam praticar sinceramente a mediunidade, com conhecimento de causa. Ele fala das reuniões sérias e frívolas, muitas vezes realizadas apenas para satisfazer a curiosidade. Naquelas reuniões, os Espíritos levianos e brincalhões se fartam de divertir.
Na estrutura de O Livro dos Médiuns, vemos nos seus primeiros capítulos, a vocação do Codificador para expressões sérias, como não poderia deixar de ser. Vejamos:
Capítulo 1 – Há Espíritos? Gostaria de destacar aqui o início do terceiro parágrafo: “Seja qual for a ideia que dos Espíritos se faça, a crença neles necessariamente se funda na existência de um princípio inteligente fora da matéria”.Albert Einstein proclamou: “O Universo é o pensamento divino materializado”. Ou seja: fora da matéria há seres pensantes e criadores, organizadores e mantenedores. São, pois, eles, os Espíritos. Então, há Espíritos.
Capítulo 2 – Do Maravilhoso e do Sobrenatural. Destacamos no primeiro parágrafo: “Mas, que entendeis por maravilhoso? – O que é sobrenatural? – O que é contrário às Leis da Natureza. Conheceis, porventura, tão bem essas Lei8s que possais marcar um limite ao poder de Deus”? Segundo a teoria das cordas estudadas na física quântica O universo é um holograma gigantesco. Stephen Hawking chega a dizer que as dimensões do Universo chegam a números infinitos, onde a realidade física a três dimensões, pode ser reduzida a projeções bidimensionais. Ou seja: quase nada sabemos sobre o todo e não podemos taxar tudo isso de maravilhoso e sobrenatural e sim buscarmos os estudos e as pesquisas como faz a ciência, antes de emitirmos um parecer pueril.
Capítulo 3 – Do Método. Destacamos o início do segundo parágrafo: “Dissemos que o Espiritismo é toda uma ciência, toda uma filosofia. Quem, pois, seriamente queira conhece-lo deve, como primeira condição, dispor-se a um estudo sério, e, persuadir-se de que ele não pode, como nenhuma outra ciência, ser aprendido, a brincar”. “A ciência é especial. É a melhor forma que temos de descobrir coisas sobre o mundo e tudo o que faz parte dele – e isso nos inclui.” Afirma Willian Bynum – professor emérito de Medicina e História da University College Londom, estabelecida em Londres na Inglaterra. Eis, o método kardequiano de estabelecer propostas conceituais.
Capítulo 4 – Dos Sistemas – Destacamos o início do terceiro parágrafo: “Segundo metódica ordem, para acompanhar a marcha progressiva das ideias, convém sejam colocados na primeira linha dos sistemas os que se podem classificar como sistemas de negação, isto é, a dos adversários do Espiritismo”. “Ciência, magia, religião e tecnologia foram usadas pelas primeiras sociedades humanas que se assentaram em vales fluviais na Índia, na China e no Oriente Médio”, diz ainda William Bynum em seu livro “Uma Breve História da Ciência. A Fase era, pois, magia, religião ou tecnologia. Observamos aqui que toda a ciência partiu da dúvida. A mediunidade, por ser ciência, estava incluída nessas dúvidas. Por isso Allan Kardec colocou como base primordial os métodos da prática mediúnica, destacando possíveis fraudes, de modo a dizer que o estudo da mediunidade é sério e necessário, uma vez que instrui o homem para sua prática consistente.
Fazem, pois, 160 anos que a humanidade recebeu o Livro dos Médiuns. Foi em janeiro de 1861. O bem que já causou aos que deles se beneficiaram, irá se multiplicar infinitamente quando toda a humanidade entender que é necessário capacitar-se para o sentido da percepção que a mediunidade promove. Nos tempos vindouros este livro será buscado e estudado por mentes lúcidas que desejem de fato conhecer para opinar com soberania.
Agradecemos a Allan Kardec por mais esta Obra ímpar.Que como ele mesmo classificou: “Ensino especial dos Espíritos sobre a teoria de todos os gêneros de manifestações, os meios de comunicação com o mundo invisível, o desenvolvimento da mediunidade, as dificuldades e os tropeços que se podem encontrar na prática do Espiritismo constituindo o segmento de O Livro dos Espíritos”.
Comentários