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Parte 3 - Capítulo 4: "O homem velho"

TERCEIRA PARTE

A Cidade Universitária


CAPÍTULO IV

O homem velho


Voltaram à Terra muitas vezes desde 1906, permanecendo por curtos períodos a trabalho. Era muito útil o uso nos irmãos encarnados dos conhecimentos adquiridos nos trabalhos da espiritualidade. Sob cuidados de Aníbal de Silas, assistência prática de Souria-Omar e direção de Teócrito, serviram nos postos de emergência da Colônia e no Hospital Maria de Nazaré; integraram caravanas de socorros a infelizes suicidas; seguiram no rastro de seus mestres, aprendendo com eles a caça a chefes temíveis de falanges perseguidoras de mortais; visitaram reuniões organizadas por discípulos de Kardec; acudiram sofredores alheios ao espiritismo e carentes de socorro. Por onde existiam lágrimas a enxugar e corações exaustos a reanimar, Aníbal os levava a fim de nos guiá-los aos ensinamentos do Mestre.


Suas atividades se multiplicaram durante muitos anos nos diferentes setores da Caridade; com aflições do contato com as angústias alheias, mas também com consolações sentidas após o consolo e acalanto de um sofredor.


A cada lição do Evangelho, a cada exemplo apreciado do Mestre, seguiam-se seus testemunhos assim como análises de temas que deveriam desenvolver e apresentar a uma junta examinadora, que verificaria seu aproveitamento e compreensão da matéria.


Frequentemente produziam peças sobre temas elevados e inspirados no Evangelho, na Moral como na Ciência, romances, poemas, noticiários, etc., etc. Uma vez aprovados, estes trabalhos poderiam ser ditados por nós ou revelados aos homens, através da mediunidade. Se reprovados, repetiam a experiência, como numa escola mesmo.


Os dias consagrados a essas “provas” eram festivos. Alguns se esforçavam-se na decoração dos ambientes, enquanto os másteres de nossa Colônia, como Teócrito, Ramiro de Guzman e Aníbal de Silas se revelavam como artistas com dons superiores na literatura, na música e na oratória descritiva, isto é, exposição mental, através de imagens, das produções próprias.


Caravanas fraternas desciam de outras esferas vizinhas e vinham emprestar brilho artístico e confortativo ao evento. Nomes por quem na Terra se tem respeito e admiração, como Victor Hugo e Fréderic Chopin, exprimiam a magia dos seus pensamentos, aumentados pelo longo tempo na Espiritualidade. Os alunos tiveram a oportunidade de ouvir o grande compositor que viveu na Terra mais de uma experiência carnal, traduzir sua música em imagens e narrações, enquanto Hugo mostrava a realidade mental de suas criações literárias: seu pensamento era vivificado e concretizado de forma a poderem conhecer as nuances das suas vibrações emotivas. O espírito de Victor Hugo também ia para a Terra há séculos, e sempre deixando um rastro luminoso de cultura superior e de Arte. Seu Espírito, em tempos diferentes, tem sido venerado por muitas gerações.


Quanto a Chopin – alma insatisfeita, que somente agora compreendeu como expandir a música, transportando-a da magia dos sons para a expressão real – deu aos estudantes o dramático relato das suas migrações terrenas, uma delas anterior mesmo ao advento de Cristo, mas já a serviço da Arte, como poeta inesquecível, que viveu em plena Roma dos Césares!


Como exercício, os aprendizes deveriam traduzir suas criações mentais em imagens e cenas, como faziam os mentores. Seria para eles um como estímulo ao trabalho mediúnico a que se comprometeram ao reencarnar, instrução inerente ao programa da reeducação. Não contavam, porém, com o pouco desejo existente no coração dos médiuns de se atirarem aos ideais cristãos. Ainda avessos aos estudos e por vezes desarmonizados, correm o risco de traduzir efeitos mentais, conceitos pessoais, achando que interpretam o pensamento dos Espíritos, quando na verdade nada fizeram.


Os médiuns, infelizmente dificultam a ação dos Espíritos instrutores do planeta, porque muitos aparelhos mediúnicos excelentes resvalam para o ostracismo e a improdutividade, enquanto se acumula o serviço por falta de bons obreiros do plano terreno.


Dois acontecimentos importantes vieram modificar uma situação num espaço de dois anos. Um foi daqueles dias festivos franqueados às visitações, em que os internos receberiam visitas dos seus "mortos" queridos, isto é, membros da família, entes caros já desencarnados. O grupo achava que seria um benefício concedido aos mais antigos, mas não. As damas foram aos parques para a grande recepção e habilidosamente criaram lindos recantos, que remetiam a recordações queridas da infância e juventude, oferecendo posteriormente aos alunos para que recebessem seus entes.


Camilo encontrou no cenário da casa onde nasceu, entre outros parentes e amigos, sua mãe querida, a qual infância vira morrer na infância e sua esposa, a quem a morte tirou de um casamento feliz.


Recebeu carinhosas advertências, conselhos preciosos, testemunhos de afeto, reparando que não julgavam seu suicídio. E as recebeu como se estivessem em seu antigo lar terreno, os mesmos móveis, a mesma decoração interna, a mesma disposição do ambiente, tudo havia sido preparado para que se perpetuassem as impressões dos laços de família!


Eles mesmos, sem saber, forneciam elementos para que tudo fosse feito assim. Os mestres, examinando seus pensamentos e impressões, descobriam o que fazer a fim de que a reprodução fosse a mais consoladora possível, porque necessitariam de toda a serenidade e placidez mental possível, para que aproveitassem a aprendizagem.


Para maior surpresa, seus entes acrescentaram que nada podiam fazer pela situação que criaram com o suicídio. Camilo derramou muitas lágrimas, envergonhado, no seio compassivo de sua mãe, cujos conselhos salutares reanimaram as forças, trazendo esperança.


E, finalmente, Belarmino de Queiroz e Sousa pôde encontrar sua mãe, a quem amara com toda as forças do seu coração, recebendo sua visita inesperada e sabendo que dor profunda e inconsolável a atingiu com o suicídio, afetando sua saúde, o que a fez sucumbir meio ano depois, sem se resignar por perdê-lo. Grande decepção teve ao desencarnar e perceber que, ao invés do esquecimento, se deparava com a vida após a morte; sem quaisquer capacidades mentais e espirituais de ir para as regiões felizes ou consoladoras do Invisível.



Procurou o filho pelas regiões sombrias por onde passava, acometida por confusões, e dolorosos efeitos do orgulho, arrependimento, e por haver renegado o amor a Deus em prol da Ciência Materialista. Pesava-lhe na consciência o desastre do filho, porque foi ela, mãe descrente de Deus, imprevidente, orgulhosa e com aspirações mundanas, que modelou o seu caráter.

Mas, após grande da dor educadora, trabalhou, lutou, sofreu resignadamente no Espaço durante vários anos, suplicou, sinceramente convertida à ideia de Deus e suas Leis, e recebeu concessão para rever o filho. O encontro foi em um saudoso ambiente: a velha biblioteca da mansão dos de Queiroz e Sousa, como na infância...


O segundo acontecimento que, dois anos mais tarde marcou Camilo, foi a ciência que teve de si mesmo, buscando a memória das encarnações passadas que estavam adormecidas há muito tempo. Vasculhar o passado assim dói, mas Epaminondas, seguiu, emanando vibrações mentais que ajudavam no processo.


Camilo, que já foi muito pobre, para fugir à cegueira, que considerou algo insuportável, foi precipitado em tentar fugir da vida. Delicadamente os assistentes o prepararam, como um réu perante o tribunal da Consciência, através do que ele próprio deixou registrado nos arquivos vibratórios através de cada uma das ações que andou praticando durante o existir de Espírito, encarnado ou não.


Os mestres rodearam Camilo, desferindo poderosos recursos fluídicos, para auxiliar, como se fossem médicos que operassem sua alma, desvelaram sua anatomia para que ele mesmo a examinasse e descobrisse a origem dos males que o perseguiam, sem acusar mais a Providência. A angústia e pavor acovardaram-no e ele quis resistir.


Epaminondas o apoiou e Camilo conformou-se, invocando intimamente o auxílio maternal de Maria de Nazaré, a quem ele aprendeu a venerar desde que entrou no caridoso Instituto.


O mestre e sua equipe de seus auxiliares acercarem-se dele e o envolveram em jatos de luz, que lhe tontearam-me o cérebro como se do seu "eu" saíssem repercussões excepcionais a se reanimarem em sua presença, toda a longa série de vidas planetárias que ele tivera no uso da responsabilidade e do livre-arbítrio! Teve a impressão extraordinária e de se achar diante do seu próprio "eu" - ou do seu duplo -, como se estivesse à frente de um espelho assistindo o que em sua própria memória ia passando! A palavra irresistível do instrutor repercutiu em Camilo, já apaziguado pela vontade de obedecer, e invadiu sua Consciência, inundando região indefensa.


Lentamente, sentiu-se envolver um entorpecimento e sombras espessas, como nuvens circundavam seu rosto. Seu pensamento afastou-se de tudo e já não reconhecia nada nem ninguém... Todavia, não adormeceu. Continuava lúcido e raciocinava, embora retrocedesse na escala das recordações acumuladas durante os séculos. Perdeu a lembrança do presente e mergulhou a consciência no passado. Sentiu-se vivendo no ano trinta e três da era cristã! na velha cidade santa dos judeus – Jerusalém. Era dia do Calvário e sabia-se que um certo revolucionário, por nome Jesus de Nazaré, fora condenado à morte na cruz pelas autoridades de César, com mais dois outros réus.


Era miserável, pobre e mau. Devia favores a muitos judeus. Comia sobras de suas mesas. Vestia-se dos trapos que lhes davam. Correu ao Pretório e lá, ovacionou Barrabás e pediu a execução de Jesus, pois o aprazia assistir a tragédias, embebedar-se no sangue alheio, contemplar a desgraça dos indefesos e inocentes. E não poderia deixar de assistir Jesus, galgando pacientemente a encosta pedregosa sob o Sol, cruz aos ombros, atingido pelos açoites dos rudes soldados de Roma contrariados ante o dever de se exporem a subida tão árdua em pleno calor do meio-dia...


Camilo, revendo-se nesse passado, teve sua Consciência acusando-o violentamente. Pavor e agonia pelo remorso o fizeram gritar enlouquecido, um grito que ecoava por todos os recôncavos do seu Espírito.


Feroz, acompanhou Jesus em sua jornada dolorosa e só não o agrediu a pedradas ou mesmo à força, por ser severo o policiamento em torno dele. É que ele se sentia inferior e mesquinho, nutria inveja e ódio a tudo o que considerasse superior a ele! Desrespeitou com difamações e sarcasmos a sua Mãe sofredora e humilde, a mesma Maria, piedosa e consoladora, que agora o acolhia maternalmente. Continuou o abominável papel de algoz denunciando cristãos ao Sinédrio, perseguindo, espionando, flagelando; apedrejando Estevão.


Camilo seguiu, arrastando-se nas reencarnações que se sucederam através dos séculos... pertencia às trevas... e durante o intervalo de uma existência a outra, o aprazia permanecer nas inferiores camadas da animalidade! Recebia vários para os trabalhos de regeneração, mas fazia-se de surdo, e nem mesmo chegava a perceber com a devida clareza a diferença existente entre a encarnação e a estada no Invisível, pois o seu modo de ser era sempre o mesmo: a animalidade.


Hoje sabe que a lei do Progresso o impele para novas possibilidades em corpos carnais, fazendo-o renascer como homem a fim de que os choques da expiação e as lutas e sofrimentos inevitáveis na Terra, desenvolvendo lentamente as potências da sua alma, embrutecida pela inferioridade. Na época, no entanto, ele nada disso percebia,


A ideia da regeneração começou a se insinuar para ele através do tempo, e aceitou-a, pois, procurava recursos para solucionar as adversidades do destino, através dos séculos, e essa doutrina cristã que, segundo afirmavam, concedia tantos benefícios para quem seguia.


O que ele não podia compreender, porém, era o alto alcance moral e filosófico... e por isso esperava da Grande Doutrina apenas vantagens pessoais, poderes misteriosos ou supersticiosos. Ouvindo referências ao Mestre Jesus, alucinou-o e incômodas repercussões vibraram em seu íntimo, enquanto corrente hostil se estabelecia em sua consciência.


A primeira metade do século XVII surpreendeu Camilo em confusões deploráveis, na obscuridade de um cárcere terreno trevoso. Que abomináveis razões o haveria dado à lei de atração para que seu estado mental e consciencial se afinasse apenas com as trevas? Convém entender melhor seu passado.


--- Fim ---

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